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ToggleJoe Biden desembarca em Israel em plena situação de guerra e promete apoio em bloco. Já havia dito antes, em nota oficial da Casa Branca, que falava em nome da Inglaterra, França e Itália. Como não dizer que esta é uma guerra dos Estados Unidos? Uma guerra que em poucos dias já custou quase 5 mil mortos. Em Gaza, já não há onde colocar tantos mortos.
Netanyahu exagerou na dose e colocou o mundo em alerta e, ao mesmo tempo, em solidariedade ao povo palestino. Multidões nunca antes vistas em Paris, primeiro e logo em Londres, o povo exigindo paz e liberdade para o povo palestino. Por toda parte, todos os dias, inclusive nos Estados Unidos, o povo nas ruas a exigir o reconhecimento da Palestina. Há pouco, em Paris, a polícia tentava impedir mais uma manifestação popular sem conseguir.
No Brasil e no mundo a imprensa hegemônica segue dando as versões dos releases das embaixadas dos Estados Unidos e de Israel, perpetrando um genocídio também midiático ao povo palestino. Não se trata de uma guerra contra o Hamas como proclamam. É uma guerra total, por todos os meios, contra o povo da Palestina.
Países árabes em alerta
Uma onda de indignação e cólera eclodiu no Oriente Médio após a explosão em um hospital em Gaza que deixou centenas de mortos e feridos. Em consequência, o rei Abdullah, da Jordânia, o presidente Abdel Fattah Al-Sisi, do Egito, e o presidente da Autoridade Palestina na Cisjordânia, Mahmoud Abbas, se recusaram a comparecer à reunião convocada por Biden. Além de Israel, tinha programado desembarcar também na Jordânia.
No Brasil, os embaixadores dos países árabes convocaram uma entrevista coletiva à imprensa a realizar-se no final da tarde desta quinta-feira, 19 de outubro. A finalidade era mostrar a indignação com o morticínio infligido ao povo palestino e apontar as responsabilidades.
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Biden poderia resolver logo essa questão, com só bastando parar de impor veto às resoluções da ONU. Fazer vigorar a resolução que estabelece dois estados, ou seja, reconhecer a soberania do povo palestino sobre seu território ancestral.
Na ONU, mais uma vez os Estados Unidos vetam a resolução apresentada pelo Brasil que cria situações que permitam socorrer e alimentar o povo palestino, com o argumento de que o texto não reconhece o direito de defesa de Israel. Resumo da ópera. Estados Unidos ficam como o único responsável pela situação, o único que pode apresentar soluções que agravem ou que resolvam o conflito.
Por que essa guerra? As razões são as mesmas que para a guerra contra a Rússia em território da Ucrânia. O sistema capitalista fundado no Consenso de Washington – que a partir dos anos 1980 impôs no mundo a ditadura do pensamento único do capital financeiro, com a hegemonia dos Estados Unidos – está em crise terminal.
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A guerra torna-se necessária para movimentar o complexo militar industrial e prolongar ainda por um tempo a hegemonia do imperialismo ianque, que não é só ianque, é também da Inglaterra e dos países da Otan.
Holocausto ao povo palestino
Como é que pode haver tanta maldade no mundo!? Infringir um holocausto ao povo palestino. Holocausto é isso: grande morticínio de um povo. Pois é isso que está acontecendo ao deixar uma população de mais de dois milhões de pessoas sem água, sem eletricidade, sem gás, sem combustível e também comida, e sem ter por onde escapar. Água é vida. Não existe vida sem água e sem eletricidade nada funciona.
Para o Le Monde, manchete, Em Gaza, o calvário da população. Na realidade, crime de lesa humanidade já vinha sendo perpetrado por Israel há mais de meio século, mais precisamente há 75 anos.
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Foto: State of Palestine – MFA/Twitter
O chamado Ocidente criou isso, tem a responsabilidade de impor a solução, pois de outra maneira Israel seguirá seu plano de extermínio
Por mais hediondo que seja o crime cometido pelo Hamas, nada justifica sacrificar toda população da Palestina. Um milhão indo para o Sul obedecendo a ordem de evacuar o Norte. Ir para onde? O Sul está bloqueado por Israel e o Egito não tem condições de abrigar milhões de pessoas. São pessoas, gente, seres humanos, famílias com anciões e bebês, feito barata tonta, sem saber o que fazer para sobreviver.
O assédio em Gaza viola o direito internacional e o mais elementar dos direitos humanos. Não se pode privar uma população de água e víveres.
Pode haver maior maldade que isso? Crime de lesa humanidade com a cumplicidade da mídia, da União Europeia, dos Estados Unidos, da própria ONU, que tem recurso para fazer parar essa barbárie. Mas o genocídio é também midiático. Para a mídia, Israel está em guerra contra o Hamas, ignora o sofrimento do povo palestino. Nenhuma crítica à violência de Israel.
2,3 milhões de pessoas a acumular frustração e ódio só pode piorar a situação. Mais gente a odiar Israel, a querer vingança. Uma tragédia também para o povo judeu. Esse povo não merece isso e os jornais já estão advertindo. O governo de Netanyahu não sobreviverá a essa atitude insana.
É preciso cordura de ambos os lados para que haja diálogo. A alternativa é o diálogo entre dois povos que são diferentes e que por lógica se requer a existência de dois estados. Não há paz possível sem que se reconheça aos palestinos o direito às suas terras ancestrais e um estado livre e soberano.
Israel tem que recuar nas ocupações ilegais na Cisjordânia, mas a direita sionista quer mais, quer um estado único para os judeus.
Israel conta com apoio incondicional dos Estados Unidos. Biden disse claramente: “nós garantiremos que Israel tenha o que necessite para se defender”. Enquanto isso, o ministro de Defesa do estado sionista afirma que Gaza nunca voltará a ser o que era. Da palavra aos fatos, Gaza bombardeada por terra, ar e mar.
Estados Unidos já enviou para o Oriente do Mediterrâneo o porta-aviões Gerald Ford, com seus caças, destróieres e submarino. Apoio irrestrito sem o menor juízo crítico. Em Virgínia, estão mobilizando o porta-aviões Eisenhower, com seus destróieres e submarino.
O que se pode deduzir dessa crise?
Primeiro, o Hamas não é um mero grupo terrorista, é um exército de 30 mil militantes bem armados e treinados, conta com inteligência e foi capaz de disparar dois mil misseis em poucas horas.
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Israel tem um exército de 300 mil, o quinto do mundo e a segunda melhor inteligência do mundo, más não é inexpugnável nem invencível. A ofensiva do atual governo torna cada dia mais difícil a solução de dois estados. A verdade é que não haveria luta pela libertação nacional se os direitos dos palestinos fossem respeitados.
Israel bombardeou os aeroportos de Alepo e Damasco, na Síria, e está bombardeando o Sul do Líbano, seguramente ataques preventivos para que não se metam no conflito com os palestinos.
Netanyahu está na corda bamba, esse governo de aliança com a extrema-direita não se sustenta. É uma questão de tempo. Tampouco Mahmoud Abbas sobreviverá no governo da Autoridade Palestina. Em Ramallah, na quarta-feira (18), multidão enfurecida pedia sua cabeça.
O chamado Ocidente criou isso, tem a responsabilidade de impor a solução, pois de outra maneira Israel seguirá seu plano de extermínio.
Paulo Cannabrava Filho, jornalista editor da Diálogos do Sul e escritor.
É autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
• A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
• Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
• Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
• No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora
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