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ToggleDois anos e quatro meses após incursionar em um remoto vilarejo do departamento do Putumayo, no sul da Colômbia, 24 militares foram acusados, em 19 de julho, pelo assassinato de 11 civis que celebravam um bazar com o objetivo de arrecadar fundos para obras sociais de sua região.
Segundo a Procuradoria-Geral, os militares se camuflaram com trajes pretos para perpetuar este massacre que durou duas horas infernais, durante as quais atacaram com mais de 1.600 disparos os habitantes do vilarejo, conhecido como Alto Remanso.
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Um comunicado emitido pela procuradoria detalha que, após observar à distância a atividade social que estava ocorrendo, os militares abriram fogo de maneira indiscriminada contra a pequena aldeia, atingindo 13 casas, o quiosque comunitário, o poliesportivo e o pequeno porto sobre o rio.
Provas contra os militares são contundentes
Os militares, integrantes do terceiro batalhão antidrogas, quiseram apresentar os fatos como um combate contra forças irregulares dos chamados Comandos da Fronteira, mas as provas e os testemunhos dos sobreviventes demonstraram que 3 oficiais, 4 suboficiais e 18 soldados haviam disparado suas armas, incluindo granadas e morteiros, sabendo que estavam atacando civis desarmados.
No ataque, amplamente divulgado na época pela maioria dos meios locais, morreram um governador indígena, o presidente da junta de ação comunitária de Alto Remanso, um menor de idade e outras oito pessoas, camponeses e indígenas desta região historicamente excluída e cenário de contínuos episódios de violência, decorrentes das economias ilegais e da presença de quatro estruturas armadas ilegais.
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Segundo analistas locais, a acusação feita pela procuradoria contra os 24 militares é um claro sinal da mudança que esta entidade está experimentando em matéria de direitos humanos desde a posse de Luz Adriana Camargo como procuradora-geral, em 22 de março passado. Apesar do comunicado da procuradoria, ativistas de direitos humanos e líderes agrários chamaram a atenção para a omissão de meios de comunicação que não publicaram notícia sobre a acusação dos militares pelo massacre de Alto Remanso.
Ato comemora a Independência da Colômbia
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, instalou no último sábado (20) a terceira legislatura do Congresso, na qual se tramitarão boa parte das reformas que ficaram pendentes nos dois primeiros anos de atividade.
Em seu discurso, pediu perdão por recentes fatos de corrupção que implicaram altos funcionários e aceitou a responsabilidade política por tê-los nomeado.
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Durante a manhã, o chefe de estado presidiu os desfiles militares comemorativos do Dia da Independência Nacional, cerimônia em que foi vaiado por uma parte do público em protesto por seu atraso de duas horas.
Colômbia, atenta à Venezuela
Poucos dias antes das eleições no último domingo (28) na Venezuela, a Colômbia dirigiu seu olhar para o país vizinho, cuja política tem, segundo analistas locais, amplas repercussões na vida colombiana.
Embora não seja a primeira vez que a Colômbia tenha ficado em suspense diante da iminência de uma jornada eleitoral na Venezuela, nesta ocasião havia “grandes apostas em jogo, como o possível retorno das forças da direita ao poder”, o que gerou um “clima de alta tensão se levarmos em conta que a Colômbia está vivendo o primeiro experimento de um governo de esquerda em sua história”, comentou ao La Jornada o cientista político e professor universitário Jaime Rueda.
Porta-vozes de partidos tradicionais se aventuraram a dizer que os pleitos no país vizinho seriam uma espécie de ensaio geral do processo presidencial colombiano, em 2026, quando o país decidirá se continua pelos caminhos da mudança e das reformas sociais, ou se retorna ao projeto neoliberal que governou nas últimas décadas. Aos olhos do cidadão comum, está clara a empatia entre os líderes dos partidos tradicionais de ambos os países, bem como a proximidade ideológica e pessoal entre o presidente Gustavo Petro e Nicolás Maduro.
Além do impacto na política colombiana, muitos setores fixaram seu olhar no resultado eleitoral deste domingo: 2,8 milhões de migrantes venezuelanos acompanharam minuto a minuto o processo eleitoral. Reunidos em parques ou à beira das principais avenidas da cidade, centenas de jovens, que trabalham entregando pedidos a domicílio, envolveram-se em discussões apaixonadas sobre como serão suas vidas a partir de agora. A maioria se vê retornando ao seu país, mas não são poucos os que os tacham de ingênuos: “Aqui somos 3 milhões e só poderão votar 11 mil”, comentou de sua bicicleta um jovem curtido no ceticismo.
Empresários, comerciantes e investidores também não se afastaram das notícias eleitorais. Após um longo recesso de mais de quatro anos, no qual a economia binacional foi completamente paralisada, pois o presidente Iván Duque (2018-2022) se dedicou a “derrubar Maduro”, o comércio bilateral experimentou em 2023 um modesto incremento de 6%, com transações que superaram 673 milhões de dólares. Com o panorama pós-eleitoral desobstruído, os empresários colombianos aspiram a que, no médio prazo, a Venezuela volte a ser, como foi durante décadas – o segundo sócio comercial do país.
Três guerrilhas com ampla presença histórica ao longo dos 2.219 quilômetros de fronteira também estiveram atentas ao resultado eleitoral de domingo. Além de aproveitar a porosidade da faixa limítrofe, os rebeldes do Exército de Libertação Nacional, duas dissidências das extintas FARC, contam com a Venezuela como país garantidor nos diálogos de paz que mantêm com o governo.
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