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40 milhões de desempregados, mas Trump está focado em defender seu direito a enganar

Segundo alguns cálculos, 1 de cada 4 trabalhadores nos Estados Unidos está fora do mercado de trabalho em plena pandemia
David Brooks
Diálogos do Sul Global
Nova York

Tradução:

Mais de 40 milhões estão agora nas filas oficiais do desemprego, o que juntamente com o registro de mais de 100 mil mortos pela Covid-19, representam os saldos históricos da pandemia nos Estados Unidos, mas o presidente preferiu focar-se na defesa de seu direito a enganar nas redes sociais.

Com mais 2,1 milhões de trabalhadores solicitando benefícios de desemprego na última semana, o total de desempregados do setor formal superou os 40 milhões – segundo alguns cálculos isso equivale a 1 de cada 4 trabalhadores nos Estados Unidos – o que já se aproxima dos piores níveis da Grande Depressão. Mas diferente desse antecedente que tardou anos para chegar a estes níveis, desta vez foram alcançados em 10 semanas.  

E estas cifras não incluem os trabalhadores do setor informal ou os indocumentados. 

Pior ainda, não se sabe o que acontecerá quando esses benefícios de desemprego junto com as medidas de apoio econômico de emergência aprovadas por Washington se esgotem, o que provocará maiores problemas, inclusive colocando milhões em risco de ser despejados de suas casas por não poder pagar o aluguel e exacerbar problemas de acesso à alimentação e à saúde para os mais vulneráveis.

Segundo alguns cálculos, 1 de cada 4 trabalhadores nos Estados Unidos está fora do mercado de trabalho em plena pandemia

Reprodução: Flickr
Donald Trump em visita ao NIH

Os republicanos, inclusive Trump, estão insistindo em que o que se necessita não são mais programas de apoio social, mas sim a reabertura da economia o mais breve possível, apesar dos especialistas em saúde pública seguirem insistindo que suspender as medidas de mitigação de maneira prematura só provocará novos brotes da Covid-19.

Além de questionar os níveis de contágio e manipular estatísticas pouco confiáveis sobre o comportamento da Covid-19 – sobretudo porque não há um sistema nacional de testes – o governo de Trump também está tratando de suprimir a difusão de informação econômica adversa. 

Pela primeira vez em décadas, a administração não emitirá a atualização semestral de prognósticos econômicos oficiais neste verão, reportou o New York Times. Com isso evitará ter que oferecer suas projeções sobre os efeitos da recessão. Na última série de projeções oficiais emitida em fevereiro, se prognosticava um crescimento econômico de 3,1% para o ano atual e um taxa de desemprego de 3,5%. Agora, com a pandemia, a taxa de desemprego poderia superar 20% e alguns prognosticam uma contração econômica entre 5 e 6% ou mais para este ano. 

Outra maneira de tentar de suprimir informação econômica e de saúde adversas aos interesses da Casa Branca, sobretudo em um ano eleitoral, é a distração. Embora tenha se registrado o saldo trágico de 100 mil mortes na quarta-feira, só na quinta-feira Trump expressou, entre múltiplos tuítes atacando seus opositores e críticos, suas condolências às famílias afetadas. 

Mas enquanto se chegava a essa cifra, o presidente estava focado na sua disputa com o Twitter, por atrever-se a marcar um par de seus tuítes presidenciais com uma etiqueta questionando a veracidade do conteúdo. Depois de ameaçar o Twitter pelo que acusa como uma tentativa de violar a liberdade de expressão, Trump assinou uma ordem executiva contra essa e outras empresas que administram redes sociais. 

A ordem declara que o “Twitter agora decide seletivamente impor uma etiqueta de advertência sobre certos tuítes que claramente reflete um preconceito político”, e busca anular algumas proteção legais a empresas sobre o conteúdo que transmitem em suas plataformas.  

A ordem foi criticada, entre outros, pela Câmara de Comércio que, em uma declaração afirmou que “isso não é a maneira em que se estabelecem as políticas públicas nos Estados Unidos. Uma ordem executiva não pode ser usada de maneira apropriada para mudar a lei federal”.

Observadores disseram que no caso pouco provável de que a ordem se torne efetiva, o mais afetado seria o próprio presidente que tem usado o Twitter como sua ferramenta favorita de comunicação oficial, e cuja ordem obrigaria essa empresa, como também o Facebook e o Google, a serem mais estritos em permitir conteúdo falso ou enganoso. 

“100 mil estão mortos pelo coronavirus, 40 milhões solicitam benefícios de desemprego. 20% das crianças padecem fome, milhões enfrentam despejo e carecem de atendimento médico” tuitou o senador Bernie Sanders ao denunciar que a liderança republicana não tem pressa em aprovar maior assistência social. “Indignante!” concluiu. 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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