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Negar aborto a criança vítima de estupro é face cruel do judiciário no Brasil de Bolsonaro

É inaceitável tamanho abuso de uma juíza conservadora que, além de privar uma vítimas de direito garantido por lei, violenta-a psicologicamente
Gabriela Mueller
Esquerda Diário
Porto Alegre (RS)

Tradução:

“Você suportaria ficar mais um pouquinho?” diz a juíza Joana RIbeiro Zimmer a uma criança de 11 anos, vítima de estupro, persuadindo-a a não interromper a gravidez e impedindo-a de abortar, mesmo que nesse caso o aborto esteja previsto em lei. Joana praticamente insiste com chantagem psicológica e palavras que aterrorizam a criança para que ela concorde em não abortar e esperar mais “uma ou duas semanas” para retirar o feto com vida, o que a criança responde assustada e monossilabicamente.

Depois da mãe descobrir a gravidez, por conta dos enjôos repentinos e do crescimento da região abdominal da filha, ela logo procurou o Hospital Universitário da UFSC para abortar, que negou o procedimento para a menina, porque a gravidez ultrapassava as 20 semanas. Recorrendo à justiça, tudo piorou.

Na contramão da América Latina, projetos de lei tentam regredir direito ao aborto no Brasil

A juíza também negou o direito à criança e a mãe e concedeu um abrigo para que a criança não fizesse o aborto, dizendo que “O risco é que a mãe efetue algum procedimento para operar a morte do bebê”, ou seja, para ela, a vida de uma criança vítima de estupros não vale nada.

O absurdo é tamanho, que a asquerosa juíza tenta induzir a menina a desistir de querer abortar, chamando o feto de “nenezinho” e dizendo que se ela fizesse o aborto o “bebezinho” iria nascer chorando e elas teriam que vê-lo “agonizar até a morte”. É inaceitável tamanho abuso de uma juíza conservadora que, além de privar uma criança vítima de violência sexual o direito garantido por lei de abortar, violenta-a psicologicamente.

É extremamente nojento que essa juíza, alinhada com a corja machista e conservadora de Bolsonaro e Damares, impeça uma criança de abortar, o que prova que o judiciário está à serviço dos interesses das classes dominantes. A vida de uma menina, filha da classe trabalhadora, nada vale segundo a lógica dos que nos dominam.

É inaceitável tamanho abuso de uma juíza conservadora que, além de privar uma vítimas de direito garantido por lei, violenta-a psicologicamente

Foto: Solon Soares/Agência ALESC
Juíza Joana Ribeiro Zimmer "tem que ter licença cassada e temos que ir às ruas contra essa atrocidade", disse um usuário do Twitter

Esse judiciário faz coro agora com Bolsonaro, Damares, essa que já quis impedir uma menina, de também 11 anos e vítima de estupro, de abortar, são os representantes dessa direita nojenta que quer que as mulheres e meninas morram vítimas de estupros ou sejam obrigadas a gerar um filho mesmo que isso coloque a sua saúde em sério risco. Essa direita e o judiciário humilham essas vítimas, assim como fizeram com Mari Ferrer, provando que veem nas mulheres trabalhadoras e meninas, meras reprodutoras de mão de obra barata.

Esse judiciário, mais uma vez, mostra sua face autoritária e machista mais nojenta quando, mesmo num caso previsto em lei como este, simplesmente priva arbitrariamente, conforme sua própria vontade, uma criança de seguir um procedimento para salvaguardar sua vida.

“A Bíblia não é a Constituição e tampouco nela está escrito que o aborto é um pecado”

É necessário tomar as ruas contra essa atrocidade e exigir a cassação da licença de Joana Ribeiro Zimmer, lutando contra essa direita, mas sem confiança nas instituições desse regime, nesse congresso e judiciário reacionários que se alinham com Bolsonaro para nos atacar. Também, não podemos confiar que a chapa Lula-Alckmin irá avançar nessa pauta, quando o PT já provou nos seus 13 anos no poder que prefere abrir caminho à bancada evangélica do que garantir esse direito às mulheres.

É com a força da organização das mulheres e trabalhadores que se conquista esse direito, como fizeram nossas irmãs argentinas que conquistaram o direito ao aborto, como fizeram as colombianas, que conquistaram a descriminalização e como fazem hoje as mulheres nos Estados Unidos, que lutam contra o retrocesso nos seus direitos reprodutivos. É necessário lutar para arrancar o direito ao aborto legal, seguro e grauito, por uma sociedade que as meninas e mulheres tenham direito de disfrutar de uma vida livre de opressão e exploração.





Gabriela Mueller é estudante de Psicologia UFRGS.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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