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Corrida eleitoral nos EUA teve ataque ao aborto legal, racismo e rifle AR-15 para Jesus

Todos estes candidatos extremistas foram apoiados por Trump, e o triunfo de muitos deles já era esperado
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O “farol da democracia” piscou nas eleições intermediárias, cujo resultado pode prevalecer como o retrato de um sistema eleitoral raquítico e incoerente, prejudicado por intentos de supressão do voto, ameaças de violência e rechaço às regras do jogo. 

Nas eleições intermediárias celebradas nesta terça-feira (8), estavam em jogo não apenas toda a câmara baixa, um terço do Senado e dois terços dos governos do país, como também a legitimidade e sobrevivência do sistema democrático estadunidense

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Ao longo dos últimos 40 anos, o partido do ocupante da Casa Branca sofre perdas de cadeiras na câmara baixa e no Senado em eleições intermediárias. Ao culminar o dia eleitoral, projeções preliminares indicavam que os democratas poderiam conseguir defender sua maioria no Senado, mas os republicanos estão conquistando, como se prognosticava, a câmara baixa. 

Este é sem dúvida o concurso eleitoral mais estranho que o La Jornada cobriu nas últimas três décadas; houve: candidato republicano ao Senado, ferozmente contra o aborto, que pagou pelos abortos de duas de suas namoradas; candidatos legislativos que usaram armas de alto calibre em suas mensagens de propaganda eleitoral; um aspirante ao senado da Pensilvânia que é doutor em televisão e mentiu sobre sua residência nesse estado (é de Nova JerseyColorado que perguntou ao seu público quantos rifles AR-15 ele pensavam que Jesus Cristo tinha, concluindo: “não o suficiente para evitar que o governo o matasse”

Todos estes candidatos extremistas foram apoiados por Trump, e o triunfo de muitos deles já era esperado

Vince Reinhart – Flickr
Entre uma das mensagens centrais, promovidas por Biden, é que o que está em jogo nesta eleição é a própria democracia




Disputa pelo controle

A eleição de 2022 é pelo controle de cada uma das duas câmaras do Congresso, mas a sombra de Donald Trump e seu legado prevalece neste processo. Vale recordar que esta é a primeira eleição nacional desde o intento de golpe de Estado por Trump e seus cúmplices há quase dois anos, depois de perder a eleição. Todos estes candidatos extremistas foram apoiados por Trump, e o triunfo de muitos deles já era esperado.

Ao fim da jornada eleitoral, a Casa Branca já assinalava que os resultados eram menos maus do que se prognosticava, e melhor que a média de cadeiras que tinham sido perdidas no passado em eleições intermediárias. Mas isso não relaxou as tensões internas do partido, com democratas conservadores culpando seus colegas progressistas por terem enfatizado as mensagens sobre o direito ao aborto, controle de armas, abuso policial e apoio para famílias. 

Por sua vez, os progressistas salientaram que as pesquisas de boca de urna registraram menos participação de jovens que na última eleição intermediária em 2018, o que atribuíram ao fato de que o partido não enfocou mais em conquistas como a legislação sobre mudança climática mais ambiciosa em décadas, a redução da pobreza e da fome entre crianças e o incremento de impostos para os mais ricos.


Ataque político permanente

Trump vê a eleição como um endosso à sua estratégia de ataque político permanente contra todos os que não são submissos ao ex-presidente. Os republicanos insistem que a eleição foi um referendo sobre o fracasso democrata em controlar a inflação como sua mensagem geral de economia – uma conclusão refletida nas pesquisas de boca de urna.  

Ao mesmo tempo, houve expressões alentadoras para os progressistas. A próxima governadora de Massachusetts será, pela primeira vez, uma mulher abertamente gay. Maryland elegeu a primeira mulher afro-estadunidense como governadora. E figuras como Summer Lee, uma afro-estadunidense progressista, ganhou sua cadeira legislativa como resultado de uma campanha de base impulsionada por sindicatos e movimentos sociais locais, enquanto figuras nacionais como Alexandria Ocasio-Cortez ganharam suas reeleições.

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O progressista Greg Casar, um organizador sindical e filho de imigrantes mexicanos, triunfou em sua eleição à câmara baixa representando Austin e parte de San Antonio, e prometeu ser um campeão dos direitos dos trabalhadores no Congresso.


Armas de fogo

Maxwell Alejandro Frost, um integrante do Movimento por Nossas Vidas – agrupamento contra a violência por armas de fogo, fundada por vítimas de um homem armado em uma escola na Flórida – músico e condutor de Uber, será o deputado mais jovem e o primeiro a representar sua geração, aos 25 anos de idade. 

O equilíbrio preciso do poder na legislatura não se saberá por alguns dias mais, o que é resultado de um sistema eleitoral sem administração nem autoridade federal e prejudicado pelos ataques trumpistas dos últimos anos. Por ora, há muitas especulações sobre todo tipo de cenário político. O que se pode dizer é de que, daqui em diante – e de imediato – se inicia o concurso eleitoral pela presidência de 2024 entre duas figuras que compartilham péssimas taxas de aprovação: Biden com 41% e Trump com 40%. 

Trump, que julgavam poder declarar sua intenção de lançar-se de novo à Casa Branca, só se limitou a dizer que fará um “grande anúncio” em 15 de novembro, o que se supõe que será a sua muito antecipada declaração de buscar regressar à presidência.


Violento e vingativo

Para nutrir o teor violento e vingativo que cultivou desde a sua primeira campanha presidencial, Trump declarou em seu último comício na segunda-feira (7) que a presidente democrata da câmara, Nancy Pelosi, “é um animal … e me levou ao impeachment duas vezes por nada”. Isso, dias depois que um homem com simpatias trumpistas entrou na casa de Pelosi para procurá-la e golpeou a marteladas seu esposo. 

Os republicanos mantiveram uma mensagem disciplinada sobre a inflação e a taxa de crime junto com a sempre presente mensagem anti-imigrante. Mas, com a ajuda de Trump, também alimentaram as mensagens racistas e teorias de conspiração cada vez mais extremas, alentando a violência política.

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Por sua vez, os democratas fracassaram em oferecer uma mensagem comum e enfática. Mas entre uma das mensagens centrais, promovidas por Biden, é que o que está em jogo nesta eleição é a própria democracia.


Participação dos latinos

Outro fator nesta eleição que será muito estudado por ambos os partidos com vistas a 2024 é a participação dos latinos, sobretudo considerando o giro marcado a favor dos republicanos na última eleição.

Segundo as pesquisas de boca de urna, os republicanos estavam captando 40% do voto latino, um crescimento de 38% em relação a 2020, captado por Trump, muito mais que nas eleições anteriores. Portanto, estarão sendo examinadas contendas em estados como Nevada, Arizona, Colorado e Texas – sobretudo na zona fronteiriça do Vale do Rio Grande – para analisar a tendência do voto latino. 

Por ora, persiste a tensão por possíveis focos de violência política e provocações de elementos extremistas da ultradireita em vários estados, como também possíveis violações do direito ao voto em várias entidades. O Departamento de Justiça espalhou monitores eleitorais em 64 jurisdições em 24 estados, um aumento significativo comparado há dois anos. 

David Brooks, em Nova York, e Jim Cason, em Chapel Hill, Carolina do Norte | Correspondentes do La Jornada.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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