O grande perdedor?
Não há nada que Trump aguante menos que ser qualificado como “um perdedor” – é literalmente uma condição psicológica, parte de sua síndrome narcisista. Um bully que perde foge ou se esconde, mas um bully que tem o posto mais poderoso do mundo é sumamente perigoso, e Trump está disposto a levar-se todo o país antes de aceitar que foi derrotado.
Trump, responsável junto com toda a sua equipe da manejo irresponsável da pandemia a tal grau que se pode atribuir a ele uma grande porcentagem das quase 300 mil mortes e quase 14 milhões de contagiados, tem estado abertamente impulsionando um autogolpe de Estado. Ou seja, ele e centenas de políticos republicanos declararam que para salvar a república e sua democracia têm que destruí-las.
Centenas de milhares, milhões apoiam isto aqui. Um maioria esmagadora de republicanos que votaram por Trump creem que houve fraude apesar da ausência de provas. Mais ainda, só 27 dos 249 republicanos no Congresso federal reconheceram o triunfo do democrata Joe Biden.
Ainda é difícil acreditar que mais de 74 milhões votaram pelo que qualquer ser consciente e racional tem que concluir que é o pior presidente, o mais corrupto e perigoso jamais visto, impulsionador de um grande engano populista que convenceu amplos setores de trabalhadores, devastados por políticas neoliberais e seus efeitos, e fartos dos que justificam essas políticas, incluindo as grandes figuras democratas e sua retórica elegante. Ainda mais difícil é acreditar que milhões – sobretudo seus supostos representantes políticos – creem, ou protendem crer no presidente mais mentiroso da história que ganhou a eleição. E agora alguns estão prontos para golpear e inclusivo matar outros estadunidenses para defender esse engano.
Nas ruas da capital e em outras cidades o equivalente dos “camisas marrom”, as milícias nazistas que ajudaram a levar Hitler ao poder, agora se chamam os “Proud Boys” e os “Bogaloo”, e dizem que estão prontos a dar a vida para a sua causa.
White House
Não há nada que Trump aguante menos que ser qualificado como “um perdedor".
O distinto professor de leis em Harvard, Laurence Tribe, recentemente advertiu que “ao nos aproximarmos ao 20 de janeiro [dia da transição presidencial], é mais provável que o setor armado da base de Trump se veja iminentemente ameaçado com a extinção e responda com violência. Essa é a ameaça mais iminente que enfrentamos como estadunidenses”.
A violência neste país é parte integral de sua história, e não se pode entender quase nenhum capítulo de sua existência sem tomar em conta o sangue que corre ao longo de seu grande experimento democrático, como esse país gosta de ser chamado. É uma história que nasce com o “encontro” violento e genocida com o mundo indígena, o sequestro brutal de africanos e sua escravidão e o racismo tão presente, a história da exploração e discriminação de trabalhadores imigrantes, longa história de repressão oficial contra os que se atreveram a lutar contra a violência sistêmica, uma história de guerras que não cessaram.
Essa violência prevalece embaixo desta conjuntura definida entre a agenda neoliberal imperante durante os últimos 40 anos e a ascensão ao poder do projeto neofascista dos últimos 4 anos. Entre as novas camisas marrom por um lado e um apelo ao “regresso à normalidade” oferecido pelos velhos neoliberais que ganharam a eleição, nenhuma pode resolver a crise que os Estados Unidos atravessam. Portanto a grande interrogante é se este país – ou suas maiorias – têm salvação, ou se agora este país – o qual se autoproclama o grande campeão do mundo – está para se converter no grande perdedor, junto com seu presidente.
Isso dependerá das correntes rebeldes defensoras da dignidade e que agem em nome da solidariedade, que falam, e cantam, em centenas de idiomas que democratizaram – ou lutaram por isso – este país desde suas origens até agora. Isso já começou, outra vez mais.
We gotta get out of this Place. The Animals.
Rock and a Hard Place. Rolling Stones.
La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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