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Foto: UNRWA / X

Sem comida, hospitais e cuidados básicos: o tormento das mães e gestantes em Gaza

No momento em que começa uma nova vida, o que deveria ser um momento de alegria se vê obscurecido pela morte, pela destruição e o desespero
Natalia Kanem
IPS
Genebra

Tradução:

Ana Corbusier

Enquanto milhões de crianças e suas famílias festejavam suas mães no último domingo (12), meus pensamentos estão com as mulheres grávidas e as novas mães que nossas equipes do UNFPA, o organismo das Nações Unidas para a saúde sexual e reprodutiva, apoiam em mais de 130 países do mundo; levo em meu coração todas aquelas que, tragicamente, nunca viverão para ver seus recém-nascidos.

Mais de 800 mulheres por dia – uma a cada dois minutos – morrem por complicações derivadas da gravidez e do parto, que são totalmente evitáveis. A situação é especialmente grave para as mulheres e meninas presas nos crescentes conflitos e crises que há no mundo. Mais da metade das mortes maternas ocorrem em países afetados por crises humanitárias ou situações vulneráveis.

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Em Gaza, as mulheres enfrentam condições atrozes antes, durante e depois do parto. . Além disso, o acesso gravemente limitado aos serviços de saúde e à atenção obstétrica de urgência põe em perigo a vida de mulheres e recém-nascidos.

Doutora Natalia Kanem, diretora executiva do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas)

Atualmente, os principais hospitais estão em ruínas em todo o território de Gaza e nem um único centro de saúde está funcionando plenamente, depois dos mais de 440 ataques sofridos pelo sistema de assistência à saúde desde que começou a guerra em outubro de 2023.

Cenário surreal

Na Maternidade Al-Helal Al-Emirati, um dos poucos centros de saúde que restam em Gaza, e agora o principal centro médico para mulheres grávidas em Rafah, só tem cinco camas para partos com uns 60 por dia no momento de redigir este informe. Pede-se às mulheres que desejam dar à luz na sala que tragam seu próprio colchão e um travesseiro. “Não paramos de dar à luz”, explicou a parteira Samira Hosny Qeshta. “Dizemos à mulher que acaba de dar à luz: necessitamos da cama. Levante-se e sente-se em uma cadeira”, lamentou-se.

A maioria das mulheres não recebeu atenção pré-natal, informou, e chegam ao hospital esperando o melhor. Muitas têm infecções devido às condições de vida anti-higiênicas nos acampamentos superpovoados, onde centenas de pessoas chegam a compartilhar uma única privada e há escassez de água potável e insumos higiênicos. “Vivemos em uma tenda de campanha, que cada vez que chove, inunda e nossas camas se molham”, relatou Suhad, que está grávida de nove meses e tem uma cesárea programada. Horas depois, estará de novo na tenda.

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“Será extremamente difícil depois do parto”, visualizou. “Desde a dor física até o frio gelado; e não há roupa de bebê. Que fez ele para nascer em uma situação assim?”, perguntou. Mas ainda que seus bebês nasçam sãos e salvos, milhares de mulheres como Suhad enfrentam a inevitável incógnita: E agora? Como manter seu recém-nascido limpo, aquecido, alimentado e vivo?

Desidratadas e desnutridas

Muitas destas mães estão desidratadas e desnutridas demais para amamentar seus filhos, e não há leite em pó disponível.

O UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) entregou kits de saúde reprodutiva que ajudaram mais de 20.000 mulheres a dar à luz em Gaza. Estabelecemos uma clínica de maternidade móvel em Rafah, e há duas mais a caminho. Centenas de parteiras formadas pelo UNFPA ajudam as mulheres grávidas e as mães primíparas que não podem chegar a um centro de saúde ou hospital.

Também distribuímos artigos de higiene, fraldas, roupa de bebê, mantas e outros artigos essenciais para milhares de mães primíparas. No entanto, tudo isso não é mais que uma gota em um oceano de necessidades.

Não ao abandono

O mundo não deve abandonar as mães de Gaza. Elas, seus recém-nascidos e todos os civis devem ser protegidos e suas necessidades atendidas. Os hospitais e o pessoal sanitário nunca devem ser objetivos (militares).

Desde tempos imemoriais, as distintas culturas do mundo honraram o caráter sagrado da maternidade. No Dia das Mães, homenageamos esse vínculo sagrado, recordando todas as mulheres que criam, protegem e alimentam a vida, inclusive nas circunstâncias mais catastróficas.

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As mães em tendas inundadas ou que fogem das bombas. As mães dos reféns que ainda esperam que suas famílias se recuperem. As mães e os recém-nascidos que lutam por sua vida em abarrotadas salas de hospital, sem medicamentos nem insumos adequados.

Todas essas mulheres necessitam de serviços sanitários e apoio para salvar suas vidas. Necessitam de dignidade. E sobretudo, necessitam de paz. Esta guerra deve terminar já.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Natalia Kanem Diretora-executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

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