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Foto: Stephen Melkisethian / Flickr

EUA atacam China, Rússia e imigrantes, mas real ameaça à democracia é interna

Futuro do país depende de quão bom, belo, furioso e verdadeiro é o baile neste precipício com os ritmos que desde sempre migram para cá de todo o mundo
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

“Bailando no precipício” é o nome da programação especial do Carnegie Hall inspirada pela cultura durante a República de Weimar, o período na Alemanha entre 1919 e 1933 marcado por graves problemas econômicos, desigualdade social e polarização política que culminou com o surgimento do nazismo e o genocídio e devastação da Segunda Guerra Mundial, enquanto na Broadway há uma nova versão da grande obra Cabaret sobre esse mesmo tempo, nos cinemas é um sucesso o filme Guerra Civil sobre repórteres que se encontram em um país onde a democracia foi destruída – tudo ressoa com este momento tão sombrio nos Estados Unidos.

O fato de uma atriz pornô chamada Stormy enfrentar e possivelmente ser um fator para deter a figura que lidera a corrente neofascista que busca retornar à Casa Branca empregando retórica hitleriana – os imigrantes “envenenam o sangue de nosso país”, disse Trump – e que promete subjugar e suprimir todo adversário em seu caminho, já é por si só uma cena de um filme de segunda categoria.

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Talvez seja apropriado que, neste ponto do “experimento” americano, ele seja expresso por meio de um bufão perigoso de um lado, e pelo mais velho da velha guarda, o presidente atual, e com uma atriz pornô desnudando toda a farsa. Esta atriz é talvez a figura mais honesta e corajosa neste teatro político – não esconde quem é, não se deixa intimidar apesar das ameaças de morte por fanáticos trumpistas. Esta democracia será resgatada por Stormy? O nome de Stormy estará nos livros didáticos de história, ao lado de Jefferson, Franklin e Adams?

Gaza e a obscenidade verdadeira

Enquanto isso, a verdadeira obscenidade desta farsa é que a cúpula política continua se contorcendo para justificar sua cumplicidade com o que o resto do planeta chama de início de um genocídio, fingindo que é preciso debater e avaliar, já que não está claro se há violações da lei internacional. Não é tão complicado, a pergunta é muito simples: você é a favor ou não de matar 8 mil crianças e ferir milhares mais? Ponto.

Neste contexto, vale a advertência de Hannah Arendt: “A morte da empatia humana é um dos primeiros e mais notáveis sinais de uma cultura que está prestes a cair na barbárie”.

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Mas, ao mesmo tempo, alguns setores nobres da juventude continuam resgatando o país, com suas rebeliões contra a cumplicidade de seu governo com a barbárie israelense em Gaza, com seu rechaço à mentira oficial, com sua insistência em ter direito a um futuro diante da crise climática. Mas as opções políticas que lhes são oferecidas são, por definição, reacionárias e estancadas no passado.

As “eternas” ameaças externas

A cúpula continua ressuscitando antigas “ameaças” do exterior: lá vêm os russos (de novo), também os chineses, os imigrantes “invasores”, os cartéis mexicanos. Tudo é uma ameaça, tudo dá medo, tem que ser o poder mundial mais temeroso da história, não?

E enquanto todos estes monstros estrangeiros aparentemente estão debaixo de cada cama deste país, a ameaça real é interna. Não se pode garantir que cada voto conte nesta democracia, e mais ainda, tanto Trump quanto todo líder do Partido Republicano se recusam a se comprometer a respeitar o resultado das eleições nacionais caso percam – ou seja, as regras fundamentais do jogo democrático já não são aceitas por uma das equipes no campo.

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Nas ruas, neonazistas marcham abertamente, há campanhas de direita para censurar livros “perigosos”, a sociedade mais armada do planeta (as balas já são a principal causa de morte de menores de idade), e níveis sem precedentes de desconfiança em todas as principais instituições políticas, todos sinais de um deterioro da infraestrutura política e social dos Estados Unidos.

O futuro deste país depende de quão bom, belo, furioso e verdadeiro é o baile neste precipício com os ritmos que desde sempre migram para cá de todo o mundo.

Bônus Musical


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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