As redes sociais nos têm deslumbrado. Acreditamos, em nossa estreita margem de familiaridade com o mundo da comunicação virtual, em uma ilusão de influência para um universo do qual desconhecemos sua magnitude, mas também sua profundidade. Nesse encantamento no qual caímos – pelo simples fato de ter um instrumento capaz de conectar-nos com o mundo – esquecemos de algo tão básico como a importância da ação direta e, nessa atuação, a responsabilidade que nos cabe para o nosso entorno imediato.
Desse modo, o que deveria representar uma participação ativa no sistema do qual formamos parte, nos voltamos para um arremedo de exercício cidadão em mensagens, comunicados e protestos incorpóreos de monitor a monitor, tudo o qual morre ao ritmo de novas mensagens, novos comunicados e novos protestos. Nesse fluxo incessante cabe tudo; desde os apelos a uma ação que não se produz até a ilusão de haver gerado algum tipo de reação entre aqueles que nos escutam à distância.
Nesse transitar desde a poltrona em frente ao computador, esquecemos do mais importante: é que essas redes que tanto nos fascinam, não nos pertencem. São sistemas manejados desde lugares remotos por seres anônimos, altamente treinados, divorciados completamente de nossas ânsias e preocupações, e muito conscientes de seu poder.
Essas redes, esses sistemas de alta tecnologia que cruzam o mundo virtual, estão totalmente fora do nosso alcance e, por razões óbvias, fora de nossa capacidade de exercer sobre eles algum tipo de influência.
Isto não significa afastar-se deste recurso, o qual tem demonstrado sua enorme utilidade. No entanto, é importante ter presente que não substitui, em nenhum caso, o exercício cidadão direto, aquele em cujas ações descansa toda a engrenagem do sistema político e, por consequência, nossas débeis democracias. A presença cidadã nunca pode ser somente virtual, e não somente física, mas sim também imponente, ruidosa e exigente de seus direitos.
Wikipedia Commons
Chegamos à tecnologia com um baixo nível de entendimento.
A capacidade humana de se habituar a diferentes entornos – tal como sucede hoje com a tecnologia – tende a criar ilusões e a perder de vista a realidade. É imperativo compreender a urgência de pôr os pés sobre a terra e lutar pela justiça e pelos direitos desde a mesma plataforma onde são violados diariamente. Esse é o ensinamento forte e vital a partir dos povos que, por sua condição de pobreza, não têm acesso a esse recurso tão sofisticado como discriminatório.
A dependência criada por estratégias de mercado agressivas e sedutoras a partir do mundo da alta tecnologia deve ser mantida sob controle, por sua capacidade para alienar-nos de nossa realidade.
A presença em redes sociais, à qual adjudicamos mais importância do que corresponde, é uma boa forma de comunicação, mas não o recurso mágico para gerar mudanças estruturais em sistemas políticos que degeneraram em abusos e corrupção. Deixar-nos enganar por sua duvidosa efetividade é uma forma de eludir um cúmulo importante de responsabilidades.
A força de uma cidadania consciente reside em sua presença, em sua voz e sua capacidade para impor sua autoridade, como foi demonstrado ao longo da História. Nada pode substituir o poder das massas quando estas assumem a autoridade que lhe pertence por direito.
Nada pode substituir o poder da presença física de uma cidadania consciente.
Carolina Vásquez Araya é colaboradora da Diálogos do Sul na Cidade da Guatemala.
Tradução de Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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