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Celso Amorim e Lula (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

Cavalo de Tróia no Brics? É hora de o Brasil confrontar as pressões de Washington

Lula acha que será bem-sucedido se fizer concessões, mas o que os EUA veem em suas vacilações é uma fragilidade a ser explorada para enfraquecer os BRICS
Eduardo Vasco
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Há uma pressão enorme e crescente sobre o governo brasileiro vinda dos Estados Unidos. Ela é exercida principalmente através dos agentes do imperialismo americano no Brasil, em particular os políticos da direita, os burocratas dentro do Itamaraty e os grandes meios de comunicação.

O Partido da Imprensa Golpista (PIG), como cunhou o saudoso Paulo Henrique Amorim, já passou da fase de ignorar os BRICS (embora ainda insista em diminuir sua importância) para a do combate direto contra o bloco. Faz isso apresentando Rússia e China como países que tentam impor as suas “agendas”, que seriam contrárias às do Brasil, ao mesmo tempo em que manipulam a seu bel-prazer os interesses do governo brasileiro.

Folha, Estadão, Rede Globo, CNN Brasil e Jovem Pan – acompanhados de todo o cartel que são os veículos de comunicação em nosso país – pressionam para que Lula adote posturas subservientes aos interesses dos EUA. Quando logram bons resultados, elogiam as “vitórias” da diplomacia brasileira, que na verdade são derrotas para o Brasil. Essas vitórias, na verdade, são dos Estados Unidos.

A profunda e antiga campanha de desinformação e propaganda do PIG contra Venezuela e Nicarágua, bem como contra a Rússia, mostra-se, assim, de importância fundamental para os EUA ganharem terreno dentro do governo. Fortalece a quinta-coluna que opera sub-repticiamente (às vezes de forma mais aberta) dentro das engrenagens do Itamaraty, dos ministérios da Defesa e da Fazenda e em outros órgãos-chave. Os próprios titulares dessas três pastas já deram mostras de que não merecem confiança.

Suposto plano contra o Ocidente

Diz-se, até mesmo, que a expansão dos BRICS é um plano de Rússia e China voltado contra o Ocidente e exclusivamente para atender às pretensões expansionistas desses dois países. Washington, obviamente, é absolutamente contra a expansão dos BRICS, pois isso significa fortalecer o bloco. Mas os EUA precisam apresentar esse interesse em sabotar o bloco como não sendo deles, ou não somente deles, mas dos países “livres e democráticos”. E, inclusive, de membros dos próprios BRICS. Assim, os agentes dos EUA no Brasil dizem que não é de interesse do Brasil a expansão do bloco.

O presidente Lula, por sua vez, tem tentado aplicar uma política soberana extremamente moderada. Ele sabe perfeitamente dessas pressões. Por isso tem adotado grande cautela quando precisa se opor a elas. Acha que poderá ser bem-sucedido se fizer concessões. Pensa que os Estados Unidos e seus agentes se satisfazem com algumas concessões. Mas eles não querem somente a aliança, querem os dedos, e depois as mãos e os braços.

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Lula tenta se equilibrar em uma corda bamba. É um conciliador experiente. Contudo, a margem para manobras vai se estreitando à medida que a polarização “Norte-Sul” se intensifica. Ou seja, à medida que crescem as contradições entre as potências imperialistas, que buscam manter e aprofundar a exploração do resto do mundo, e as nações que tentam combater e acabar com essa exploração. Estas últimas se esforçam no sentido de se aliar para resistirem de forma unida a tamanha opressão. Os BRICS estão se tornando a materialização dessa aliança, por isso é essencial às potências imperialistas a sua contenção e enfraquecimento.

O presidente já deu declarações muito felizes e contundentes contra as pressões imperialistas. O problema é que as suas ações não têm acompanhado o seu discurso. Ele não toma ações efetivas contra essas pressões. Precisa começar por combater os agentes dos Estados Unidos no Brasil, particularmente o PIG e a quinta-coluna dentro dos principais ministérios.

Convite para o inimigo

Esse democratismo expresso na abordagem das relações internacionais repete o famigerado republicanismo do PT quando da ofensiva golpista da década passada. Como naquela ocasião, a frouxidão é um convite para o inimigo elevar a pressão, tanto que ela aumentou de um ano para cá. Se na política exterior Lula tinha mais liberdade do que na política interna, livre de amarras do Congresso, o imperialismo americano aumentou a campanha através da imprensa e da sua quinta-coluna no Itamaraty, infestado de neoliberais e bolsonaristas.

Sem rompimento com as crenças ingênuas e ilusórias nos acordos (ora espúrios) com esses setores antinacionais, será difícil adotar qualquer medida prática para tirar o discurso do papel. Esse discurso será apenas demagogia e declaração de boas intenções, enquanto, na prática, aperta as correntes em que o Brasil está preso.

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A presidência brasileira dos BRICS em 2025 será fortemente sabotada pelos agentes dos EUA no Brasil. O PIG e a quinta-coluna já começaram o trabalho. Washington vai investir muito dinheiro em seus agentes e irá redobrar a pressão sobre o Brasil, porque vê nas vacilações de Lula e do governo uma fragilidade a ser explorada para enfraquecer os BRICS.

Lula tem que parar de pisar em ovos e começar a esmagá-los com força, porque dentro deles há filhotes de serpentes esperando o momento certo para sair e engoli-lo.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Eduardo Vasco Jornalista, trabalhou como enviado especial no início da intervenção russa na guerra da Ucrânia e escreveu o livro "O povo esquecido: uma história de genocídio e resistência no Donbass".

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