No cenário teatral brasileiro, César Vieira foi uma figura ímpar que deixou um legado inestimável. Nascido em Jundiaí, em 1931, dedicou sua vida ao teatro, não apenas como um prolífico autor e diretor, mas também destemido advogado que defendeu presos políticos durante a dura ditadura militar que assolou o Brasil entre 1964 a 1985. Sua história é marcada por um comprometimento incomparável com o teatro de resistência e uma paixão inabalável por promover a dramaturgia popular.
César Vieira, embora tenha se formado em Direito e Jornalismo, encontrou sua verdadeira vocação nas artes. Em meados dos anos 1960, mergulhou no mundo do teatro e, em 1969, co-fundou o grupo Teatro Popular União e Olho Vivo, um pioneiro na criação coletiva e na busca por uma dramaturgia comprometida com o teatro de resistência. Foi sob sua liderança que o grupo escolheu “O Evangelho Segundo Zebedeu”, um texto de sua autoria, para inaugurar suas atividades teatrais.
Sua atuação no campo do direito foi tão notável quanto sua carreira teatral. Durante os anos sombrios da ditadura militar, César Vieira defendeu corajosamente presos políticos, incluindo notáveis figuras como Celso Brambilla, Márcia Bassetto Paes e José Maria de Almeida, membros da Liga Operária, que foram detidos em maio de 1977. Infelizmente, Vieira também foi vítima da repressão, sendo preso e torturado.
Em suas redes sociais, o diretor da revista Diálogos do Sul, Paulo Cannabrava Filho, que era amigo pessoal de Idibal, expressou seu pesar e prestou sua homenagem.
“Certamente nenhum outro advogado advogou para tantos presos e perseguidos políticos, inclusive foi preso por enfrentar os esbirros da ditadura.” escreveu Cannabrava
César Vieira criou obras notáveis como “Em Busca de um Teatro Popular”, “João Cândido do Brasil: a Revolta da Chibata” e “Bumba, Meu Queixada”. Ao longo de sua carreira, recebeu os mais prestigiosos prêmios do teatro e das artes, incluindo o Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) – de melhor autor nacional por “O Evangelho Segundo Zebedeu”, em 1969 –, o Prêmio Dramaturgia Funarte-MinC — por “Os Juãos e os Magalís – Uma Chegança de Marujos”, em 1996 – e os Prêmios Mambembe e Flávio Rangel/MinC – por “Brasil Quinhentão!??”, em 1998.
Foto: Reprodução
O Brasil perde um dos maiores nomes do teatro, mas seu legado e sua influência serão eternos
Nessa segunda-feira, 23 de outubro, amigos, familiares e admiradores poderão prestar suas últimas homenagens a César Vieira durante o velório que ocorrerá na sede do Teatro Popular União e Olho Vivo, localizada na Rua Newton Prado, 766, Bom Retiro, a partir das 23h. Com sua partida, o Brasil perde um dos maiores nomes do teatro, mas seu legado e sua influência serão eternos, continuando a inspirar artistas e defensores da liberdade em todo o país.
George Ricardo Guariento | Jornalista e colaborador da Diálogos do Sul.
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