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Lula: Falei com Cristina Kirchner "sobre a importância de se manter forte nesses momentos difíceis" (Foto: Ricardo Stuckert)

Visita de Lula a Kirchner fortalece campanha internacional: “Um ato político”, diz ex-presidenta

“Lula também foi perseguido, também sofreu lawfare até ser preso, também tentaram calá-lo. Não conseguiram”, afirmou Cristina Kirchner após o encontro

Redação Página | 12
Página 12
Buenos Aires

Tradução:

Guilherme Ribeiro

Nesta quinta-feira (3), depois de participar da Cúpula do Mercosul, na Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Cristina Fernández de Kirchner no apartamento da ex-presidenta, localizado na Rua San José 1111, no bairro de Constitución, em Buenos Aires, onde a peronista cumpre prisão domiciliar. Esta é a primeira visita política internacional significativa que CFK recebe desde sua prisão.

Segundo Cristina Kirchner, a visita “foi muito mais do que um gesto pessoal: foi um ato político”. “Lula também foi perseguido, também sofreu lawfare até ser preso, também tentaram calá-lo. Não conseguiram. Ele voltou com o voto do povo brasileiro e de cabeça erguida”, recordou, e afirmou que “nós também vamos voltar”, declarou.

“Terrorismo de Estado de baixa intensidade”

A ex-presidenta apontou que “os olhos do mundo” estão voltados para o país, porque ele atravessa uma situação de “terrorismo de Estado de baixa intensidade” como consequência da “deriva autoritária” do governo de Javier Milei.

“Custou muito construirmos a democracia argentina para agora permitir que, passo a passo, ela seja desmantelada. No entanto, essa mesma democracia hoje está sendo esvaziada por dentro por um governo que se diz ‘libertário’… mas que só dá liberdade aos mais ricos”, afirmou.

Como exemplo, CFK mencionou o caso das detenções de Alexia Abaigar, Eva Mieri e outras três pessoas acusadas de terem colocado fezes e uma faixa em frente à casa do deputado José Luis Espert. A ex-presidenta afirmou que as mulheres, todas militantes e peronistas, foram presas por ordem da ministra da Segurança, Patricia Bullrich, a pedido de Espert.

Do mesmo modo, recordou o Plano de Inteligência Nacional que “autoriza a espionagem interna contra qualquer pessoa que ‘erosione a confiança’ na narrativa oficial”.

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“E como se não bastasse, agora Bullrich quer que a Polícia Federal possa vigiar o que as pessoas postam nas redes sociais sem ordem judicial, além de detenções preventivas sem que exista nenhum crime… Você reclama da situação do país?… Você zomba do governo nas redes sociais?… Então, talvez a polícia bata à sua porta. Já vimos isso acontecer em outros países, e parece que também querem importar isso aqui”, afirmou.

Ela também mencionou os ataques do governo à imprensa e que, segundo relatório da Repórteres Sem Fronteiras, durante o governo de Milei, a Argentina foi o país com a maior queda na liberdade de imprensa no mundo.

Para CFK, “estão transformando o país em um experimento continental” com “Milei e os Caputo Boys”, que promovem: “salários de fome, privatização total, entrega absoluta ao Fundo Monetário Internacional”. E lembrou que o ministro da Economia já anunciou que, após as eleições de outubro, “virá a verdadeira motosserra: reforma da previdência, reforma trabalhista e reforma fiscal”.

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“Vamos voltar”

Ainda assim, a ex-presidenta advertiu que o plano “não vai dar certo” e convocou a população a se unir e se organizar para defender seus direitos. “Assim como os centenas de milhares que, no último 18 de junho, se mobilizaram até a Praça de Maio. Eram demasiados para serem intimidados. E, também, os argentinos somos demasiados para que nos mantenham sozinhos, assustados e vigiados”, afirmou.

E acrescentou: “Porque temos algo que eles jamais terão: um nós. E um nós do tamanho e da história do povo argentino… que nem se cala nem se detém. Esse nós sempre volta. Lula demonstrou isso no Brasil e nós também o faremos”.

Protocolos

Para realizar a visita, a defesa da ex-presidenta precisou solicitar autorização ao Segundo Juizado Federal de Ocorrência (Segunda Vara Oral), cumprindo assim um dos requisitos inusitados que o tribunal impôs a CFK em 17 de junho, quando determinou sua prisão domiciliar. Essa exigência estabelece que apenas uma lista de pessoas (familiares, advogados, médicos e seguranças) pode visitá-la livremente em San José 1111, enquanto as demais devem solicitar autorização ao tribunal.

Nesta quarta-feira (3), horas antes da chegada do presidente brasileiro à Argentina, o juiz responsável pela execução da pena de CFK no caso Vialidad, Jorge Gorini, aprovou a visita.

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“Cristina Fernández de Kirchner fica autorizada a receber a visita do Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, no endereço onde cumpre prisão domiciliar, a ser realizada na próxima quinta-feira, dia 3 de julho”, diz o documento assinado por Gorini.

No documento, o juiz também destacou que, durante a visita, a ex-presidenta deverá cumprir rigorosamente a regra de conduta que lhe foi imposta para a prisão domiciliar, que consiste em “abster-se de adotar comportamentos que possam perturbar a tranquilidade do bairro e/ou perturbar a convivência pacífica de seus moradores”.

Apoio de Lula a CFK

Ao saber da decisão do Supremo Tribunal Federal que manteve a condenação de Cristina Kirchner, Lula da Silva entrou em contato com a ex-presidenta para expressar seu apoio.

“Observei com satisfação a serenidade e a determinação com que Cristina enfrenta essa situação adversa e sua decisão de continuar lutando”, postou Lula, destacando o conselho que lhe deu durante a conversa: “Falei com ela sobre a importância de se manter forte nesses momentos difíceis.”

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O atual chefe de Estado brasileiro também foi condenado e preso em um caso de corrupção que o afastou da corrida presidencial de 2018. Anos depois, conseguiu reverter as decisões judiciais, recuperou a liberdade e derrotou Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2022.

Apoio internacional

“A visita de Lula é extremamente importante e também um alerta político para o que está por vir, que é uma grande campanha internacional. Cristina está sendo vista como vítima política de perseguição na região, mas também fora dela”, disse Gabriel Fuks, membro do partido União pela Pátria e presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Parlasul, ao Página/12.

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“A possibilidade de Lula visitá-la é uma ótima notícia, e acho que, de certa forma, em grande escala, é como o governo terá que entender que isso será permanente, porque a imagem de Cristina não será apagada por ela estar detida, mesmo que seja em casa”, avaliou Fuks, enfatizando a importância de ampliar o apoio a CFK no exterior.

“A pressão internacional sempre tem um papel. Há comitês de solidariedade em mais de 20 países, declarações de presidentes e ex-presidentes, redes políticas internacionais e declarações políticas de organizações internacionais estão prestes a começar”, afirmou, lembrando que “isso já aconteceu anos atrás com a campanha Lula Livre, que sem dúvida teve um impacto.”

Página 12, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.
Texto traduzido por apoio de IA e conferido pela redação.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

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