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ToggleO candidato presidencial republicano Donald Trump ameaçou o governo de Claudia Sheinbaum com taxas comerciais caso não tome medidas para frear o fluxo migratório para os Estados Unidos, e acusou que o “México nos invadiu” e que o país vizinho está se aproveitando dos Estados Unidos.
Em um discurso em um evento de campanha na véspera das eleições em Raleigh, Carolina do Norte, Trump, após elogiar sua relação com o ex-presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, comentou: “Uma das primeiras ligações que farei será para o México: ‘Vocês parem de permitir que as pessoas entrem pela nossa fronteira’”, declarou, ante gritos e aplausos de aprovação.
Ele acrescentou: “Estamos sendo invadidos por nosso vizinho. Mas agora temos uma nova presidenta do México. Não a conheci, e vou informá-la no primeiro dia, ou até antes (de minha presidência), que, se não frearem essa investida de criminosos e drogas que entram no nosso país, de imediato, aplicarei uma tarifa de 25% sobre tudo o que enviam aos Estados Unidos.” E, se isso não funcionar, advertiu, elevará a tarifa gradualmente até 100%, e previu que, em resposta, o México enviará soldados à sua fronteira sul com a Guatemala e Belize para conter os migrantes.
“Vamos selar essa fronteira muito rapidamente” com essa medida, prometeu, após reiterar que o mundo está enviando seus criminosos, loucos e “terroristas” para os Estados Unidos por essa fronteira, repetindo falsamente que seus opositores democratas têm uma política de “fronteiras abertas”.
“Vocês são os primeiros a quem digo isso”, afirmou diante de gritos de aprovação a sua nova proposta política. Com isso, continuou com um de seus temas recorrentes desde que lançou sua candidatura em 2015: a ameaça ao México e aos imigrantes.
Assinalou que o México é agora o principal parceiro comercial dos Estados Unidos e “eles estão fazendo uma fortuna” com isso, acusando que “tomaram o controle do nosso país de certa maneira… e estão nos enganando por todos os lados, é ridículo”.
Mais uma vez, afirmou — como fez repetidamente em sua campanha — que, durante sua presidência, obrigou “o México a pagar pelos soldados” que enviaram ao seu lado da fronteira para alcançar o que ele insiste ter sido a maior redução no fluxo migratório já vista.
“Eles não queriam fazer isso, eu disse que teriam que fazer enquanto construíamos o muro, e pagaram por isso… não queriam, riram, e eu disse: ‘Isso é o que farei, vou impor uma tarifa de 100% sobre os carros e tudo o que vem para os EUA’. Sabe o que eles responderam? ‘Senhor, seria uma honra que o senhor tenha nossos soldados sem custo’. Perguntaram quantos eu precisava, e eu disse: ‘Quantos forem necessários’. E foram bonzinhos, fizeram uma grande contribuição à nossa segurança”.
Trump recordou em vários momentos de sua campanha que obrigou o presidente López Obrador a enviar 28 mil tropas mexicanas para selar a fronteira com os EUA após ameaçá-lo com taxas.
“Tive uma grande relação com o [ex-]presidente do México, mas ele se aposentou”, acrescentou. “Era um bom homem, era um socialista, mas não se pode ter tudo. Pagaram uma fortuna por esses soldados na fronteira”, insistiu, após detalhar que construiu 571 milhas de muro fronteiriço. Disse que os fundos para a construção desse muro vieram do orçamento militar, já que era para defender o país de “uma invasão do México”.
Taxa de mortes por arma de fogo nos EUA
Os quatro estados estadunidenses de Mississipi, Luisiana, Alabama e Novo México têm uma taxa de mortes por violência com arma de fogo superior à do México, e 19 estados estadunidenses têm taxas mais altas de morte por armas de fogo do que o Haiti, conclui uma nova pesquisa do Commonwealth Fund.
“Quase todos os estados estadunidenses têm taxas mais altas de mortalidade por armas de fogo do que a maioria dos outros países”, relata o instituto de investigações e análises com sede em Nova York. “Os negros, indígenas estadunidenses e nativos do Alasca têm as taxas de morte por armas de fogo mais altas que qualquer outro grupo racial ou etnia”.
