Em todo o mundo se levantaram vozes contra a violência recente do grupo Hamas contra civis israelitas, da mesma forma que hoje, em todo o mundo, levantam-se vozes de protesto contra a ofensiva, desproporcional e desumana, de Israel dirigida ao povo palestino em Gaza (dois milhões de palestinos, sem energia, sem água e sem comida — cercados por muros e tanques), bombardeado noite e dia por um dos exércitos mais poderosos do mundo. Que duas coisas fiquem bem claras: o Hamas não é o povo palestino, da mesma forma que o governo do estado colonial de Israel, de extrema-direita, não é o povo judeu.
Na Palestina ocupada, não basta a humilhação diária dos postos de controle, a negação dos recursos básicos de sobrevivência, os muros do apartheid, a violência e o preconceito mais abjetos? Não bastam os territórios ocupados, os milhões de refugiados palestinos e a degola do futuro?
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Não basta para os senhores da guerra, da vida e da morte, transformar jovens israelenses em soldados assassinos e fazer apodrecer as suas vidas com o peso da culpa pela morte de civis em Gaza, Cisjordânia e outras regiões ocupadas? Não basta aos governantes de Israel inviabilizar a possibilidade das duas nações livres, ou mesmo um Estado multinacional, livre de racismos, preconceitos e xenofobias? Não bastam as ruínas que se acumulam sobre as ruínas e os cadáveres que se amontoam sobre cadáveres? Os mortos se alimentam dos mortos. O ódio se nutre do ódio. Que país pode se construir sob tamanha miséria moral?
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Fundação Perseu Abramo
Não é de hoje, o poderoso estado de Israel age como quer, ignorando direitos humanos, leis e convenções internacionais
Existem momentos extraordinários na vida, em que não é possível calar. Quando refletimos sobre essa realidade de horrores, estamos refletindo sobre a própria condição humana, indiferentemente das nacionalidades, de etnia, gênero ou crença. Se matam as esperanças, estão matando também a nossa humanidade. Se morrermos em nosso humanismo, que fera nos resta ser?
Basta aos discursos! Líderes precisam agir. Israel já matou 700 crianças palestinas
Não é de hoje, o poderoso estado de Israel age como quer, ignorando direitos humanos, leis e convenções internacionais. Na ONU, todas as denúncias de crimes de guerras cometidos por Israel são vetadas pelos EUA.
O terror do Hamas não legitima a prática do terror do estado de Israel — que, com o seu exército, com ajuda dos EUA e da União Europeia, massacra populações civis palestinas, a serviço dos interesses econômicos mais obscuros, inclusive o teste de armas, que serão oferecidas no mercado necrófilo.
Um horror que vai para além da vingança cega. Uma coisa é certa: ninguém chega ao futuro repetindo os horrores do passado.
Rosemberg Cariry | Escritor, cineasta e colaborador da Diálogos do Sul
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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