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Depois do que aconteceu no Brasil, a destituição ilegal da presidenta Dilma Rousseff, no ano passado, utilizando todo tipo de argúcias, era de pensar já ter visto tudo quanto estão dispostos a fazer os setores conservadores e retrógrados para recuperar um espaço de poder. Poder que perderam para governos que sem mudar o sistema, apenas pretenderam uma redistribuição mais equitativa da renda para dignificar parte dos excluídos, invisíveis nos discursos pela modernidade.
Sérgio Rodríguez Gelfenstein*
Contudo, os últimos acontecimentos na Venezuela derrubam qualquer estimativa sobre a capacidade dos setores oligárquicos de manter a democracia. Fica claro que esse sistema só é válido enquanto serve para eles acumularem riquezas, espoliar recursos e avassalar indiscriminadamente aqueles que se lhes opõem.
Um olhar aos fatos recentes mostra que o lixo propagandístico e a falsidade midiática são de fazer com que Goebbels pareça um bebê de peito, tantas barbaridades fazem para enganar a opinião pública. Incrível como transformaram isso em algo normal. Presidentes, ministros, parlamentares e, claro, as transnacionais da comunicação mentem impunemente. Publicam fotos manipuladas que para o imaginário da cidadania passam por verdades, e não aceitam publicar a verdade, como fez El País, de Espanha.
Outro fato similar ocorreu com o jornal La Tercera, do principal grupo de comunicação do Chile, que publicou uma suposta entrevista, que nunca foi feita, com o ex presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, mediador internacional do conflito venezuelano. Esse método está se tornando rotina. Lançam a notícia, sabendo ser falsa, depois se desculpam, mas, o mal já está feito. Foi pensado para ser assim.
Não é só isso que se vê na Venezuela. É do conhecimento que durante a vigência das ditaduras em Nossa América, sacerdotes e hierarcas católicos participaram de torturas, abençoaram torturadores e assassinos de nossos povos, sem que o Vaticano se manifestasse. Hoje a Igreja Católica venezuelana volta a essas práticas abençoando delitos terroristas, assassinatos de pessoas queimadas vivas, ou o ataque a centros de saúde. Desta vez, vale dizer, sem o consentimento do papa Francisco, mas apoiado pelo aparato do Vaticano. Talvez seja a primeira vez na história em que os bispos e a Conferência Episcopal de um país faz oposição aberta a um papa.
Em outro aspecto, ficou conhecida declaração do diretor da CIA, Mike Pompeo, em que revela ter mantido encontros com representantes dos governos da Colômbia e México para que cooperem nas ações para derrubar o presidente Maduro. Todo mundo conhece as diabruras da CIA na América Latina, mas esta é a primeira vez que um funcionário de tão alto escalão aceita abertamente que se propõem a derrubar um governo eleito democraticamente e que para isso vão utilizar outros países. Os governos dos presidentes Santos e Peña Nieto se apressaram a desmentir que estivessem participando de um complô , mas não desmentiram Pompeo e mantiveram lealdade com a potência imperial.
Também na Venezuela pela primeira vez ocorre o absurdo de se tentar paralisar o país, impedir o funcionamento do comércio e dos serviços.
No plano internacional, pela primeira vez um secretário geral da OEA, que não conseguiu utilizar seu cargo para aplicar a Cláusula Democrática contra Venezuela, foi ao Comitê de Assuntos Exteriores do Senado dos Estados Unidos solicitar que se aplique sanções econômicas contra o país. Também Felipe González desatou sua fúria contra Venezuela asseverando que “a mim, a única solução para Venezuela é que haja uma intervenção militar”.
Também nunca antes tinha ocorrido que um dirigente político de oposição, como o deputado Freddy Guevara, clama por um golpe de estado como o de Pinochet no Chile, que causou dezenas de milhares de torturados, mortos, desaparecidos ou asilados. Suponho que isso tenha causado estupor no país, apesar de que, sua elite e a própria presidenta, esquecendo de suas vítimas, estão apoiando o terrorismo na Venezuela.
Venezuela também foi o primeiro país na região que organizou e financiou um exército, sob o comando do libertador Simón Bolívar, atravessou fronteiras não para conquistar territórios, nem para roubar riquezas, mas para levar a independência e a liberdade aos povos irmãos, entregando esforço, sacrifício, suor e sangue nas batalhas. As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas são hoje herdeiras dessas tradições. Por isso cada oficial leva com orgulho em seu uniforme o estandarte que o identifica como “forjador de liberdades”.
A pátria de Bolívar foi também o primeiro país em que um golpe de Estado forjado por setor empresarial e a direita cavernaria, com militares servis às oligarquias, foi derrotado em 2002, pela mobilização massiva do povo em aliança com as forças armadas para recolocar no poder o presidente constitucional e comandante Hugo Chávez.
É bom refletir e recordar, a Venezuela está marcada pela história, tem um roteiro de ações voltadas à paz e a luz, e liquidará rapidamente tudo quanto se oriente à guerra e escuridão. É a condição natural deste povo alegre que não aceitará jamais a violência e o confronto como forma de fazer política, ainda que os poderes globais, e os governos neoliberais da região, particularmente os Estados Unidos não gostem.
Original de Barómetro Internacional