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Marisa Paredes (Foto: Pablo Tupin-Noriega / Wikimedia Commons)

Espanha se despede da atriz Marisa Paredes, ativista contra ditadura franquista e extrema-direita

Origens na classe trabalhadora moldaram postura crítica de Marisa Paredes ao período ditatorial na Espanha e fizeram da premiada atriz uma defensora dos postulados da esquerda
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Aos 78 anos, de um ataque cardíaco, morreu a atriz espanhola Marisa Paredes, uma das grandes figuras da cena ibérica das últimas décadas e protagonista de filmes já clássicos de cineastas como o mexicano Arturo Ripstein ou os espanhóis Pedro Almodóvar e Fernando Trueba, entre outros.

A artista tinha muitos projetos a realizar, entre eles uma peça de teatro, mas a morte chegou de repente, segundo informou seu companheiro sentimental, Chema Prado, que reconheceu estar muito abalado ao chegar ao Tanatório de San Isidro, em Madri.

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Marisa Paredes iniciou sua carreira artística ainda criança, aos 14 anos, quando era apenas a filha de uma porteira de um prédio em Madri. Suas origens de classe trabalhadora moldaram uma postura crítica diante das injustiças e dos resquícios da ditadura franquista na Espanha, que ela mesma combateu com veemência, como atriz e ativista defensora dos postulados da esquerda, inclusive como presidenta da Academia de Cinema, opondo-se ao avanço da extrema-direita e às ações belicistas do então governo espanhol de José María Aznar, que apoiou a intervenção bélica unilateral no Iraque, em 2003.

Mas, além de suas defesas civis e políticas, Marisa Paredes foi uma artista e atriz com letras maiúsculas, com uma longa e prolífica trajetória que culminou em uma das maiores honrarias da cena na Espanha: a concessão do Goya de Honra por toda a sua carreira, em 2018. 

Longa trajetória

Na longa trajetória artística de Marisa Paredes, ela esteve sob a direção de alguns dos grandes criadores da sétima arte, entre eles Pedro Almodóvar, mas também Arturo Ripstein, que lhe deu um papel em Profundo Carmesim, e Guillermo del Toro, em A Espinha do Diabo. Também se somam à sua filmografia trabalhos com Amos Gitai, Daniel Schmid, Philipe Lioret, Raoul Ruiz, Alain Tanner, Maria Sole Tognazzi, Cristina Comencini, Manoel de Oliveira e um papel muito importante para ela sob a direção de Roberto Benigni, em sua mítica criação de A Vida é Bela.

A Academia de Cinema Espanhol informou sobre sua morte e lembrou que Paredes se formou na Escola de Arte Dramática da capital e estreou no cinema aos 14 anos, em Esta noche tampoco, de José Osuna, e 091 Policía al habla, de José María Forqué. Durante os anos 1960 e 1970, desempenhou papéis secundários tanto no cinema quanto na televisão, todos eles em obras costumbristas e de entretenimento, entre outros motivos devido à rígida censura imposta pelo regime ditatorial de Francisco Franco.

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Com a chegada dos anos 1980 e da democracia na Espanha, tornou-se um referencial da nova forma de entender a arte, talvez mais contestatória, livre e crítica.

Ademais Maria Paredes foi a presidenta da Academia do Cine Espanhol entre 2000 e 2003. Durante esse período, ocorreu a cerimônia dos Prêmios Goya de 2003 do “Não à guerra”, na qual o mundo do cinema e da atuação se apresentou como um muro de contenção aos planos de guerra do então presidente Aznar e suas alianças com os Estados Unidos e George Bush. Em suas intervenções mais recentes, ela se mostrou a favor do movimento feminista e radicalmente contra o crescimento da extrema-direita.

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, expressou nas redes sociais sua consternação pela morte de Marisa Paredes e assinalou que “foi uma das atrizes mais importantes” da Espanha, e que “sua presença no cinema e teatro e seu compromisso com a democracia serão um exemplo para gerações posteriores”. E finalizou: “Um forte abraço a sua família e seres queridos. Obrigado Marisa”. 

Almodóvar, que se encontrava em Paris quando conheceu a notícia de sua morte, assinalou que “este último ano estava cheia de vitalidade, participando de todos os eventos sociais em que era requisitada, que eram muitos, relacionados aos problemas enfrentados pela sociedade espanhola e mundial em geral. Ela havia se tornado uma ativista muito intensa”. E agregou: “Marisa sempre estará presente”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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