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19 anos sem Darcy Ribeiro

Redação Diálogos do Sul

Tradução:

Sergio Caldieri*

darcy-ribeiro-retrato“Termino esta minha vida já exausto de viver, mas querendo mais vida, mais amor, mais saber, mais travessuras”, foram uma das últimas declarações do genial e único Darcy Ribeiro quando faleceu em 17 de fevereiro de 1997.

Darcy Ribeiro nasceu em Montes Claros-MG, em 26 de outubro de 1922. Mudou-se para o Rio de Janeiro com o objetivo de estudar medicina, mas abandonou o curso depois de três anos.
Estudou ciências sociais na Escola de Sociologia e Política em São Paulo, graduando-se em 1946. Entrou para o Serviço de Proteção aos Índios (antecessor da Funai), em 1949, onde trabalharia até 1951. Conviveu com várias tribos indígenas do Mato Grosso e da Amazônia, Bororós, Kadiweus, Kayapós, Xavantes, publicando as anotações feitas durante essas viagens. Colaborou com marechal Cândido Rondon nas suas expedições e na fundação do Museu do Índio (que dirigiu) e a criação do parque indígena do Xingu.
Na época, Darcy Ribeiro escreveu diversas obras de etnografia e defesa da causa indigenista, contribuindo com estudos para a UNESCO e a Organização Internacional do Trabalho. Em 1955, organizou o primeiro curso de pós-graduação em antropologia, na Universidade do Brasil (Rio de Janeiro), onde lecionou etnologia até 1956.
No ano seguinte, passou a trabalhar no Ministério da Educação e Cultura. Lutou em defesa da escola pública e (junto com o educador Anísio Teixeira) fundou a Universidade de Brasília (da qual seria reitor em 1962-3). Anísio Teixeira foi aluno de John Dewey quando fez o curso de pós-graduação na Universidade de Colúmbia, em 1928/29, em Nova Iorque, nos EUA. Anísio foi o inventor da escola pública no Brasil.
Em 1961, Darcy foi ministro da Educação no governo Jânio Quadros. Mais tarde, como chefe da Casa Civil no governo João Goulart, desempenhou papel relevante na elaboração das chamadas reformas de base. Com o golpe militar de 1964, Darcy Ribeiro teve os direitos políticos cassados e foi exilado.
Depois do golpe, Darcy viveu então em vários países da América Latina, defendendo a reforma universitária. Foi professor na Universidade Oriental do Uruguai e assessorou os presidentes Salvador Allende (Chile) e Velasco Alvarado (Peru). Durante o exílio, Darcy Ribeiro escreveu grande parte das suas obras: os estudos antropológicos da “Antropologia da Civilização”, em seis volumes (o último, “O Povo Brasileiro”, publicado em 1995).
Em 1976, retornou para o Brasil, dedicando-se à educação pública. Darcy foi anistiado em 1979, iniciando uma? carreira política nas eleições de 1982, quando elegeu-se vice-governador do Rio de Janeiro, na chapa de Leonel Brizola. Acumulou o cargo de Secretário Estadual de Cultura, onde realizou a construção do Sambódromo, que hoje recebeu o nome Passarela do Samba Darcy Ribeiro.
Com apoio do governador Leonel Brizola, construiu os 510 Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), na capital e interior do Estado do Rio de Janeiro. Em 1990, foi eleito senador, posto em que teve destacada atuação na criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LDB.
Em 1992, foi consagrado como imortal na Academia Brasileira de Letras. Além da obra antropológica, Darcy Ribeiro publicou os romances Maíra-1976, O Mulo-1981, Utopia Selvagem-1982 e Migo-1988.
Vários professores que tentaram educar o povo brasileiro foram perseguidos, presos, torturados, banidos, cassados e exilados: Graciliano Ramos, Anísio Teixeira, Josué de Castro, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Milton Santos, Décio Freitas, Manoel Maurício de Albuquerque, Florestan Fernandes, Maria Yeda Linhares, Joel Rufino dos Santos e tantos outros.
Vítima de câncer, Darcy Ribeiro morreu aos 74 anos. No último ano de vida, Darcy Ribeiro dedicou-se a organizar a Fundação Darcy Ribeiro: http://www.fundar.org.br/
*Sergio Caldieri – Jornalista e escritor – original de Patria Latina


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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