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Fotos: Reprodução / Facebook

Gabriel Boric e Lenín Moreno: esquerdistas ou direitistas camuflados na América Latina?

Boric e Moreno chegaram ao poder autoproclamados progressistas e deram as costas a seus povos e à integração da América Latina
Hedelberto López Blanch
Resumen LatinoAmericano
Havana

Tradução:

Ana Corbisier

Cada dia se comprova que alguns personagens que chegaram ao poder na América Latina sob o manto propagandístico de posições de esquerda apenas estiveram disfarçados, ou melhor dizendo, infiltrados, para favorecer os Estados Unidos em seu objetivo de manter o controle político e econômico na região.

O caso mais recente é o do presidente chileno Gabriel Boric que, apoiado por grande parte do povo e especialmente pelos estudantes, triunfou nas eleições de 2021 sob a auréola de ter ideias progressistas em contraposição ao seu oponente ultradireitista José Antonio Kast.

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Boric fundou em 2018 a Convergência Social, um dos partidos que compõem a Frente Ampla, e desempenhou seu papel para alcançar um referendo constitucional em outubro de 2020 após as violentas repressões estudantis lançadas pelo então presidente Sebastián Piñera. Desde sua posse como presidente em março de 2022, ele foi se aproximando das posições dos Estados Unidos na região, especialmente contra os governos progressistas.

Assim, em meados de 2023, atacou o presidente nicaraguense Daniel Ortega, chamando-o de “ditador” e de reprimir seu povo, ao mesmo tempo em que apelava à OEA para que impusesse sanções contra Manágua.

Apologia à Piñera

Sua apologia ao ex-presidente direitista Sebastián Piñera após sua morte em um acidente em fevereiro de 2024 foi verdadeiramente vergonhosa. Em um discurso diante do Congresso Nacional, afirmou: “Despedimos um político que, a partir de suas convicções e ideias, serviu com amor à pátria e trabalhou tenazmente para vê-la crescer e progredir. Isso me permite afirmar que Sebastián Piñera foi um homem que sempre colocou o Chile em primeiro lugar, que nunca se deixou levar pelo fanatismo nem pelo rancor. Todos os que estamos na política deveríamos tomar nota dessas virtudes.”

Lembremos que, diante do aumento do transporte público em 2019, Piñera ordenou que as forças públicas reprimissem as manifestações, resultando em 45 jovens assassinados, centenas de feridos, milhares de detidos que sofreram abusos e violações nas prisões do regime. Os carabineiros, além de lançar gases lacrimogêneos, dispararam espingardas de chumbinho contra o rosto dos jovens, resultando na perda da visão de um ou dos dois olhos de 545 pessoas.

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Agora, ao seguir a política dos Estados Unidos em relação à Venezuela, para tentar eliminar o exemplo de soberania que representa para a região, Boric se lançou abertamente contra Caracas, ao enfatizar que “o Tribunal Superior de Justiça acaba de consolidar a fraude. O regime de Maduro obviamente acolhe com entusiasmo sua sentença, que estará marcada pela infâmia. Não há dúvida de que estamos diante de uma ditadura que falsifica eleições, reprime quem pensa diferente. A ditadura da Venezuela não é a esquerda. É possível e necessária uma esquerda continental profundamente democrática e que respeite os direitos humanos, independentemente da cor de quem os viola.”

Enquanto a Venezuela oferece oportunidades aos seus cidadãos e aumenta os programas sociais, o Chile, com uma extensa lista de violações aos direitos humanos, une-se a Washington e à OEA para tentar derrubar o governo bolivariano.

O exemplo equatoriano

Outro exemplo que não pode ser deixado de lado é o do equatoriano Lenin Moreno, que sob o disfarce de ser um fiel membro do Partido Aliança País e que trabalharia pelo bem-estar de seu povo, como havia feito seu antecessor, Rafael Correa, mudou após vencer as eleições em 2017.

Suas relações com os Estados Unidos apareceram imediatamente e se fortaleceram em 2019 com as visitas a Quito de Thomas Shannon, ex-subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, David Hale, ex-vice-ministro para Assuntos Políticos, Mike Pence, ex-vice-presidente, e Mike Pompeo, ex-secretário de Estado. Em fevereiro de 2020, Moreno viajou a Washington, onde foi recebido com todas as honras por Donald Trump, com quem assinou vários acordos.

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Em seus quase quatro anos de desgoverno, deixou o Equador em uma lamentável crise econômico-social-sanitária, unida a uma corrupção institucionalizada, com elevados índices de pobreza e desemprego, e uma enorme dívida contraída com o Fundo Monetário Internacional. O dano que causou às forças progressistas da região foi incalculável.

Diante desses exemplos, será necessário observar agora se outros governos que recentemente chegaram ao poder com o halo de progressistas seguirão o caminho de Boric ou Moreno e darão as costas a seus povos e à integração latino-americana.

Como expressou José Martí: “Vale mais um minuto de pé do que uma vida de joelhos”.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Hedelberto López Blanch

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