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ToggleA questão não é que não existam esforços para barrar o genocídio e o plano de Israel de expulsar os palestinos da região. O problema está no modelo adotado desde o fim da Segunda Guerra Mundial de existir apenas cinco países no mundo com o poder de vetar, unilateralmente, qualquer assunto que precisar da aprovação unânime deles.
Resta mais do que claro que no atual mundo multipolar, com novos atores em ascensão e uma grave crise humanitária que se alastra pelo globo, não é mais possível que apenas 5 países tenham o cadeado das decisões mais importantes e que mais afetam todos os seres vivos do nosso planeta.
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Nesse sentido, a guerra é só um dos diversos temas polêmicos que estão a nos assolar. Podemos citar aqui também a questão climática, o drama interminável dos refugiados e dos migrantes mundo afora, a aceleração desenfreada da tecnologia e seus efeitos malévolos para o mundo do trabalho, o potencial para novas pandemias devido à destruição do meio ambiente, entre outros.
Nesse diapasão, vamos correlacionar nesse breve texto apenas a questão do conflito bélico entre Israel e o Hamas por uma questão de espaço. Antes disso, uma breve digressão: se voltarmos um pouco no tempo, exatamente nas chamadas “Guerra do Golfo”, “Guerra da Bósnia” e “Guerra do Kosovo”, durante toda a década de 1990, é possível verificar a fragilidade desse modelo dos 5 países “senhores das armas”.
Cannabrava | Genocídio em Gaza
Mesmo antes, como na invasão da Hungria pela então União Soviética ou na famigerada Guerra do Vietnã – para não falar nas guerras regionais na época da descolonização africana e asiática – quando um desses 5 países queria entrar em conflito, os outros se calavam, apoiavam ou simplesmente vetavam alguma medida mais humanitária, porém esse veto nunca evitou na prática a intervenção militar, se isso fosse da vontade desses países.
Nessa toada, o mundo assiste hoje uma reação mil vezes desproporcional de Israel ao ataque (quase) suicida do Hamas a algumas cidades que fazem fronteira com a faixa de Gaza. É verdade que alguns foguetes foram lançados mais longe, até Tel Aviv, mas foram poucos que chegaram ao seu destino. A verdade é que o Hamas mordeu a isca de vez lançada por Israel.
De fato, desde que a ala mais conservadora dos sionistas voltou com toda a força ao poder em Israel nos últimos anos, a narrativa de domínio judaico sobre a região outrora ocupada pelos palestinos se intensificou, bem como o incremento dos assentamentos de colonos judeus em terras que não deveriam ser ocupadas por eles. Sem força militar comparável a Israel, nem voz política no cenário internacional que consiga barrar essas ações condenáveis, o que restou aos palestinos? Alguém que acompanhe minimamente os acontecimentos do mundo foi pego de surpresa com as ações do Hamas? Sinceramente, acredito que não. Talvez a surpresa tenha sido o êxito inicial e as atrocidades cometidas pelos integrantes dessa organização que a própria ONU não caracteriza como terrorista.
Por conseguinte, mais de duas mil crianças palestinas já morreram devido aos bombardeios incessantes de Israel na Faixa de Gaza. É duro ver um genocídio desses e ainda ter que engolir o discurso da grande mídia de que Israel tem o “direito de se defender”. Israel não está se defendendo. Está atacando, isso sim. Está matando pessoas que, na sua grande maioria, apenas lutam para sobreviver num pedaço exíguo de terra inóspita. De forma semelhante, mais de 6 mil prédios já foram atacados por bombas vindas do céu, sem (quase) nenhuma artilharia antiaérea, deixando centenas de pessoas sob escombros.
Agência Brasil
O avançar da tecnologia reduz e embrutece cada vez mais um mundo que já foi bonito pelas suas longas distâncias e idiossincrasias
Corredores humanitários
Mas, e a ONU? No exato momento em que Israel se prepara para lançar a ofensiva terrestre na faixa de Gaza, com potencial para quintuplicar o número de mortes já registradas, por que a ONU se limita apenas a tentar estabelecer corredores humanitários? Infelizmente, a resposta não é tão simples.
