O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, perguntou na última terça-feira (11): “Quando o Ocidente se dará conta de que seus esforços para manter sua hegemonia mediante métodos de chantagem, sanções ilegais, ultimatos e até mesmo a força militar estão condenados ao fracasso?”, e ele mesmo respondeu: “Espero que isso ocorra em algum momento, embora não acredite que seja logo”.
Lavrov falou com a imprensa ao término da reunião de chanceleres do grupo dos BRICS, que se celebrou na cidade de Nizhny Novgorod em acordo com a presidência rotativa exercida este ano pela Rússia, ocasião que aproveitou para reiterar as principais posições da política externa do Kremlin sobre a interferência do Ocidente no conflito armado na Ucrânia, a impossibilidade de negociar com o governo de Volodymyr Zelensky enquanto não aceitar as condições de Moscou e o risco de que os Estados Unidos provoquem uma guerra nuclear que afetaria mais a Europa, entre outras.
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Porém, depois de falar com seus colegas dos BRICS, Lavrov também deixou aberta a porta para o diálogo com os Estados Unidos e seus aliados ao sublinhar: “Se o Ocidente se der conta da necessidade de um diálogo de igual para igual com o resto do mundo, asseguro que os membros do grupo dos BRICS e outros países da maioria mundial estarão dispostos a isso, mas, é claro, será necessário acordar os termos em que se vai levar a cabo esse diálogo”.
Mudanças na doutrina nuclear russa
Paralelamente à reunião de chanceleres dos BRICS, Lavrov e seu homólogo da Venezuela, Yván Gil, cujo país quer acelerar sua entrada no grupo de economias emergentes, assinaram um memorando para contrapor juntos as sanções dos Estados Unidos e seus aliados. Entretanto, o vice-chanceler russo, Serguei Ryabkov, deu a entender ontem que a Rússia poderia modificar sua doutrina nuclear para ampliar de modo legal a capacidade de responder às ações inaceitáveis dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
O funcionário diplomático, encarregado da relação com os Estados Unidos, não quis precisar à agência de notícias Interfax o que seria mudado na doutrina nuclear da Rússia, mas argumentou a necessidade de fazê-lo: “Só posso dizer que a situação tende a se agravar cada vez mais, e os desafios que se multiplicam como resultado das ações inaceitáveis e que geram uma escalada por parte dos Estados Unidos e seus aliados da OTAN, sem dúvida nos obrigam a pensar de que maneira nossos documentos básicos em matéria de contenção nuclear podem se adaptar melhor às necessidades atuais”, anotou.
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A advertência de Moscou ocorreu no mesmo dia em que o ministério russo da Defesa informou que já começou a segunda fase das manobras conjuntas da Rússia e de Belarus com armamento nuclear tático, menos devastador que o estratégico, mas, nas palavras do presidente Vladimir Putin, quatro vezes mais potente que a bomba lançada pelos Estados Unidos em Hiroshima.
A dependência militar indicou que agora será coordenado o hipotético emprego em combate desse tipo de arma, depois que na primeira fase dos exercícios as unidades de mísseis e a aviação se centraram em praticar o transporte e a colocação em estado operativo de projéteis para os sistemas Iskander e os mísseis hipersônicos Kinzhal.
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Essa exibição de força, na opinião do Kremlin, deveria fazer os Estados Unidos e seus aliados refletirem sobre os riscos de continuar cruzando as linhas vermelhas que Moscou fixou em torno do conflito armado na Ucrânia.