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Imagem: Flickr / Freepik (alterado)

Benjamin Netanyahu: uma Besta humana livre para matar

Netanyahu age como um animal feroz, fora de controle, o protótipo do ser humano considerado sob o seu aspecto mais desfavorável ou brutal
André Marcio
Espaço Literário Marcel Proust
Florianópolis (SC)

Tradução:

Para quem leu ou se lembrou do livro de Primo Levi, este título é, obviamente, uma paródia. Ou melhor, é uma provocação necessária nesse momento de catástrofe humanitária no Oriente Médio. De fato, quando Levi escreveu seu livro (1), ele queria denunciar os horrores que presenciou durante sua permanência no campo de concentração nazista. Lá, como poucos, compreendeu que a maldade não deve ser generalizada, mas individualizada pela ação humana.

Muito antes que Hannah Arendt desenvolvesse seu conceito de “banalidade do mal”, Levi testemunhou os horrores perpetrados por soldados nazistas incompetentes, submissos e fanáticos pela crença da superioridade ariana que já se desmantelava no front da guerra, mas que naquele local, que parecia apartado do mundo, era intensificada à medida que os seus algozes perdiam a esperança de serem salvos dos seus próprios atos.

O que é uma besta?

Se recorrermos ao dicionário, veremos que existem inúmeras definições para essa palavra. Receio, contudo, que a definição mais apropriada para qualificar o Primeiro-Ministro sionista de Israel, Benjamin Netanyahu, seja de teor o mais depreciativo possível. Nesse sentido, a besta Netanyahu seria um animal feroz, fora de controle, o protótipo do ser humano considerado sob o seu aspecto mais desfavorável ou brutal. Com efeito, desde o ataque inominável do Hamas em 07 de outubro de 2023 — o qual, diga-se de passagem, nunca cansamos de recriminar —, a besta Netanyahu não parou mais de matar. Aquele ataque foi a carta-branca de que precisava para sair do mínimo de civilidade que o incomodava e partir para a destruição total dos Palestinos.

Netanyahu não é um caso isolado. A história do ser humano é uma história de genocídios. Lembro que no filme “Cruzada”, estrelado pelo ator Orlando Bloom, de 2005, havia um lorde cruzado que vivia para a guerra e para matar os árabes, apesar dos apelos do rei cristão moribundo para que ele se contivesse. O instinto humano pela guerra e morte está encravado na nossa história, assim como eram marcados a ferro e fogo os negros capturados na África para serem espoliados no primeiro período da grande escravidão capitalista (aqui refiro-me ao período entre o descobrimento do novo mundo e o fim oficial da escravidão no último dos principais países escravocratas, o Brasil. Obviamente, hoje experimentamos um novo tipo de escravidão hipertecnológica, mas isso é assunto para outro texto).

Milhares de mortos e deslocados

Pois bem, Netanyahu não para de matar há um ano. Com o beneplácito dos Estados Unidos, estendeu sua própria guerra infinita para o Líbano e Irã. Nesse período, mais de 41 mil palestinos foram mortos e mais de dois milhões de moradores da Faixa de Gaza foram expulsos das suas casas. No Líbano, nessa escalada da guerra, as forças sionistas já mataram mais de 2 mil pessoas e mais de um milhão de libaneses estão desabrigados. Se ele realmente atacar o Irã como vem prometendo, especialmente depois que Teerã lançou mísseis contra Israel, em retaliação aos assassinatos praticados pelas forças sionistas em solo iraniano, o que será do mundo?

Pode-se objetar que se trata de uma guerra local, entre inimigos históricos, uma guerra que envolve religião, petróleo, além de terras habitáveis, no caso de Israel. Com efeito, a displicência com que Israel lidou com os seguidos alertas da sua inteligência de fronteira sobre um possível ataque do Hamas beira a cumplicidade.

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Para além de toda e qualquer alegação política sobre o atual conflito, existe uma questão quase nunca discutida por “especialistas”, que é a falta de espaço geográfico para a expansão judaica naquela região. Não por acaso, é grande o número de acusações oriundas de mídias independentes sobre as milícias de colonos judeus/sionistas que estão aproveitando a escalada da guerra para expulsar palestinos das suas terras.

Ora, nenhuma das guerras de grandes proporções, sejam as duas grandes guerras mundiais, sejam as ainda mais antigas, como a Guerra dos 100 anos, entre a Inglaterra e a França, ou as chamadas Guerras Napoleônicas, entre a França e outras nações, começou em grande proporção. Lembro ao leitor que a Primeira Guerra Mundial começou a partir das picuinhas ultranacionalistas nos balcãs, entre a Sérvia e o Império Austro-Húngaro.

Apesar de o mundo já estar então em uma corrida armamentista, ninguém imaginava uma guerra mundial naquele momento. Do mesmo modo, apesar do rearmamento alemão ter sido uma sinalização de possível catástrofe em um futuro breve, a Segunda Guerra Mundial começou com a invasão alemã sobre o território da Polônia. Entretanto, o prenúncio da guerra já podia ser visto com a anexação da Áustria e da permissão da Grã-Bretanha e da França para que a Alemanha anexasse a região dos Sudetos da República da Tchecoslováquia.

A um passo da linha vermelha

Olhando sob essa ótica, me parece que estamos a um passo de cruzar a linha vermelha que jogaria o mundo numa Terceira Guerra Mundial, e talvez a última. Para isso, bastaria que a Rússia ou mesmo a China impusesse limites concretos objetivando o fim do genocídio palestino praticado pela besta humana Netanyahu, que, como dito, vem sendo apoiado pelo deus da guerra estadunidense.

Deveras, se alguma dessas potências, ou as duas, adotar providências concretas visando pôr fim a essa carnificina, mediante envio de forças militares para proteger algum desses países atacados por Israel, por exemplo, alguém duvida que entraremos no crepúsculo do reinado humano nesse planeta? Se nem mesmo a ONU parece ter poder suficiente para barrar este “palestinicídio”, uma vez que a sua força de paz está sendo atacada nas fronteiras do Líbano, o que acontecerá se a propagação desse genocídio promovido pelas forças sionistas, com apoio do deus da guerra, alcançar o coração do histórico território persa, o Irã?

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Mas todas as bestas humanas da história são assim mesmo: humanas. Criador e criatura se misturam até um não reconhecer o outro. O que falta ao lado humano, em termos de potência e ferocidade, o lado besta oferece de bom grado. Do mesmo modo, o que falta para a besta em termos de sagacidade e oportunismo, o lado humano empresta sem pestanejar.

Assim, cada lado se equivale e a sociedade humana evoluiu porque conseguiu criar artifícios concretos e abstratos que mantiveram os dois lados sob regulação um do outro. Entretanto, quando o lado da besta se proclama vitorioso, vide Netanyahu, Hitler, Mussolini, Stalin, Napoleão, etc., o ser humano capaz de gestos lindos, como o mero afago em crianças, se torna o executor de ações tão impensáveis, que chegamos a duvidar se “é isto um homem? ”.

Referência

1 – LEVI, Primo. É isto um homem? Rio de Janeiro. Rocco. 1998.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

André Marcio

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