Neste ano, o cirurgião-geral dos Estados Unidos Vivek Murthy indicou que mais da metade de todos os adultos no país tiveram uma experiência pessoal com a violência por armas de fogo ou têm um familiar que sofreu com isso. As armas de fogo também são agora a causa principal de morte entre menores de idade nos Estados Unidos e são as armas mais usadas em casos de violência doméstica contra mulheres.
Os pesquisadores usaram dados do Institute for Health Metrics and Evaluation, da Universidade de Washington, em Seattle, para comparar mortes por armas de fogo em diferentes estados do país com mortes em outras partes do mundo. A medida de mortes por armas de fogo é um número combinado de mortes como resultado de violência física com balas, tentativas de autolesão com armas e danos não intencionais causados por armas.
A taxa de morte por armas de fogo no Mississipi é de em média 28,5 mortes por 100 mil habitantes, uma cifra mais alta que nos estados de Luisiana, Alabama e Novo México. Em comparação, a taxa de mortalidade por armas de fogo no México é de 23,3 a cada 100 mil habitantes — cifra inferior a todos os quatro estados estadunidenses mencionados.
Venezuela, El Salvador e Ilhas Virgens dos Estados Unidos têm as taxas mais altas de morte por armas de fogo, segundo o informe, superiores a qualquer estado nos Estados Unidos. Mas entre os países analisados, o México vem após estes três, seguido por Colômbia, Jamaica, Porto Rico e Haiti.
Há 14 estados nos Estados Unidos com um nível mais alto de mortes por bala que o Haiti. E mais da metade dos 50 estados estadunidenses tem uma taxa maior de mortes por armas que o Afeganistão.
“O fato de que os Estados Unidos compitam com países que estão envolvidos em algum tipo de conflito (seja guerra civil, distúrbios generalizados, tráfico de drogas/armas, etc.) é realmente assombroso, ainda mais quando vemos os países com os quais são comparados os estados estadunidenses na escala global”, comentou ao Washington Post Evan Gemas, pesquisador e coautor do informe. “Penso que muitos estadunidenses ficariam surpreendidos com a semelhança de nossas taxas com as de zonas em conflito no mundo”, acrescentou.
Para ver o informe, clique aqui.
Quem diria? EUA entre o fascismo e o socialismo
Nesta eleição, o país está à beira de… bem, ninguém tem certeza, mas não se descartam cenas de violência política em uma das populações mais armadas do planeta. Não se sabe quando os resultados serão conhecidos após o encerramento da votação nesta terça-feira (5), nem se todos com direito a voto puderam votar, ou se seus votos serão contados em uma eleição presidencial onde não há voto direto e, portanto, quem ganha o voto popular não necessariamente ganha a eleição.
Tudo isso ocorre em um país onde a corrupção político-eleitoral não tem igual no chamado “mundo avançado”, onde os mais ricos podem investir montantes ilimitados na eleição – o que o ex-presidente Jimmy Carter qualifica como um sistema de “suborno legalizado” que caminha para uma oligarquia – e onde todas as chamadas instituições democráticas são reprovadas pelo povo que dizem representar.
Só 16% dos estadunidenses aprovam o trabalho do Congresso, segundo a pesquisa mais recente da Gallup, enquanto 51% desaprovam a gestão da Suprema Corte. A presidência de Joe Biden agora tem 41% de aprovação (embora valha recordar que, ao final de seu mandato, Trump tinha apenas 34% de aprovação).
Apenas 22% dos estadunidenses confiam que o governo fará o correto quase sempre ou na maioria das vezes, segundo o Pew Research Center. E 63,1% opinam que o país está indo em uma “direção equivocada”, segundo pesquisas nacionais.
Aparentemente, o povo não acredita que está bem representado pela cúpula política e acha que o governo age mais em favor dos interesses dos ricos, segundo pesquisas anteriores do Pew e outras.
Que país é esse?
Isso em um país onde cerca de 20 estados têm uma taxa de mortalidade por armas de fogo mais alta que a do Haiti e pelo menos quatro mais alta que a do México.
