O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), participou nesta quinta-feira (17) do Fórum Internacional dos Povos Indígenas, no âmbito da COP27, no Egito, e garantiu participação dos indígenas em seu governo:
“Eu participo muito da vida política há 50 anos, mas eu nunca participei de uma reunião que me transferisse tanta responsabilidade como essa reunião de agora. Eu não tenho representatividade para representar os anseios de todos os povos indígenas dos cinco continentes, não tenho sequer conhecimento profundo da realidade de cada nação indígena no seu país. Eu participei de todas as reuniões do G8 quando fui presidente da República, de todas as reuniões do G20 depois da crise de 2008, e a coisa que eu mais sentia é que não se falava dos problemas da sociedade nessas reuniões.
Quando se reúnem os presidentes dos países ricos, as pessoas pobres não existem, os indígenas, os negros não existem, a periferia não existe. Porque esse não é um assunto levado para mesa de discussão. Quando eu vejo a solidariedade que está estabelecida entre eu e os indígenas brasileiros, eu fico com muito orgulho, porque isso é uma luta de pelo menos 40 anos. Assumir o compromisso de representar os povos indígenas é uma coisa que eu não tenho tamanho para isso, eu tenho vontade, compromisso”, declarou.
Lula afirmou que há uma dívida histórica com os indígenas, que precisa ser paga:
“As pessoas que governam olham o mundo com uma lógica totalmente diferente da lógica que vocês olham. No fundo no fundo, o povo pobre, os indígenas não são tratados como seres humanos, são tratados como números. Não são levados em conta quando você vai fazer o orçamento de um país, ‘tanto para a diplomacia, tanto para as Forças Armadas, tanto não sei para quê e nada para o povo pobre, para o povo negro, para os povos indígenas’. É essa visão que temos que mudar.
Às vezes dá a impressão que de os indígenas estão devendo favor à supremacia branca de existirem, quando na verdade foram eles [brancos] que se intrometeram onde vocês [indígenas] já moravam muito antes de saber que o nosso país e outros existiam. Então temos obrigação moral, ética, política de fazer a reparação pelo que causaram aos povos indígenas, sobretudo no meu país. Tenho o compromisso de fazer inclusive com que o Brasil possa servir de exemplo de uma política de parceria, em que as pessoas não sejam tratadas como se fossem de segunda classe. Quero que os indígenas brasileiros participem da governança do meu país. Por isso estou criando o Ministério dos Povos Originários”.
“No Brasil de vez em quando a gente lê no jornal alguns grandes proprietários de terra dizendo: ‘os indígenas ocupam 14% do território nacional’. E eles se esquecem que os indígenas ocupavam os 8,5 milhões de km2, que é o tamanho do nosso país. Não foram os indígenas que invadiram nada, foram os brancos que invadiram as terras indígenas. Dar a eles o direito de sobreviver, de plantar, de trabalhar, de conservar, de conservar nossa água limpa… Em vez de garantir isso, o que nós estamos vendo são garimpos ilegais destruindo florestas, reservas, terras indígenas. A troco do quê? A troco do enriquecimento de um ou de outro e do empobrecimento de uma nação indígena”, completou.
Reprodução – Facebook
Lula: "Não é só preservar, o que nós queremos saber também é quando vão nos pagar para a gente cuidar do planeta Terra"
Lula reafirmou que em 2023 organizará a Cúpula da Amazônia, com a participação dos países que abrigam o bioma:
“Nós nunca nos reunimos para formular uma proposta conjunta ao mundo. Não é só preservar, o que nós queremos saber também é quando vão nos pagar para a gente cuidar do planeta Terra, que muita gente não cuidou quando poderia cuidar. E não é fazendo favor a ninguém, é fazendo favor a nós mesmos. O mundo precisa de cuidado, de água limpa, de floresta preservada, da nossa fauna. E ninguém melhor que os indígenas para cuidar, e nós sabemos que eles são responsáveis por cuidar de quase todas as florestas no restante do mundo”.
Confira a transmissão do encontro a seguir:
Redação | Brasil 247
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