A América Latina é um continente rico. Ficamos sabendo disso quando os meios nos mostram a prosperidade dos mais poderosos e do modo manhosamente legalizado com que se apropriam daqueles recursos vitais – como a água, as terras e os minerais – para explorá-los e construir seus grandes impérios.
Tudo isso sustentado pela dependência econômica dos setores mais necessitados. Os governos, por sua parte, são seus aliados incondicionais ao haver-se apoderado dos centros de controle político graças a leis casuísticas nas quais não figuram limites ao financiamento de suas campanhas nem a manipulação da justiça. Escondidas na escuridão, as organizações criminosas se beneficiam deste singular sistema.
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Nestes paraísos de corrupção as mais afetadas são as crianças e adolescentes cuja existência não tem prioridade nas agendas políticas. Utilizadas como instrumento emocional nas propostas eleitorais, são relegadas ao último lugar nos programas governamentais porque, obviamente, não têm voz nem voto como membros da sociedade.
Este abandono tem consequências de longo prazo; uma delas é como milhares de crianças, condenadas à desnutrição, à perda de suas capacidades físicas e mentais, à violência derivada de seus entornos de miséria, são expostos a uma vida breve.
Além daqueles que perecem por falta de nutrientes, há muitos mais, os quais, como resultado dessa condição, terminam servindo de mão-de-obra barata sem possibilidade alguma de progredir na vida.
Emilian Robert Vicol – Pixabay
A fome não é uma maldição, é produto da corrupção dos governantes
A resposta a uma questão tão óbvia está no sistema político e na maneira como é administrado o Estado. A perspectiva, a partir dos estamentos políticos, não alcançou a maturidade suficiente para consolidar políticas públicas fundamentais e apresenta fortes deficiências em sua visão humanitária ou como quer que se chame ao mais elementar sentido de responsabilidade com respeito às obrigações para com a população mais necessitada de ajuda.
Em geral, o típico discurso político sobre a desnutrição infantil se reduz a mostrar cifras, e satisfação se a porcentagem é um ou dois pontos menor que a do ano anterior; assim, o fato de mostrar avanços insignificantes lhe parece um êxito mesmo quando o número de crianças mortas não tenha visos de desaparecer.
Supõe-se que depois de tantos estudos elaborados pelos organismos internacionais, pelas secretarias, comissões e especialistas contratados para executar os planos, a esta altura poderia existir programas bem estruturados de tolerância zero contra a desnutrição crônica no nível continental, assim como designações eficazes e transparentes de recursos com ações orientadas para melhorar políticas de desenvolvimento sustentável nas áreas de maior incidência.
Os parâmetros de desenvolvimento – em países com riquezas tão enormes como seus setores de pobreza – deveriam estar sustentados em indicadores válidos e tecnicamente corretos sobre políticas para erradicar a desnutrição crônica infantil.
Para isso, os programas de assistência alimentar devem se tornar independentes das estratégias propagandísticas governamentais e funcionar de maneira conjunta com organizações da sociedade civil que lhes sirvam de avalistas. A sociedade, se envolvida e despida de seus preconceitos, seria capaz de mudar esta atroz realidade da infância.
A fome não é uma maldição, é produto da corrupção dos governantes.
Carolina Vásquez Araya é colaboradora da Diálogos do Sul na Cidade da Guatemala.
Tradução de Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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