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Governador de Louisiana, Jeff Landry, durante assinatura da nova lei sobre 10 mandamentos (Foto: Facebook)

“Querem impor uma teocracia”, alerta deputado dos EUA sobre “10 mandamentos” em Louisiana

Nova lei aprovada nesta quarta-feira (19) em Louisiana obriga a exibição dos 10 mandamentos da Bíblia em todas as escolas do estado
Jim Cason, David Brooks
La Jornada

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Nesta quarta-feira (19), o governador do estado da Louisiana, Jeff Landry, promulgou uma lei que obriga a exibir os 10 Mandamentos da Bíblia cristã em todas as salas de aula de suas escolas, parte do que um juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos afirmou este mês que já há uma batalha em curso para “retornar” este país a ser “um lugar de piedade” – ou seja, uma nação cristã.

A decisão da bancada do Partido Republicano, que controla a maioria, de nomear Mike Johnson presidente da Câmara Baixa em outubro passado – posto que é o segundo na linha de sucessão presidencial – foi percebida por cristãos conservadores como evidência de que este país está retornando às suas raízes religiosas. “Não acredito em coincidências. Acredito que Deus ordenou e nos permitiu chegar aqui neste momento específico”, declarou o cristão ultraconservador Johnson depois de ser eleito por seus colegas.

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O deputado Jared Huffman, democrata que lidera um caucus legislativo de 20 membros que advogam pela liberdade de fé, vê um perigo real no que está acontecendo. “Ninguém deve se confundir com o movimento nacionalista cristão como apenas um grupo de pessoas de fé que deseja praticar sua fé. É o oposto disso”, afirmou recentemente. “Estas são pessoas que desejam poder e controle sobre os outros. Desejam tomar o controle do nosso governo. Desejam eliminar a separação entre Igreja e Estado e impor uma teocracia sancionada biblicamente.”

Constituição dos EUA impede lei baseada em religião

A Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos afirma que “o Congresso não elaborará nenhuma lei a respeito do estabelecimento de uma religião”. Mas Huffman está certo ao dizer que ultraconservadores neste país têm lutado por décadas para estabelecer oficialmente os Estados Unidos como uma nação cristã. Uma pesquisa em fevereiro do não-partidário Public Religion Research Institute registrou que três de cada dez estadunidenses acreditam que as leis deste país deveriam estar baseadas em valores cristãos, que o governo deveria declarar este país uma “nação cristã” e que “Deus chamou os cristãos a exercer domínio sobre todos os setores da sociedade estadunidense”.

Tudo isso é parte do que motivou a maioria republicana no estado da Louisiana. “Se você quer respeitar o império da lei, tem que começar com o legislador original, que foi Moisés“, declarou o governador da Louisiana ao promulgar a lei nesta quarta-feira, que obriga a exibição dos Dez Mandamentos em todas as salas de aula das escolas do estado.

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Aqueles que apoiam a medida argumentam que os mandamentos bíblicos fazem parte importante da história estadunidense, mas a União Estadunidense pelas Liberdades Civis já anunciou que apresentará ações legais nos tribunais para anular a lei, argumentando que viola a separação entre Igreja e Estado.

Lei semelhante foi barrada por Supremo há décadas

Há décadas, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu contra uma lei do estado de Kentucky que ordenava a exibição dos Dez Mandamentos, declarando-a inconstitucional, mas o tribunal máximo do país se tornou muito mais direitista nas últimas duas décadas.

De fato, este mês, um ativista clandestino gravou uma conversa com o juiz Samuel Alito, da Suprema Corte, durante a qual ele expressou concordar que os Estados Unidos precisavam voltar a ser um “lugar de piedade”. O juiz, que como todos os seus oito colegas supremos é vitalício em seu posto, acrescentou que “um ou outro lado vai ganhar”, indicando que esta é uma batalha sagrada.

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A mulher que secretamente gravou a conversa, a ativista liberal Lauren Windsor, posteriormente tentou convencer o juiz chefe da Suprema Corte, John Roberts, a dizer que seu tribunal tinha uma responsabilidade de colocar o país em um caminho mais moral, mas o juiz se recusou. “Isso cabe às pessoas eleitas, isso não é para advogados”. Mas não há dúvida de que os juízes direitistas da Suprema Corte se tornaram mais ativistas.

Juiz apoiou golpistas do Capitólio

Pouco depois de que simpatizantes violentos de Donald Trump assaltaram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 para tentar frear a certificação dos resultados da eleição presidencial, o juiz Alito ergueu uma bandeira estadunidense de cabeça para baixo em frente à sua casa – sinal de protesto – em apoio aos fanáticos, com quase mil deles já declarados culpados de crimes por esse ataque sem precedentes. Alito depois responsabilizou sua esposa pela bandeira e se recusou a se abster de participar em decidir casos apresentados à Suprema Corte relacionados com a tentativa de golpe de Estado.

Um ex-funcionário da presidência de Trump, segundo reportou Politico, já está desenvolvendo planos para impulsionar ideias nacionalistas cristãs se seu ex-chefe conseguir retornar à Casa Branca. “Uma maioria de adeptos do nacionalismo cristão expressa que ‘se aproxima uma tempestade que varrerá as elites no poder e restaurará os líderes corretos’”, reporta o Public Religion Research Institute. Acrescenta que, segundo suas pesquisas, “quase quatro de cada dez adeptos do nacionalismo cristão concordam que devido ao fato de que as coisas se desviaram tanto (nos Estados Unidos), os verdadeiros patriotas estadunidenses podem ter que recorrer à violência para salvar o país”.

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Embora o próprio Trump pareça estar cada vez mais longe de ser o melhor exemplo de um cristão piedoso que respeita os Dez Mandamentos, 55% de seus simpatizantes se identificam com o nacionalismo cristão.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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