Conteúdo da página
ToggleO movimento Dublagem Viva, liderado pela United Voice Artists, surge como uma resposta ao crescente temor dos dubladores brasileiros em relação ao uso da inteligência artificial (IA) nas produções audiovisuais. A preocupação central é que a IA possa substituir os dubladores humanos, replicando vozes a partir de padrões identificados na internet.
Contando com o respaldo de renomados dubladores como Wendel Bezerra (conhecido por sua atuação em “Dragon Ball”), Sérgio Cantú (reconhecido por sua participação em “O Espetacular Homem-Aranha”) e Gilberto Baroli (famoso por seu trabalho em “Os Cavaleiros do Zodíaco”), a petição já angariou mais de 50 mil assinaturas em protesto contra a possível “robotização” do processo de dublagem.
Estes são alguns dos rostos por trás das milhares de vozes que falam pela dublagem brasileira. Ajude a mantê-la viva assinando a nossa petição. Dublagem viva SEMPRE. pic.twitter.com/tf6bvbdAXd
— Dublagem Viva (@DublagemViva) January 22, 2024
A greve dos roteiristas de Hollywood
A preocupação com a utilização de inteligência artificial nas produções audiovisuais não se limita apenas aos dubladores. No ano anterior, tanto os atores, representados pelo SAG-AFTRA, quanto os roteiristas, pelo WGA, realizaram greves históricas em Hollywood, paralisando a indústria por mais de 148 dias.
Entre as demandas dos roteiristas, estava a proibição do uso de IA na escrita e reescrita de materiais, além da garantia de que seus roteiros não seriam usados para treinar a tecnologia.
Enquanto isso, os atores buscavam direitos sobre o uso de suas imagens digitais e compensações por isso. Após o término da greve, um acordo foi alcançado entre os sindicatos e os estúdios, que não proibiu o uso de IA, mas estabeleceu a necessidade de consentimento e formas de compensação para os profissionais.
A dublagem é muito popular no Brasil
Uma pesquisa divulgada pela Netflix Brasil revelou que entre 80% a 90% dos telespectadores das séries mais populares assistem aos programas dublados em português. No entanto, sem uma legislação que regule o uso da IA, os dubladores correm o risco de serem substituídos.
Sem regulamentação, os estúdios podem optar por utilizar a IA nas dublagens, tornando a incerteza do mercado uma realidade, visto que a IA é capaz de simular dublagens próximas às originais feitas pelos profissionais.
O texto do site oficial do movimento Dublagem Viva reflete sobre a identidade cultural brasileira e a importância de preservá-la. Destaca que a arte e a cultura são expressões profundas da identidade de um povo, moldadas por sua história e suas vivências. Adverte sobre os riscos de substituir elementos humanos por inteligência artificial generativa, enfatizando que essa substituição comprometeria a autenticidade e a riqueza das criações culturais brasileiras.
A proposta do movimento é que nenhum artista brasileiro seja substituído por inteligência artificial em qualquer forma de produção cultural. Ao mesmo tempo, defende o uso da IA como uma ferramenta para aprimorar o trabalho dos artistas, desde que não seja para substituí-los. Além disso, propõe que obras concebidas por IA não tenham direitos autorais garantidos, uma vez que emulam o trabalho de outros artistas sem consentimento.
George Ricardo Guariento | Jornalista e colaborador da Diálogos do Sul.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
Assista na TV Diálogos do Sul
Imagem: Dublagem Viva/Reprodução