Confira nossa seção especial: Eleições nos EUA
Um país onde 47 milhões vivem em lares com “insegurança alimentar”, incluindo quase 14 milhões de crianças, onde mais de meio milhão de pessoas vivem sem teto, e onde há um novo fenômeno chamado “mortes por desesperança” – por overdose de drogas, álcool e suicídios – tão intenso, sobretudo em brancos, que tem levado a uma redução da expectativa de vida nos Estados Unidos pela primeira vez. Tudo isso no país mais rico do mundo.
Dessas condições surgem respostas surpreendentes: por um lado, um amplo movimento progressista focado em justiça econômica, mudanças climáticas, contra a violência armada e pelos direitos civis de minorias, incluindo imigrantes, que se expressou eleitoralmente nas campanhas presidenciais do “socialista democrático” Bernie Sanders e também em centenas de progressistas ganhando eleições estaduais e municipais pelo país.
Fascismo x socialismo
Por outro lado, há a resposta da direita populista com Donald Trump. Repito: como correspondente nos Estados Unidos, nunca imaginei até oito anos atrás que teríamos que usar duas palavras para relatar a política dentro dos Estados Unidos: fascismo e socialismo.
Diante do movimento direitista populista encabeçado por Trump na eleição que culminará nesta terça-feira (5), mas que provavelmente não será resolvida hoje, a resistência ao projeto neofascista enfrenta a ameaça mais grave em décadas às conquistas sociais, econômicas e políticas alcançadas pelos movimentos trabalhistas, de direitos civis, de mulheres, da comunidade LGBTQ+, ambientalistas, altermundialistas e pela justiça econômica nas últimas décadas.
Trump e Harris: fórmulas diferentes para impedir a decadência do Império
Nessa resistência, é notável em parte a debilidade do Partido Democrata e suas bases organizadas – sindicatos, igrejas liberais, organizações de mulheres, latinos, afro- estadunidenses – em parte devido ao fato de que sua cúpula fomentou, juntamente com sua contraparte republicana, políticas neoliberais nos últimos 40 anos. Mas nesta conjuntura, talvez o slogan mais eficaz de Kamala Harris, apesar de sua coreografia centrista, seja: “não vamos retroceder”, contra um projeto que gira em torno de uma nostalgia por um país “grandioso” do passado, ou seja, um patriarcado supremacista branco com serviçais.
Será suficiente? Logo veremos, com consequências para todos aqui e ao redor do mundo.
Outras eleições
A votação desta terça-feira não só determinará quem ocupará a Casa Branca, mas qual partido obtém o controle do Congresso, e com isso o poder para mudar leis sobre migração, determinar onde se gasta o orçamento federal e a aprovação de tratados e acordos.
Desde 2022, os democratas lograram dirigir o Senado com uma estreita maioria de 51 contra 49, enquanto os republicanos controlaram a Câmara Baixa com maioria de 220 contra 212.
Cada vez que se elegeu um novo presidente neste século, o partido desse candidato também tomou o controle (por maioria) de ambas as câmaras do Congresso, oferecendo ao novo mandatário poder para impulsionar sua agenda. Mas isso pode não ocorrer em 2024.
O controle do Senado dependerá se dois senadores democratas, Jon Tester, de Montana, e Sherrod Brown, de Ohio, conseguirão vencer suas reeleições, e se republicanos como Ted Cruz serão derrotados. As pesquisas mais recentes indicam que é provável que os republicanos conquistem o controle da Câmara Alta nestas eleições, embora outras disputas por cadeiras do Senado para Arizona, Nebraska, Texas e Michigan possam mudar esse prognóstico.
O controle da Câmara de Representantes estará mais ligado a quão bem se sairão Kamala Harris e Donald Trump em vários estados, sobretudo na Califórnia, e é possível que os resultados finais levem semanas a serem determinados.
Além destas batalhas eleitorais para o Congresso, também há 11 contendas para governador neste ciclo. Legislaturas estaduais também estão em jogo, e há mais de 100 iniciativas estaduais sob referendo.
Bônus musical | The Rolling Stones – Gimme Shelter
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