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Yamandú Orsi (Foto: Reprodução / X)

Uruguai: Yamandú Orsi se conectou com povo, na contramão de “outsiders” e do espetáculo político

Novo presidente do Uruguai, Yamandú Orsi soube enfrentar os ataques da extrema-direita e apostou na defesa de um projeto de unidade nacional
Nicolás Centurión
CLAE / Centro Latino-Americano de Análise Estratégica
Montevidéu

Tradução:

Guilherme Ribeiro

No último domingo (24), Yamandú Orsi foi eleito novo presidente do Uruguai. Foi uma vitória da Frente Ampla, de centro-esquerda. Triunfou com 49,8% dos votos contra a chapa governista de Álvaro Delgado e Valeria Ripoll, que obteve cerca de 45,9%. 4,2% dos votos foram em branco ou nulos. Será o quarto governo da Frente Ampla em sua história, agora com Orsi como presidente e Carolina Cosse como vice-presidenta.

A diferença de votos foi de aproximadamente 90 mil votos, muito superior aos 35 mil registrados na última eleição, quando Lacalle Pou e Daniel Martínez se enfrentaram.

A Frente Ampla venceu amplamente na capital, Montevidéu, um de seus principais redutos e onde governa há 35 anos. Também triunfou em Canelones, terra natal do presidente eleito e onde foi prefeito por duas vezes. Além disso, venceu em Paysandú, Salto, San José e Río Negro.

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Mais de quarenta pesquisas apontavam Yamandú Orsi como vencedor. Apesar disso, a narrativa sustentada por parte dos grandes meios de comunicação, que inclusive divulgavam essas pesquisas, insistia em um cenário de grande equilíbrio. A realidade mostrou-se diferente mais uma vez, com uma diferença de quatro pontos percentuais.

Yamandú Orsi

Em tempos de “outsiders”, políticos em busca de espetáculo, em um mundo que caminha para a extrema-direita, onde teóricos da conspiração se tornam gurus da verdade e a confrontação gratuita é o pão de cada dia, Yamandú Ramón Antonio Orsi soube superar inúmeros ataques.

Um homem da política, que subiu degrau por degrau na profissão para poder alcançar a mais alta posição. Professor de história, oriundo do departamento de Canelones, soube conectar-se tanto com o Uruguai urbano quanto com o rural, pregando a unidade nacional.

Pode ser a imagem de uma multidão e fogos de artifício

Vale destacar que 2019 foi um divisor de águas em sua trajetória política, quando liderou a campanha no segundo turno de novembro daquele ano. Naquele contexto, conseguiu reduzir quase 10 pontos percentuais de diferença frente à oposição recém-formada da Coalizão Multicolor.

Após o segundo turno, decidiu disputar a reeleição em Canelones. Obteve 180.200 votos (51%), o que significou para a Frente Ampla um crescimento em relação aos 158 mil de 2015. “É hora de mudar, de abandonar a lógica da campanha permanente e focar em trabalhar, alguns governando e outros fazendo oposição”, afirmou na noite de sua vitória como prefeito eleito.

A partir daí, sua visão abrangeu plenamente os tópicos da política nacional. O caminho estava traçado para sua candidatura, mas não sem obstáculos.

Inventaram uma falsa acusação de abuso sexual durante a campanha, acusaram-no de jogo sujo, recriaram sua imagem com inteligência artificial em um programa de TV mesmo contra sua vontade, enviaram operadores estrangeiros como Javier Negre e Fernando Cerimedo para tumultuar o processo e tentar fazê-lo cair em uma armadilha. Inclusive, até na última semana antes da eleição, um operador local tentou provocá-lo… sem sucesso.

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Repercussões

Os rostos no comitê da Coalizão Multicolor eram reflexos do resultado e das expectativas frustradas. Muitos dirigentes chegaram no local sem falar com a imprensa e saíram da mesma forma. Andrés Ojeda, ex-candidato à presidência pelo Partido Colorado, ao sair fez declarações em tom coalicionista — a única coisa que resta de seu discurso e a única promessa que pode fazer, pois sua existência depende da própria coalizão.

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O senador eleito pelo Partido Nacional, Sebastián Da Silva, um dos “cães de ataque” do governo, saiu sem declarações, dizendo apenas que não queria ser a “cara da derrota”.

Por sua vez, Guido Manini Ríos, líder do Cabildo Abierto, partido de extrema-direita e o mais dissidente da coalizão, declarou: “Não faz sentido uma coalizão que existe apenas para se opor a algo. Cada um tem sua própria visão sobre os diversos temas”. E acrescento: “Liguei para Orsi para felicitá-lo. Temos que fazer uma autocrítica”.

A coalizão de direita não conseguiu se manter no governo e espera-se que se reorganize para as próximas eleições municipais. Há sempre várias razões para uma derrota e ninguém quer se responsabilizar por ela, mas um ponto de partida é a administração do governo, responsável por levar 95% das famílias uruguaias a perda de poder aquisitivo. Há também a crescente insegurança, a violência e o narcotráfico, escândalos de corrupção e acobertamento.

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Álvaro Delgado e Valeria Ripoll

A isso vale somar a péssima escolha para a vice-presidência. Valeria Ripoll caiu de paraquedas no Partido Nacional e sua nomeação precisou ser defendida ao longo de um mês por Álvaro Delgado após ser vaiada por seus próprios correligionários na noite de sua indicação.

Outro fator é a falta de carisma de Álvaro Delgado. Confiou-se demais na ideia de que a boa imagem pública do atual presidente, Luis Lacalle Pou, e o êxito alcançado em 2019 seriam transferidos quase automaticamente para Delgado. Isso não aconteceu.

Que tipo de Coalizão podemos esperar? Uma mais confrontativa ou mais aberta ao diálogo? Buscará uma estratégia mais ofensiva e agressiva, imitando as direitas radicais da região e do mundo, ou a planície levemente ondulada uruguaia triunfará ao final do dia?

Futuro

“Não temos margem para erro”, disse de maneira assertiva Juan Castillo, dirigente do Partido Comunista, minutos após a divulgação dos resultados. Uma frase da qual deve se lembrar cada dirigente, funcionário e líder da Frente Ampla nos próximos cinco anos. A esperança é grande, mas a sociedade está cada vez mais polarizada.

Os apoiadores estarão vigilantes e os adversários atentos a cada deslize. Resta saber como será formado o gabinete e quais serão as prioridades do futuro governo.

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O Uruguai terá um presidente oriundo da classe trabalhadora, professor de história, que envia seus filhos a escolas públicas. O país precisava de um presidente mais parecido com seu povo.

Espera-se um governo digno, voltado para os pobres, trabalhadores, os mais humildes e necessitados. Espera-se um mandato da Frente Ampla melhor que os três governos anteriores, que corrija os erros dos mesmos, que olhe para o futuro e se atreva a fazer mais, enquanto reconstrói o que Lacalle e companhia retiraram da classe trabalhadora.

Os de baixo venceram.

* Tradução feita com apoio de IA.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Nicolás Centurión Psicólogo pela Universidade da República, Uruguai. Membro da Rede Internacional de Cátedras, Instituições e Personalidades sobre o Estudo da Dívida Pública (RICDP). Analista associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE, estrategia.la).

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