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Protesto nos EUA contra medidas anti-imigrantes de Trump em 2017 (Foto: Joe Piette / Flickr)

Trump arrasaria EUA com deportações em massa; indocumentados geram US$ 1,3 tri ao PIB

Segundo especialistas, no entanto, economia no México seria ainda mais prejudicada; Trump ameaça expulsar dos EUA 1,3 milhão de indocumentados por ano se eleito
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Ana Corbisier

O plano de Donald Trump, se for eleito, de deportar até um milhão de indocumentados por ano, criaria problemas econômicos de ordem comparável a uma depressão nos Estados Unidos. Porém, no México, o impacto da redução de remessas, o retorno de trabalhadores às suas comunidades de origem e a queda no mercado de exportações mexicanas para os EUA seria devastador, concluem o professor Raúl Hinojosa Ojeda, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), e uma equipe de pesquisadores em uma nova análise sobre as consequências binacionais de deportações em massa.

Para ilustrar a dependência de alguns estados mexicanos em relação aos seus imigrantes nos Estados Unidos, Hinojosa e seus colegas indicam que 67% da força de trabalho de Guerrero, 61% da de Michoacán e 69% da de Zacatecas são migrantes. Calculam, com base em dados oficiais do governo mexicano, que as remessas em 2022 representavam mais de 12% do PIB dos estados de Zacatecas, Guerrero, Michoacán e Oaxaca.

“Estão subestimando tanto o impacto negativo do que Trump propõe para a economia americana, que alcançaria um nível de depressão, como o que ocorreria do lado mexicano, que seria devastador”, afirma Hinojosa em entrevista ao La Jornada.

Se esses trabalhadores forem deportados, esses estados não só perderiam as remessas, como teriam que encontrar emprego para os deportados. “Imaginem o que aconteceria em qualquer um desses estados se 50% da força de trabalho de repente voltasse para casa. O que fariam com eles?”, questiona.

Plano de Trump reduziria importações 

Para Hinojosa e seus colaboradores na pesquisa, incluindo Marcelo Pleitez e Joel Wynn, na UCLA, e Sherman Robinson, do Instituto Peterson de Economia Internacional, e Karen Thierfelder da Academia Naval dos EUA, para o México esses dois fatores se combinariam com um terceiro: a redução das importações mexicanas para o mercado estadunidense, resultado do impacto das deportações, o que aumentaria ainda mais as consequências nesses e em outros estados do México.

Hinojosa ressaltou que estão divulgando esses dados da pesquisa agora para ilustrar o que está em jogo para a relação bilateral na eleição presidencial dos Estados Unidos. Para Hinojosa, que dirige o Centro de Integração e Desenvolvimento da América do Norte na UCLA desde 1995, os dados não só são uma advertência sobre o que pode ocorrer se Trump ganhar a eleição e cumprir sua promessa de deportações em massa, mas também uma ilustração de quão integrados estão o México e os Estados Unidos.

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“Esta é a primeira pesquisa que realmente tenta ver a interdependência desses impactos”, explicou. Desde 2019, os pesquisadores da UCLA e do Instituto Peterson trabalham com dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística e Geografia (Inegi) e pela organização Financeira para o Bem-estar para elaborar modelos de diversos cenários para políticas de comércio, migração e remessas no contexto da interdependência México-Estados Unidos.

Com isso, os pesquisadores desenvolveram modelos econômicos para calcular a renda total combinada de trabalhadores indocumentados nos Estados Unidos em mais de 624 bilhões de dólares. Apenas os trabalhadores sem documentos contribuem com 1,28 trilhão para o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA anualmente.

Perdas de mais de U$ 1 trilhão

Se apenas os primeiros 1,3 milhão de trabalhadores indocumentados forem deportados (o plano de Trump considera mais de um milhão a cada ano), a economia estadunidense perderia mais de um trilhão de dólares em atividade econômica – uma cifra comparável a outros cálculos recentes feitos pela Comissão de Orçamento do Congresso dos Estados Unidos e pela Reserva Federal. Para o México, a combinação de menores remessas e a redução de exportações para os EUA resultaria em uma queda de 2,6% do PIB entre 2025 e 2028.

Mas o impacto nacional não seria igual em todo o país: a Baixa California perderia 7,1 bilhões de dólares no PIB, Campeche 5,2 bilhões, Chihuahua 8,9 bilhões, Novo León 9,5 bilhões, Estado do México 5,9 bilhões, Guanajuato 5,4 bilhões e Jalisco 6,2 bilhões.

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“Estamos de volta àquele ditado de que quando os Estados Unidos pegam um resfriado, o México tem uma pneumonia. E o colapso da migração como forma de transmissão (do contágio) realmente ressalta a interdependência desigual entre os dois países”, afirma Hinojosa.

Reforma de Harris e impactos positivos

No entanto, o professor da UCLA e veterano pesquisador da relação binacional acrescenta que a equipe de pesquisadores avalia que, se a vice-presidente Kamala Harris – a quem Hinojosa conhece desde os anos 80 – conseguir implementar uma reforma migratória integral, isso teria um impacto positivo e amplo para os dois países. “Consideramos que a regularização teria impactos positivos substanciais. Com imigrantes não autorizados conseguindo a cidadania (sob uma reforma), eles se tornam muito mais produtivos e chegamos a um aumento de 0,6% no PIB real”, escrevem os pesquisadores no rascunho de sua análise.

Combinar a regularização da força de trabalho indocumentada existente com um aumento na migração legal de aproximadamente 1,1 milhão por ano (dos quais 60% são trabalhadores) poderia gerar 1,33 trilhão de dólares em crescimento adicional do PIB nos EUA ao longo de 10 anos.

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A regularização e a migração legal adicional no futuro também teriam resultados positivos no México. “As exportações aumentariam 13,1% e as remessas se elevariam 65,7% nos próximos dez anos”, escrevem os analistas. O PIB do México cresceria 5,2%, o equivalente a 72,3 bilhões de dólares de 2022. Esses efeitos seriam mais sentidos em Baja California, Campeche, Chihuahua, Coahuila, Chiapas, Guerrero e Michoacán”.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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