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Jeannette Jara tem pela frente o desafio de consolidar uma candidatura que enfrentará um discurso desqualificador e anticomunista (Foto: Reprodução / Facebook)

Vitória da comunista Jeannette Jara nas primárias reestrutura tabuleiro político no Chile

Jeannette Jara conseguiu reunir toda a centro-esquerda em torno do Partido Comunista, um feito histórico e inédito no Chile

Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Com 60,1% dos votos, a representante do Partido Comunista, a ex-ministra do Trabalho, Jeannette Jara, se impôs de forma arrasadora na eleição primária da centro-esquerda neste domingo (29) no Chile, e teoricamente será a candidata única do setor nas eleições presidenciais de 16 de novembro próximo.

Em uma jornada marcada pelo frio – no sul do país chegou a fazer até 17 graus abaixo de zero – e em que a baixa participação, em torno de 10%, foi a principal característica política, Jara obteve 810 mil votos.

No total, votaram cerca de 1,4 milhão de pessoas, muito abaixo dos 2 milhões que se previam.

Foi seguida pela ex-ministra do Interior, Carolina Tohá, candidata dos partidos Pela Democracia, Socialista, Radical e Liberal, que obteve 28%; enquanto o representante da Frente Ampla, o deputado Gonzalo Winter, somou 9%, um resultado muito decepcionante para a força política que levou Gabriel Boric ao poder há três anos. Um quarto candidato, o deputado Jaime Mulet, obteve 2%.

A vitória de Jara foi tão expressiva que, dos 345 municípios do país, ela perdeu em apenas seis.

Jeannette Jara: “Seguiremos sendo um país livre, independente e soberano”

Em sua primeira reação após os resultados, Jara publicou uma mensagem no X dizendo: “Hoje começa um novo caminho que percorreremos juntas e juntos, com a convicção de construir um Chile mais justo e democrático. Frente à ameaça da extrema-direita, respondemos com unidade, diálogo e esperança. Obrigada a todas e todos que confiaram! Agora, é seguir trabalhando”.

Na noite de 29 de junho, Jara já figurava em segundo lugar nas intenções de voto para as eleições gerais, atrás apenas do ultraconservador José Antonio Kast (Foto: Reprodução / Facebook)

À noite, ao falar a partir de sua sede de campanha, após receber os cumprimentos dos outros candidatos, afirmou em discurso: “Não quero um Chile subordinado a governos estrangeiros nem a modelos externos, por isso manterei uma política internacional baseada na independência e no multilateralismo, defensora dos direitos humanos em qualquer lugar do mundo onde eles sejam violados, em linha com o que tem sido nossa tradição como Estado. Promovendo relações de intercâmbio comercial com outras nações que nos beneficiem como país. Seguiremos sendo um país livre, independente e soberano”.

Tanto Tohá quanto Winter afirmaram que honrarão o compromisso unitário da centro-esquerda, que, reunida na coalizão Unidade pelo Chile, enfrentará a direita em novembro.

Não há precedentes no Chile de uma candidatura do PC liderar e reunir toda a centro-esquerda — trata-se de um momento histórico que altera o tabuleiro político. Jara tem desafios duríssimos: o primeiro, consolidar uma candidatura que enfrentará um discurso desqualificador e anticomunista, além de comparações constantes com governos como os da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua.

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Uma pesquisa divulgada na noite de 29 de junho, realizada antes da vitória de Jara, mostrou que, com 16%, ela saltava para o segundo lugar na intenção de voto, atrás apenas do ultraconservador José Antonio Kast (24%), enquanto a direitista Evelyn Matthei, em campanha há mais de um ano, caía para o terceiro lugar com 10 pontos.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Aldo Anfossi

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