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Montagem: George Guariento

Quem são Rivaldo Barbosa e Irmãos Brazão, delatados por Lessa no caso Marielle

Os três foram presos neste domingo (24), acusados de serem os mandantes da execução da vereadora e seu motorista, Anderson Gomes, em 14 março de 2018
George Ricardo Guariento
Diálogos do Sul Global
Taboão da Serra

Tradução:

Neste domingo, 24 de março de 2024, foram relevadas informações cruciais sobre o brutal assassinato de Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes. Os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, juntamente com o delegado Rivaldo Barbosa, foram detidos no Rio de Janeiro acusados de serem os mandantes do hediondo crime que chocou o país em 14 de março de 2018. 

As prisões ocorreram de forma preventiva durante a Operação Murder, Inc., uma ação conjunta entre Procuradoria-Geral da República (PGR), Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e Polícia Federal (PF).

A revelação dos nomes dos detidos veio à tona através da delação de Ronnie Lessa, que admitiu ser o executor do crime que ceifou a vida de Marielle. Segundo Lessa, Domingos Brazão e Chiquinho Brazão teriam arquitetado o crime, enquanto Rivaldo Barbosa seria a garantia de que as investigações não prosperariam. 

Leia também | Extermínio de Marielle Franco revela uma nação ameaçada por sicários

A autorização para a Operação Murder, Inc. foi concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Os Brazão são membros de uma proeminente família política do estado do Rio de Janeiro, enquanto Rivaldo foi indicado a chefe de Polícia Civil do RJ, um dia antes do crime, por Braga Neto, que naquele tempo comandava a intervenção federal na segurança pública do Rio – esse fato acrescenta uma nova camada de complexidade ao caso. A seguir, confira mais informações sobre os investigados.

Domingos Brazão

Com 26 anos de vida pública, Domingos Brazão, de 59 anos, transitou por diferentes esferas do poder no Rio de Janeiro. Iniciando como vereador, ele posteriormente ocupou o cargo de deputado estadual por cinco mandatos consecutivos, abrangendo o período de 1999 a 2015. Mais recentemente, se tornou conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ).

Ao longo de sua carreira, Brazão não esteve livre de controvérsias, enfrentando processos judiciais e suspeitas que vão desde corrupção e fraude a acusações de homicídio. Em janeiro, seu nome surgiu novamente em meio a uma delação premiada feita pelo PM reformado Ronnie Lessa, que o apontou como um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Uma possível motivação por trás do atentado contra Marielle seria uma suposta vingança contra Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur e ex-deputado estadual pelo PSOL, com quem Brazão teve conflitos enquanto ambos estavam na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Vale destacar que Marielle trabalhou ao lado de Freixo por cerca de 10 anos antes de se tornar vereadora.

Em sua trajetória política, Brazão também enfrentou acusações de compra de votos, durante campanhas eleitorais em 2011, e um processo judicial por injúria e ameaça, em 2014, contra a radialista e então deputada Cidinha Campos.

João Francisco Inácio Brazão

João Francisco Inácio Brazão, mais conhecido como Chiquinho Brazão, tem uma extensa trajetória na política carioca. Foi vereador pelo MDB por 12 anos, incluindo os dois primeiros anos do mandato de Marielle Franco, entre janeiro de 2016 e março de 2018.

Chiquinho, cujo nome foi mencionado na delação de Lessa, afirmou ter mantido uma relação cordial com Marielle durante os dois anos em que compartilharam o plenário da Câmara dos Vereadores.

Em 2018, ele foi eleito para a Câmara dos Deputados pelo Avante e, em 2022, conquistou a reeleição pelo União Brasil. Em 2023, assumiu a Secretaria Especial de Ação Comunitária na gestão do prefeito Eduardo Paes (PSD), mas deixou o cargo em fevereiro deste ano.

Chiquinho apoiou a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e recebeu passaporte diplomático durante seu governo.

A atenção sobre o nome do deputado cresceu após seu irmão, Domingos Brazão, ter sido mencionado em um depoimento do miliciano Orlando Curicica à Polícia Federal, em dezembro de 2018, no âmbito das investigações sobre a execução de Marielle. Curicica, um dos chefes da milícia em Jacarepaguá, disse à PF que participou de uma reunião no Rio na qual foi discutido, em sua interpretação, o assassinato da vereadora.

Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, é historicamente dominada pela milícia e serve como reduto político e eleitoral da família Brazão. A menção de Chiquinho na delação de Ronie Lessa foi o que levou o caso ao Supremo Tribunal Federal, uma vez que o deputado possui foro privilegiado.

Rivaldo Barbosa 

Com uma carreira sólida no serviço público, Barbosa é o quarto ex-chefe da corporação a enfrentar acusações criminais desde 2008. Formado em Direito pela UniSuam, com um MBA em Inteligência e Estratégia pela Universidade Salgado de Oliveira, atuou como professor de Direito Penal e ingressou no serviço público em 2003, ganhando destaque como delegado quando liderou a Delegacia de Homicídios de 2012 a 2015. 

Antes disso, ocupou o cargo de subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança, de 2008 a 2011, além de atuar como vice-diretor da Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos e chefe da Assessoria de Planejamento.

Como mencionado, ele foi indicado por Braga Netto ao cargo de chefe da Polícia Civil um dia antes do assassinato de Marielle Franco, em 14 de março de 2018, e na época ofereceu apoio e conforto à família da vereadora.

A nomeação aconteceu durante a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, comandada por Braga Netto e decretada pelo então presidente Michel Temer em 2018, em resposta à escalada da criminalidade durante o Carnaval.

Agora, Barbosa está sob suspeita de ter utilizado sua posição para proteger os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, impedindo que as investigações sobre o caso Marielle os alcançassem.

Durante as primeiras fases da apuração, Barbosa assegurou que haveria empenho total e que os responsáveis pelo crime não ficariam impunes. 

Ele se opôs à federalização das investigações, que a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou sob argumento de que poderia haver interferências e obstruções de Justiça na esfera estadual.

Em 27 de maio de 2020, o pedido de federalização das investigações foi rejeitado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Revelação “diz muito sobre o Rio de Janeiro”

Conforme revelado pelo inquérito da Polícia Federal divulgado neste domingo (24) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, Barbosa teria desempenhado um papel crucial na garantia da impunidade no caso do assassinato de Marielle.

Leia na íntegra

Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur, na época do mesmo partido de Marielle Franco (PSOL-RJ), apontou em entrevista à GloboNews o envolvimento de Rivaldo como a maior surpresa no desfecho da investigação, já que ele acolheu as famílias um dia após o crime, uma demonstração de frieza e certeza da impunidade.  

Em um tuíte, freixo desabafou: “Foi para Rivaldo Barbosa que liguei quando soube do assassinato da Marielle e do Anderson. Agora Rivaldo está preso por ter atuado para proteger os mandantes do crime. Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro.”

O Instituto Marielle divulgou um vídeo gravado pela mãe e pela irmã da vereadora, Marinete da Silva e Anielle Franco: “Os avanços nas investigações do caso Marielle e Anderson é um passo importante na nossa busca por justiça. Seguiremos firmes, acompanhando de perto as investigações e na busca por respostas concretas, verdade e reparação”. 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

George Ricardo Guariento Graduado em jornalismo com especialização em locução radiofônica e experiência na gestão de redes sociais para a revista Diálogos do Sul. Apresentador do Podcast Conexão Geek, apaixonado por contar histórias e conectar com o público através do mundo da cultura pop e tecnologia.

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