Pesquisar
Pesquisar

Justiça dos EUA dá aval e fabricantes de armas do país podem ser processados pelo México

Em ação, movida desde 2022, o governo mexicano denuncia que empresas estadunidenses facilitam o tráfico de artilharia e alimentam violência
Jim Cason

Tradução:

Um painel de três juízes do tribunal federal de apelações em Massachusetts determinou na última segunda-feira (21) que o governo do México pode prosseguir com sua demanda contra sete fabricantes de armas estadunidenses, aos quais acusa de fabricar e distribuir armas nos Estados Unidos, sabendo que serão exportadas ilegalmente ao México, contribuindo diretamente para a violência.

As empresas argumentaram que a chamada Lei de Proteção do Comércio Legal em Armas (PLCAA, na sigla em inglês), que outorga ampla imunidade legal a fabricantes, distribuidores e vendedores de armas nos Estados Unidos, os protege dessa demanda apresentada pelo México. Com isso, haviam conseguido frear o processo em um tribunal distrital onde o caso foi apresentado pela primeira vez.

Leia também: Fabricantes de armas dos EUA são processados por contrabando a cartéis de droga no México

Mas os juízes do tribunal de apelações assinalaram em sua decisão emitida na segunda-feira que a PLCAA não se aplica a ações ilegais e que essa lei contém várias exceções. Uma dessas exceções, argumentam, é “uma ação em que um fabricante ou vendedor de um produto qualificado conscientemente violou um estatuto estadual ou federal aplicável à venda ou comercialização do produto, e a violação foi causa próxima do dano pelo qual se busca reparação”.

Os três juízes, em um argumento de cerca de 60 laudas avaliando o caso, assinalam que o governo mexicano acusa que os fabricantes estão conscientes das maneiras em que sua distribuição e comercialização facilitam envios ilegais de armas ao México. Resumindo a posição do governo mexicano, os juízes afirmam que “os aspectos dos negócios dos acusados que facilitam o tráfico não são consequências desafortunadas e não intencionadas de um negócio legal. Pelo contrário, são o resultado dos esforços afirmativos e deliberados dos acusados para criar e manter um mercado ilícito para suas armas no México”. E agregam, ao continuar com seu resumo da posição mexicana, que “a motivação atrás disto é o dinheiro. O México calcula que os acusados recebem de maneira coletiva mais de 170 milhões de dólares ao ano pela venda de armas traficadas ao México”.

A decisão dos juízes em princípio tem o efeito de retornar o caso ao tribunal distrital para prosseguir com o caso, no qual o México argumenta que as empresas armamentistas estão facilitando vendas ilegais que causam danos severos ao outro lado da fronteira. “Por isso, revertemos a decisão do tribunal distrital de que o PLCAA proíbe as acusações do México”, afirmam, ordenando que o caso siga adiante.

No entanto, pode-se esperar que os fabricantes apelem este caso e não se pode descartar que, se não conseguirem anulá-lo, o levem à Suprema Corte dos Estados Unidos.

Leia também: Lei dos EUA impede que armamentistas do país sejam julgados por facilitar tráfico de armas

Jonathan Lowy, advogado para o governo do México neste caso e especialista no PLCAA, comentou em entrevista ao La Jornada que “este tribunal acertou, o governo do México tem o direito de apresentar seu caso ante um tribunal. Fez alegações muito sérias e tem a intenção de comprová-las. Estão solicitando o direito de apresentar esta evidência ante um juiz e um júri”.

Lowy, que também é presidente do Global Action on Gun Violence, assinalou que o “México apresentou esta demanda para evitar o fluxo criminoso de armas traficadas através da fronteira. Se o México for exitoso nisto, beneficiará o povo mexicano, como também o povo dos Estados Unidos”.

Questionado sobre o que esperar do processo, Lowy disse: “não vou especular sobre o que farão os acusados. Mas espero estarmos de volta ao julgamento ante o tribunal para comprovar nosso caso”.

O México apresentou sua demanda civil contra empresas fabricantes de armas e um distribuidor nos Estados Unidos em 4 de agosto de 2022 ante o Tribunal Distrital dos Estados Unidos em Massachusetts.

David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

LEIA tAMBÉM

26009193562_179216de77_b
Trump sugere usar militares contra “inimigos internos” e historiadora afirma: “é um ensaio”
38 anos de prisão e multa de US$ 2 mi - conheça detalhes do julgamento de García Luna nos EUA
38 anos de prisão e multa de US$ 2 mi: conheça detalhes do julgamento de García Luna nos EUA
Amianto liberado por ataques de Israel pode gerar câncer durante décadas em Gaza
Amianto liberado por ataques de Israel pode gerar câncer durante décadas em Gaza
Sri Lanka - os desafios do presidente marxista Anura Kumara Dissanayake
Sri Lanka: os desafios do presidente marxista Anura Kumara Dissanayake