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Marisel Velásquez, candidata ao governo de Nova Esparta pelo PSUV, conversa com eleitores (Foto: PSUV / X)

Venezuela realiza eleições legislativas com eleitorado consciente e conspirações da oposição radical

O clima para a votação do próximo domingo (25) é amistoso e pacífico, mas o governo venezuelano está atento a possíveis ataques e ameaças a partir da Guiana e dos EUA

Irene León
La Jornada
Quito

Tradução:

Não se veem batalhões vigiando ou reprimindo ninguém, como acontece em outros países. Na Venezuela, os candidatos andam a pé, visitam casas, onde são recebidos como se fossem velhos conhecidos; cumprimentam com abraços e beijos, são chamados pelo nome. Aqueles que buscam a reeleição, muitas vezes são questionados sobre melhorias e, como o eleitorado é majoritariamente informado, exigem explicações fundamentadas.

São 6.500 candidaturas concorrendo às eleições regionais e legislativas que acontecerão no dia 25 de maio. A maioria é composta por jovens e mulheres, mas há de tudo, representando 54 organizações políticas e partidos; muitos de direita, enquanto a esquerda está reunida no Grande Polo Patriótico.

Em seus discursos, o povo valoriza a paz e celebra a consolidação da democracia participativa, pois há alguns anos cada comunidade decide as prioridades de obras e administra os orçamentos de forma participativa. Isso ocorre por meio de instâncias comunitárias e comunais, uma forma organizativa local que gera outro cenário de poder e tomada de decisões, em interação com os outros níveis de governo.

Segundo a candidata Blanca Eekhout: “São 25 anos do povo organizando a democracia direta, participativa e protagonista. Fazendo sua cartografia social, tomando decisões. Desde os comitês de terra urbana até se tornarem governo no território, nos conselhos comunais e nas comunas. É uma democracia à prova de tudo, que se realiza, se exerce e se desenvolve todos os dias por todos.”

Esse enfoque sobre democracia e poder é agora um tema central, pois no próximo período legislativo haverá mudanças constitucionais para ampliar as atribuições da estrutura comunal. Além disso, será executado o Plano das Sete Transformações, cuja formulação recebeu cerca de 2 milhões de propostas populares e condensa eixos-chave como a diversificação econômica.

Há muito em jogo, mas, desta vez — ao contrário das eleições presidenciais (24/07), que foram apresentadas como o grande acontecimento internacional — a informação é escassa, pois, como se aponta nas notícias disponíveis, a extrema-direita radical, responsável por ditar as diretrizes narrativas para a mídia corporativa internacional, não está participando. Sem ela, e sem suas campanhas de comunicação pomposas, a oposição perde relevância, diante do enfraquecimento da percepção de polarização — que é a chave da simulação criada por esse grupo.

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Assim, enquanto nas eleições presidenciais de 2024, com técnicas de guerra cognitiva e Astroturfing, foi promovido um roteiro com repercussão mundial, agora esse setor da direita convoca a abstenção. Isso pode significar que suas estratégias eleitorais, baseadas na banalização dos argumentos, polarização, incitação ao medo e promessa de redenção, não convencem como esperavam — ou, também, que figuras como sua líder, María Corina Machado, se tornaram sinônimo de caos e violência — cenários que o povo deseja deixar para trás.

Sabotar as eleições e chantagear o eleitorado

Mas essa extrema-direita radical não está inativa. Suas técnicas conspiratórias para impedir a realização das eleições estão sendo implementadas com outras táticas. Desta vez, vieram à tona os chamados “micronós”, com planos para atacar embaixadas, serviços públicos, personalidades e mais. Isso foi revelado por 38 mercenários, especialistas em explosivos e outros, capturados no dia 19 de maio pela Guarda Nacional Bolivariana.

Nesse grupo violento, há pessoas da máfia albanesa vindas do Equador, onde, nas recentes eleições, a venezuelafobia foi peça central da campanha da direita. Nesse contexto, vieram a público intenções intervencionistas — até mesmo por parte de atores privados — como o mercenário Erik Prince, dono da empresa Academi, que declarou: “Não preciso de nenhum governo para intervir na Venezuela”.

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Mas, às vésperas das eleições venezuelanas, também surgem movimentações militares da vizinha Guiana, que tenta impedir a votação na Guiana Esequiba. O chefe do Estado-Maior, Omar Khan, ameaçou dizendo que “todo venezuelano que participar das eleições regionais e parlamentares da Venezuela no Esequibo será preso e deportado”, deixando clara sua intenção de intervenção política em um país que não é o seu.

Na Guiana, que terá suas próprias eleições em dezembro, as posturas em relação à Venezuela são parte da agenda política cotidiana. Esse país, que acolhe a presença da corporação estadunidense ExxonMobil em territórios em disputa, comprometeu-se com terceiros — principalmente os Estados Unidos, cujo secretário de Estado, Marco Rubio, ao se referir à Venezuela, ameaçou: “Se atacarem a Guiana ou a ExxonMobil, será um dia muito ruim, uma semana muito ruim e não terminará bem.”

Assim, enquanto no plano local há uma mobilização eleitoral com expectativas de futuro, voltam a surgir duas fontes de desestabilização externa: a da oposição radical, que atua principalmente a partir de outros países, e a da ExxonMobil, com os EUA como guardiões de sua ambição de controlar não apenas os recursos, mas também um território rico em petróleo, gás, aquíferos, hidrogênio limpo e muito mais.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Irene León Socióloga equatoriana.

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