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Toggle“Sem anistia! O Palacete Rio Madeira é dos estudantes de Rondônia. É hora de devolvê-lo ao povo”, declarou o escritor Zola Xavier durante participação no programa Dialogando com Paulo Canabrava desta terça-feira (29). A fala do entrevistado se refere ao prédio que abrigou a União Rondoniense dos Estudantes Secundários (URES). O espaço foi ocupado pelas Forças Armadas em 1964 e continua sob controle militar.
Foi para detalhar essa história que Xavier escreveu “Uma Frente Popular no Oeste do Brasil”, livro que revela como estudantes, camponeses e trabalhadores urbanos formaram um dos primeiros focos de resistência organizada no Norte do Brasil. Agora, a obra ganha nova relevância com a descoberta de documentos sobre a violência da ditadura em Porto Velho.
“A articulação entre movimentos sociais manteve viva a chama da democracia durante os anos mais duros da repressão”, destaca o também jornalista, lembrando que a greve geral em Porto Velho, em 1964, paralisou ferroviários, portuários e bancários.
Ditadura na fronteira e eco no presente
A ocupação do Palacete Rio Madeira — transformado em quartel-general da repressão — simboliza, segundo o autor, a estratégia de militarização de espaços civis. “Hoje testemunhamos políticas semelhantes, como escolas militarizadas e intervenções em favelas. É uma sombra ameaçadora para a democracia”, alerta.
Zola traça paralelos entre a Frente Popular dos anos 1960, que uniu socialistas, democratas e comunistas contra uma oligarquia de viés fascista, e a necessidade atual de alianças amplas: “Precisamos de uma frente popular forte. O exemplo de Rondônia mostra que é possível”, destaca.
Tomada pela ditadura em 1964, sede do movimento estudantil de RO segue ocupada por militares
Memória como trincheira
A pesquisa de Zola também expõe o racismo sofrido por lideranças como o médico Renato Medeiros, negro e líder da Frente Popular, perseguido até a cassação de seu mandato. “A história de Rondônia foi apagada. Muitos nem sabem que o prédio ocupado pertence à sociedade civil”, critica. Para ele, a desinformação é o novo campo de batalha: “Estamos numa guerra contra fake news. Reavivar a memória é resistir”, avalia.
Tanto o livro quanto o documentário “Caçambada Cutuba” — também produzido por Zola Xavier e que reconstitui um atentado político de 1962 — são tentativas de romper o silêncio. “A ditadura acabou, mas suas feridas seguem abertas. Enquanto o Palacete Rio Madeira estiver nas mãos do Exército, a anistia aos crimes da ditadura não estará completa”, denuncia.
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube:
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* Imagens na capa:
– Zola Xavier: Reprodução / Facebook
– Exposição mostra registro de protesto contra ditadura no Brasil: Tânia Rêgo / Agência Brasil