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ToggleNeste domingo (17), os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) chegaram a Israel para encontros com organizações e políticos do país. O retorno ao Brasil está previsto para sexta-feira (22).
A agenda inclui reuniões com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu (terça, 19) e com o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz (quinta, 21), além de visitas a locais alvos da ofensiva de 7/10 pelo Hamas (nesta segunda, 18), a uma indústria aeronáutica e a um sistema de saneamento.
Convite e convidados
Em 11 de março, assessores dos governadores informaram que o convite havia partido do governo de Israel. Um dia depois, a embaixada israelense no Brasil desmentiu a informação, comunicando à CNN que, na verdade, a iniciativa era de entidades civis.
“Os governadores não foram convidados pelo Estado de Israel, mas sim por organizações da sociedade civil, uma vez que esta delegação não é uma iniciativa governamental”, diz a nota.
Além de Tarcísio e Caiado, também foram convidados os governadores Romeu Zema (Novo-MG) e Cláudio Castro (PL-RJ), além de Jair Bolsonaro – que não pode ir porque está com passaporte apreendido desde 8 de fevereiro.
Razões da visita
Ainda em 11 de março, quando anunciou o convite de Netanyahu a Israel, Tarcísio afirmou que viajaria ao país “sem ideologia e sem política”. Os acontecimentos, no entanto, não corroboram a declaração.
Coincidentemente, a agenda foi iniciada nesta segunda exatamente um mês após as declarações do presidente Lula, na Etiópia, equiparando o genocídio em Gaza às ações de Hitler contra judeus na Alemanha nazista.
Após a fala, que ecoou e recebeu apoio internacional, Lula foi declarado persona non grata pelo Estado sionista e o governo brasileiro convocou o embaixador em Israel, Frederico Meyer, de volta ao Brasil.
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A gestão de Tarcísio, no portal oficial do governo, chegou a afirmar ainda que a excursão visa “trocar experiências para o desenvolvimento de novas tecnologias no Estado”, mas os convites foram feitos exclusivamente a figuras da oposição ao Governo Lula — Netanyahu, inclusive, enviou uma carta pessoal a Bolsonaro.
No X (ex-Twitter), o professor de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em História da UFRJ afirma que a viagem mostra o caráter estratégico das relações entre Israel e a extrema-direita do Brasil:
Além de tentativa de intervenção na política local (que nesse caso funciona em mão dupla), o convite de Nethanyahu a Caiado e a Tarcísio (principalmente depois da fala dele sobre a ONU) mostra que as relações entre a extrema direita no Brasil e Israel são estratégicas.
— Michel Gherman (@michel_gherman) March 11, 2024
Já a deputada estadual Monica Seixas (PSOL-SP), chama atenção para a proximidade entre Tarcísio (cuja polícia militar opera um massacre na Baixada Santista) e Netanyahu:
Qualquer semelhança de atitude (NÃO) é mera coincidência.
Tarcísio, que governa um estado cuja uma operação no litoral já se tornou o 2o. maior massacre da local e debocha da ONU, viaja à Israel a convite de Benjamin Netanyahu.Enquanto isso a violência lá e aqui só aumenta. pic.twitter.com/StHA7tItZO
— Monica das Pretas (@MonicaSeixas) March 11, 2024
A ida de Tarcísio e Caiado a Israel de fato não surpreende. Em 8 de março último, o carioca instalado no Palácio dos Bandeirantes debochou da denúncia feita por entidades brasileiras contra ele na ONU em razão dos abusos cometidos pela polícia paulista em Santos. “O pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não estou nem aí”, declarou a jornalistas.
A aproximação a Netanyahu também se mostra como mais um aceno dos governadores aos bolsonaristas, que defendem o genocídio operado pelo Estado sionista em Gaza – com mais de 30 mil mortos, sobretudo mulheres e crianças – como parte de uma guerra sagrada.