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Foto: Prefeitura de Mocejón

Como no Reino Unido, ultradireita na Espanha usa crime brutal para estigmatizar imigrantes

Assassinato de menino de 11 anos no povoado de Mocejón, na Espanha, foi falsamente associado pela ultradireita a um suposto menor de idade muçulmano
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O método não é novo; o discurso de ódio hoje visto na Espanha já foi utilizado na Inglaterra, Holanda, Suécia e Alemanha, e consiste em que, a partir de perfis nas redes sociais, na maioria anônimos e de ultradireita, se propagam um rumor sobre um acontecimento trágico, como o assassinato de um menor, um estupro em grupo, ou um ataque violento contra um idoso. Então, atribuem a um migrante estrangeiro, de preferência de origem árabe ou muçulmana.

Foi justamente isso que ocorreu por causa do assassinato de um menino de 11 anos, que foi apunhalado 12 vezes, em 18 de agosto, no povoado toledano de Mocejón. A tragédia serviu para que, nas quase 48 horas em que se desconhecia o autor do delito – enfim, um jovem de 20 anos de nacionalidade espanhola com uma doença mental –, fosse divulgada com impunidade a ideia de que o responsável pelo crime era um imigrante muçulmano menor de idade.

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A promotoria espanhola, preocupada com estas campanhas de ódio impulsionadas pela extrema-direita, iniciou uma investigação e busca responsabilizações penais. 

Entre o meio-dia de 18 e a tarde de 20 de agosto, nas redes sociais, sobretudo nas plataformas X e TikTok, se apresentou a teoria de que o assassino do menino espanhol era uma imigrante irregular, ou um “muçulmano”, ou um dos milhares de menores de idade (“menos”, como são conhecidos popularmente), que vivem nos centros de acolhida do Estado espanhol, a maioria em péssimas condições. 

Ultradireita age no anonimato

A origem dessas mensagens era quase sempre perfis anônimos supostamente da extrema-direita, a partir dos quais propagam o ódio e o racismo, embora haja alguns perfis públicos, de alguns líderes de opinião dos ultradireitistas espanhóis, como a usuária “Santanav”: “Um menino de 10 anos assassinado por um magrebe. Chamem-me de racista, xenófoba, o que quiserem, mas os quero fora JÁ!”.

Na Inglaterra, utilizaram recentemente este mesmo método para incendiar as ruas do país e provocar uma das campanhas de ódio xenófobo mais graves dos últimos anos na Europa. O mesmo aconteceu antes em outros países como Suécia, Alemanha, França e Itália, entre outros.

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Promotoria da Espanha vai investigar

A promotoria espanhola, através do Coordenador contra os Delitos de Ódio, Miguel Ángel Aguilar, decidiu assumir o assunto e iniciar uma investigação para depurar responsabilidades penais, ao explicar que “aquelas pessoas que utilizaram a internet ou as redes sociais para cometer um delito, nos casos mais graves e levando em conta as circunstâncias do caso concreto, serão investigadas”. 

Este debate também serviu para que se abrisse na Espanha a discussão sobre se é necessária ou não uma espécie de “identidade digital” permanente, que seja obrigatória para abrir qualquer tipo de perfil nas redes socais, afim de impedir que o ódio e o racismo se instale de forma permanente no debate público.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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