Basta ver que a ONU foi criada, primordialmente, para evitar uma terceira guerra mundial. Mas não apenas para isso. A ONU possui muitos outros objetivos além de manter a segurança e a paz mundial, como estimular os direitos humanos, ajudar no desenvolvimento econômico e no progresso social, defender o meio ambiente, além de outras ações mais marginais de proteção contra desastres naturais, tentar evitar conflitos armados e ajudar aos mais necessitados contra a fome endêmica nos países mais pobres do globo.
Rosemberg Cariry | Massacre em Gaza nos faz refletir sobre a própria condição humana
Ao ler essa lista de atribuições que os países delegaram para esse organismo intergovernamental, é possível perguntar o quão todos esses objetivos foram realmente alcançados. A verdade é que ainda não tivemos uma terceira guerra mundial. Mas o crédito maior deve ser dado ao poder de destruição do planeta pelas bombas atômicas que as principais potências do mundo possuem, do que à capacidade da ONU de manter a segurança e a paz mundial.
Direitos Humanos
Nessa circunstância, onde estão os direitos humanos dos migrantes do mundo afora, em campos insalubres de refugiados por guerras promovidas, direta ou indiretamente, pelos mesmos países que têm o poder de veto no Conselho de Segurança da própria ONU? Da mesma maneira, cadê o desenvolvimento econômico e o progresso social dos países mais necessitados, especialmente no continente africano, ao longo dos últimos 80 anos, desde que a ONU foi criada? E o que dizer sobre o aquecimento global e o aumento da destruição do meio ambiente, com a expansão das commodities de monocultura e o incremento da exploração da indústria petrolífera, e agora a corrida pelo Lítio, componente básico para os veículos movidos por energia elétrica?
A lista é grande, caro leitor. A fome cresce num mundo abarrotado de produtos supérfluos, assim como temos nesse exato momento mais de uma dezena de conflitos armados ao redor do planeta, sendo os principais a Guerra entre Israel e Hamas, o conflito entre Azerbaijão x Armênia em Nagorno-Karabakh (Já finalizado), a Guerra Rússia x Ucrânia, a Guerra da Síria e a Guerra civil no Iêmen.
Diante do exposto, será que ainda existe alguém que aposta no prolongamento temporal da ONU como organização extraterritorial capaz de manter o mundo em condições adequadas para a vida prosperar? Ou seremos capazes de imaginar uma outra alternativa de sociedade mais eficaz para barrar a aniquilação de todas as vidas do planeta em um futuro não muito distante? Basta lembrar que uma em cada dez espécies pode ser extinta até o final desse século. A principal causa? O homem!
Um novo organismo supranacional?
Destarte, insisto porque é imperioso para o futuro do planeta essa questão, a saber, um novo organismo supranacional que contemple todos os povos com suas culturas, economias, religiões e, acima de tudo, uma política de bem-estar geral. O atual secretário-geral da ONU, António Guterres, tem apresentado algumas propostas interessantes, porém ainda tímidas para o objetivo maior citado acima. Realmente, não é mais concebível uma entidade como a ONU baseada, na sua essência, no Tratado de Westfália, em 1648. Estamos no século XXI, CARAMBA!!!
Não existem mais continentes a ser descobertos, muito menos isolamento territorial. A Pangeia humana já é fato há séculos. O avançar da tecnologia reduz e embrutece cada vez mais um mundo que já foi bonito pelas suas longas distâncias, idiossincrasias de cada povo e naturezas intocadas. Tudo isso acabou!
Talvez o mais subjetivo que temos hoje seja a tela do celular de cada ser humano. Se tudo isso não for levado em conta para o estabelecimento de um novo acordo global entre as nações, corremos o risco de, enfim, desembocarmos nas mãos do “Grande Irmão” orwelliano. E se isso acontecer, a Palestina não existirá mais!
André Márcio Neves Soares | Doutorando em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador – UCSAL/BA. Pesquisador da democracia brasileira.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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