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Foto: MTEA / Flickr

A menos de 1 mês das eleições nos EUA, resultado segue imprevisível, apontam pesquisas

Trump e Kamala pisam em ovos em discursos e buscam até mesmo se lançar como candidatos alheios ao establishment político
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Os formadores de opinião nos EUA expressam um sentimento comum nesta eleição, onde poucos estão entusiasmados com as opções na disputa presidencial, em um país aparentemente dividido ao meio entre um candidato qualificado como um “lunático” por um comentarista conservador e uma candidata que um comentarista liberal diz que carece de substância e é incapaz de estabelecer uma conexão humana com o eleitorado.

Que comentaristas influentes que apoiam os republicanos chamem o candidato desse partido, Donald Trump, de lunático, e que simpatizantes liberais democratas critiquem Kamala Harris, a candidata do seu partido, como alguém sem grande empatia, oferece um bom resumo da dinâmica desta eleição. A disputa oferece, mais uma vez, uma escolha entre o mal menor e o pior. As pesquisas têm sido consistentes em registrar que muitos eleitores não têm confiança e até deploram a classe política em Washington, e a maioria opina que os políticos não agem no melhor interesse do povo.

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Como resultado, ambos os candidatos tentam se projetar como “externos” ao establishment político, apesar do fato de que um é um ex-presidente e a outra é a atual vice-presidente dos Estados Unidos. Com as eleições a menos de um mês de distância, ambos os candidatos continuam focados nos 5 a 7 estados chamados de “chaves”, que decidirão o resultado final, e sobre o pequeno segmento de eleitores que dizem ainda não saber por quem votarão.

Voto latino

Na semana passada, o foco de ambas as campanhas foi o voto latino. Harris participou de uma assembleia de eleitores latinos organizada pela Univision na quinta-feira (10) em Nevada, um dos estados-chave, enquanto o candidato republicano à vice-presidência, J.D. Vance, se apresentou em um fórum de eleitores latinos no Arizona, outro estado chave. Trump está programado para aparecer em uma assembleia de latinos organizada pela Univision na Flórida esta semana.

Para Harris, é cada vez mais urgente buscar uma maneira de melhorar seu apoio entre os latinos. O presidente Joe Biden obteve 59% do voto latino em 2020, mas as pesquisas agora registram que Harris está abaixo disso. “Acreditamos que se a eleição fosse hoje, perderíamos em Nevada”, comentou um porta-voz do sindicato dos trabalhadores da indústria hoteleira, um sindicato com uma grande base latina e talvez a organização pró-Partido Democrata mais poderosa do estado, em entrevista ao Politico na semana passada. Isso seria uma enorme derrota, já que os democratas sempre ganharam o voto presidencial em Nevada, graças em grande parte ao sindicato com sede em Las Vegas. Mas se os trabalhadores hoteleiros começarem a abandonar Harris ou simplesmente não participarem, ela perderá o estado.

Os democratas dizem estar confiantes de que recuperarão o apoio majoritário dos latinos, e o evento da Univision faz parte dessa estratégia, junto com a compra de publicidade em espanhol no estado em jornais e outdoors com mensagens como “Las Vegas está com os sindicatos… Vote nos democratas!”

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Mas os republicanos também estão apostando que podem ampliar seu apoio entre os latinos. Embora ninguém espere que ganhem a maioria do voto latino, Trump obteve 36% do voto latino (um aumento em relação aos 28% que obteve em 2016) e, de acordo com uma nova pesquisa do New York Times, está conseguindo manter e até melhorar esse apoio para 37%, enquanto Harris é apoiada por 56%, abaixo dos 62% que Biden obteve.

Vance, imigração e fentanil

No Arizona, Vance declarou que “muitas mães, especialmente mulheres latinas em lugares como o Arizona… estão dizendo que não querem que seus filhos brinquem em parques onde uma sacola de doces, na verdade, é fentanil disfarçado”. Ele também argumentou que a inflação, os preços da energia e os problemas na fronteira estão impactando mais os latinos.

Mas os latinos não são o único indicador problemático para Harris. Em Detroit, Michigan, uma cidade com uma população 80% afro-americana, vários organizadores estão advertindo a campanha de Harris que o entusiasmo pela democrata está diminuindo, reportou o Politico.

Para tentar confrontar isso, a campanha tem despachado várias figuras afro-americanas famosas, desde o lendário jogador de basquete Magic Johnson, até vários legisladores federais e estrelas para incentivar a participação. Ninguém duvida que a grande maioria em Detroit votará a favor dela, mas vale lembrar que foi a baixa taxa de participação em Detroit que contribuiu para o triunfo inesperado de Trump em Michigan contra Hillary Clinton em 2016, por uma pequena margem de cerca de 20 mil votos.

Economia ou aborto, eis a questão

A mensagem central da campanha democrata em Michigan tem se concentrado na ameaça que Trump representa contra os direitos das mulheres, incluindo o aborto.

Mas políticos locais repetiram para a mídia nacional que a economia é um tema mais importante para os eleitores nesse estado, onde Trump é percebido como melhor do que Harris nesse quesito. Ao mesmo tempo, Michigan é o estado com uma das maiores comunidades árabe-americanas do país, e onde a ira pelo apoio de Washington e do governo de Biden e Harris à guerra de Israel em Gaza está levando um número significativo a decidir que não participarão esta eleição.

A cada semana, novas pesquisas registram que a contenda presidencial está em empate técnico, com Harris tendo uma pequena vantagem dentro da margem de erro. Diante do empate, ambas as campanhas estão buscando evitar algum erro a esta altura do jogo. Trump, por exemplo, insistiu repentinamente que não é contra o aborto, e sua esposa Melania acabou de publicar um livro que inclui uma seção onde se proclama a favor do direito ao aborto.

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Por sua vez, Harris, com sua formação de advogada, continua evitando responder de maneira direta a perguntas potencialmente controversas. Por exemplo, no evento da Univision na última quinta-feira, Ivette Castillo perguntou a Harris, depois de contar que sua mãe indocumentada havia acabado de falecer: “Minha pergunta para você é: quais são seus planos para apoiar esse subgrupo de imigrantes que têm estado aqui a vida toda, ou na maior parte dela, mas que têm que viver e morrer nas sombras?”. Harris, filha de imigrantes, não respondeu à pergunta, desviando para atacar as posições de sua oponente.

Analistas políticos dizem que, com o número de eleitores que decidirão esta disputa diminuindo, está cada vez mais difícil prever o que acontecerá no dia 5 de novembro, data da eleição. Apenas 13% dos eleitores dizem que ainda não decidiram como votar, segundo uma nova pesquisa do Pew Research Center. Pior ainda, segundo alguns cálculos, é provável que a eleição seja decidida por 6% dos eleitores em seis dos estados-chave, segundo o Axios.

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La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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