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Foto: Kremlin

“Comunidade de inteligência” dos EUA critica China e Rússia por não “jogarem conforme as regras”

Os senadores e líderes debateram o que entendem como os novos desafios do país, incluindo a “competição estrangeira”
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Washington, DC

Tradução:

Beatriz Cannabrava

* Atualizado em 18/03/2024 às 11h50.

A diretora de Inteligência Nacional, Avril Haines, declarou na última segunda-feira (11) em uma audiência diante o Comitê de Inteligência do Senado que algumas partes do México estão sob controle dos cartéis de narcotráfico ao abordar as diversas ameaças no nível mundial que preocupam os Estados Unidos, desde Rússia e China, Gaza e “atores malignos” entre outros.

Em resposta a uma pergunta sobre o México, do senador Angus King na sessão, Haines declarou: “creio que não há dúvida que é um desafio para o governo do México enfrentar os cartéis”. Agregou que “há partes do país que efetivamente estão sob o controle dos cartéis”. 

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Indicou ao mesmo tempo que “nossa cooperação com eles [o governo do México] melhorou ao longo do tempo… e trabalhamos com eles” em enfrentar esse desafio. 

Na longa sessão sobre a “avaliação anual de ameaças no nível mundial”, Haines estava acompanhada pelo diretor da CIA William Burns, o diretor do FBI Christopher Wray, o diretor da Agência de Segurança Nacional, general Timothy Hawk e o diretor da Agência de Inteligência de Defesa, general Jeffrey Cruz.  

Comunidade de inteligência

Os senadores e líderes da chamada “comunidade de inteligência” abordaram o que veem como os novos desafios dos Estados Unidos começando primeiro com a “competição estrangeira” com poderes “autoritários” como China e Rússia que, acusam, não jogam com as regras da ordem internacional estabelecido depois da Segunda Guerra Mundial e que agora estão buscando minar e “debilitar” o poder a influência estadunidense no mundo.

Uma segunda categoria de ameaças transnacionais identificadas por Haines incluem a mudança climática, corrupção, narcotráfico, terrorismo e crime cibernético. E a terceira categoria foi identificada como conflitos regionais e locais e suas consequências internacionais. 

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“Organizações criminosas transnacionais e operações de tráfico humano exploram cada vez mais migrantes através da extorsão, sequestros e tráfico humano”, indicou Haines em relação ao México em sua declaração de abertura. Sublinhou que “a ameaça de drogas ilícitas permanece a níveis históricos, com organizações criminosas transnacionais mexicanas fornecendo e trasladando grandes montantes de opioides sintéticos como fentanil aos Estados Unidos”.

Recordou que mais de 100 mil estadunidenses morreram por overdose de drogas ilícitas durante o último ano e grande parte dessas mortes “foram atribuídas ao fentanil ilícito”. A ameaça do fentanil à saúde e bem-estar dos estadunidenses “permanece como uma alta prioridade para a comunidade de inteligência”, agregou. 

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O chefe do FBI, Wray, disse que “a vasta maioria do fentanil que está matando os estadunidenses chega, claro, do México”, e recordou que a maioria dos precursores provém da China.  

A apresentação de Haines, como tem ocorrido com outras audiências sobre assuntos internacionais e nos atos de campanha do comandante em chefe Joe Biden e outros, foi brevemente interrompida por gritos de “deixem de armar Israel” e outras expressões contra a cumplicidade estadunidense na guerra contra os palestinos em Gaza.

Cartéis são fonte de desestabilização no México e prioridade militar para os EUA, afirma Comando Norte

No último dia 13, o chefe do Comando Norte dos Estados Unidos (Northcom) declarou que os cartéis no México e em outras partes do hemisfério continuam “fomentando instabilidade” e criando oportunidades para “adversários estatais e não estatais” na fronteira sul dos Estados Unidos.

O general Gregory Guillot, em testemunho perante o Comitê de Serviços Armados da câmara baixa do Congresso, afirmou: “organizações criminosas transnacionais no México e em outras partes do hemisfério ocidental continuam fomentando instabilidade e desafiando o império da lei, criando oportunidades potenciais para nossos adversários estatais e não estatais para ampliar seu acesso e influência em nossas proximidades sulistas”.

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Expressou preocupação porque “os cartéis também demonstraram uma maior disposição de enfrentar diretamente os militares mexicanos, forças de segurança e oficiais do governo no México”. Agregou que a “migração irregular através do México alcançou níveis recordes no último ano, e a violência relacionada ao narcotráfico cresceu com cartéis rivais batalhando pelo controle de rotas de tráfico de drogas e pessoas”.

O Comando Norte e a relação militar com o México

Em parte por estas ameaças, acrescentou, os Estados Unidos estão ampliando sua relação militar com o México. “Contrabalançar a influência de competidores na região continua sendo uma prioridade chave para o USNORTHCOM e para nossos sócios militares mexicanos, e como resultado direto, os militares estadunidenses e mexicanos são mais compatíveis operacionalmente do que em qualquer outro ponto em nossa história compartilhada”, afirmou o general Guillot.

Citou em particular exercícios militares conjuntos como o Exercise Aztec Alligator (Exercício Lagarto Azteca) como evidência de uma “relação militar ampla, resiliente e focada” e mostra de cooperação entre sócios para enfrentar “desafios compartilhados de segurança”.

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Para o general encarregado da segurança da América do Norte, um dos êxitos mais importantes é definir junto com o México um inimigo comum. Concluiu que os esforços dos Estados Unidos com o México “simultaneamente têm fortalecido nossa segurança enquanto têm reduzido a dependência do México de equipamentos e contratos da Rússia e PRC [China] que frequentemente vêm com condições”.

Prioridades militares do Comando Norte

Na audiência, Guillot e outros altos funcionários militares estadunidenses abordaram as prioridades de segurança para o hemisfério ocidental e as “ameaças” aos Estados Unidos, incluindo atores estatais como Rússia, China, Coreia do Norte e Irã, bem como os não estatais, incluindo as organizações criminosas.

A chefe do Comando Sul dos Estados Unidos (USSOUTHCOM), encarregada da segurança do hemisfério ocidental, general Laura Richardson, que também testemunhou na audiência, afirmou que “a Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos reconhece o vínculo direto entre a prosperidade e segurança da região e a nossa”.

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Explicou que a China busca substituir os Estados Unidos como o principal poder econômico e militar do mundo, mas assegurou que ela não permitirá isso e buscará promover a cooperação com “nossos sócios muito dispostos” das 28 democracias com as quais trabalha no hemisfério. “Eu aprendi que a presença física importa. Se queremos ganhar, temos que estar no terreno”, sublinhou a general Richardson.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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