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Foto: Quds News Network / X

Até quando os assassinos de jornalistas palestinos continuarão impunes?

Interromper o ataque direto aos jornalistas palestinos é uma missão humanitária que recai sobre a comunidade internacional, instituições globais e os defensores da liberdade em todo o mundo
Wisam Zoghbour
Diálogos do Sul Global
Gaza

Tradução:

Atualizado em 08/05/2024 às 15h25.

O falecido Gershon Knispel* escreveu: “Na guerra, a verdade é a primeira vítima”…

O Estado de Ocupação Israelense habituou-se a matar a verdade e ocultar seus significados e registros, através do direcionamento sistemático de jornalistas durante seu trabalho de campo, sem se importar com o direito internacional, humanitário ou com leis de direitos humanos, nem com liberdades públicas, direito à opinião e liberdade de expressão.

A entidade sionista, como ocupante, continua em sua agressão e guerra aberta contra os jornalistas palestinos que representam a verdade ao documentar os crimes de genocídio na Palestina, especialmente em Gaza, que testemunha crimes de guerra diários contra o povo palestino, com mais de 120 mil palestinos, entre mártires, desaparecidos e feridos, e mais de 70% das propriedades dos cidadãos destruídas, paralisando completamente a infraestrutura de saúde do enclave.

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Esses jornalistas, como todos os outros filhos do povo palestino, tornaram-se alvos do exército de ocupação israelense, especialmente porque documentam os crimes de genocídio em Gaza, onde o número de jornalistas mártires atingiu 134** desde o início da guerra israelense em Gaza até o terceiro de maio, coincidindo com o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, como documentado pelo Sindicato de Jornalistas Palestinos.

É certo que a continuidade da impunidade do Estado de Ocupação Israelense os incentiva a cometer mais crimes de genocídio contra os jornalistas, e é igualmente claro que a procrastinação do Procurador-Chefe do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, em abrir uma investigação independente sobre os crimes da ocupação, especialmente após a descoberta de dezenas de valas comuns em Gaza, ou emitir mandados de prisão contra criminosos de guerra israelenses, em particular contra o primeiro-ministro da ocupação, Benjamin Netanyahu, e seus líderes de guerra, incentiva esse governo a persistir em sua agressão e guerra aberta contra o povo palestino e especialmente contra os jornalistas.

Por uma estranha coincidência, os Estados Unidos são parceiros do Estado de Ocupação na agressão ao povo palestino e no financiamento e apoio aos crimes de genocídio. Testemunhamos, neste momento, uma revolta popular que começou nas mais antigas universidades estadunidenses, mas o governo trabalha para reprimir os protestos estudantis e restringir liberdades e direitos humanos, especialmente o direito à opinião e à liberdade de expressão. Eles deliberadamente buscam ocultar a verdade e silenciá-la perseguindo jornalistas e os impedindo de documentar a revolta nas universidades, violando assim os direitos humanos e as liberdades.

O Estado de Ocupação Israelense não se contenta em atacar jornalistas palestinos durante seu trabalho de campo, embora muitos deles usem equipamentos de segurança profissional, como coletes à prova de balas e capacetes que os identificam, mas também os atacam em suas casas com suas famílias, como documentam relatórios e estatísticas divulgados pelo Sindicato de Jornalistas Palestinos indicam que 77 casas pertencentes a jornalistas foram destruídas, e mais de 30 civis de famílias de jornalistas foram mortos, e outros ficaram feridos, numa tentativa desesperada de silenciar e perseguir a voz da verdade e prejudicar o papel heroico dos jornalistas em documentar os crimes de genocídio em Gaza.

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A agressão a jornalistas, suas residências e locais de trabalho tornou-se sistemática por parte das forças de ocupação israelenses, resultando na destruição de cerca de 86 escritórios e instituições de mídia em Gaza até o momento da redação deste artigo. Enquanto isso, os crimes de genocídio continuam diariamente sem interrupção, com suas aeronaves, especialmente drones, perseguindo jornalistas de todas as formas, resultando na morte de alguns e no ferimento de outros. 

Apesar dos riscos, das dificuldades e do direcionamento deliberado contra jornalistas palestinos e suas famílias como alvos, na tentativa de silenciá-los e prejudicá-los, os jornalistas continuarão desempenhando seu papel, escrevendo com sangue em prol da Palestina, testemunhando os sacrifícios que enfrentam no exercício de suas funções e defendendo o futuro de seus filhos. Eles permanecerão documentando e revelando a verdade, expondo as práticas e os crimes do Estado de Ocupação sem desanimar ou desistir. Continuarão a personificar a frase de sua colega jornalista, Shireen Abu Akleh: “Não é fácil mudar a realidade, mas pelo menos consegui fazer com que minha voz fosse ouvida pelo mundo”, enquanto seus assassinos permanecem impunes.

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E, por fim, deter os crimes de genocídio em Gaza e interromper o ataque direto aos jornalistas palestinos é uma missão humanitária que recai sobre a comunidade internacional, instituições globais e os defensores da liberdade em todo o mundo. Perseguir e julgar os criminosos de guerra israelenses, e garantir que não escapem impunes pelos crimes cometidos contra os jornalistas e suas famílias permanece uma missão atribuída às organizações internacionais, especialmente aquelas dedicadas à defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa, até que esses assassinos sejam detidos e levados a julgamento.

Nota:

* Refere-se ao artigo de Amyra El Khalili, “O genocídio em Gaza – pela memória dos que já não podem mais falar”. Portal Oficial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, https://sjsp.org.br/o-genocidio-em-gaza-pela-memoria-dos-que-ja-nao-podem-mais-falar/

** No dia 1º de maio de 2024, investigações preliminares realizadas pelo Committee to Protect Journalists (CPJ) revelaram que pelo menos 97 jornalistas e profissionais da mídia estavam entre as mais de 35 mil mortos desde o início da guerra, em 7 de outubro. O banco de dados não inclui todas as vítimas até que sejam concluídas investigações adicionais sobre as circunstâncias que as cercam. O banco de dados do CPJ continuará a ser atualizado à medida que investigações adicionais forem concluídas para esclarecer as circunstâncias dessas mortes. Vale ressaltar que o CPJ contabiliza apenas os jornalistas mortos enquanto estavam em serviço em campo. No entanto, o Sindicato dos Jornalistas também registra os jornalistas palestinos mortos em suas residências, já que muitos foram alvo de ataques diretos que resultaram na destruição de redações, escritórios e equipamentos de mídia, levando-os a trabalhar de casa. É importante mencionar que as restrições impostas por Israel dificultam a presença de investigadores internacionais independentes, o que pode explicar a discrepância entre os números divulgados, que variam de 100 a 150 jornalistas mortos. [Link: https://cpj.org/2024/05/journalist-casualties-in-the-israel-gaza-conflict/]


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Wisam Zoghbour Jornalista, diretor da Revista Liberdade de Gaza (Al-Hurriya) e membro do Secretariado-Geral do Sindicato dos Jornalistas Palestinos.

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