Neste sugestivo mês de junho, o mundo tem a possibilidade de conhecer dois eventos, quase em paralelo, iluminados por um mesmo signo. A IX Cúpula de Chefes de Estado, concluída na sexta-feira passada sem pena nem glória, e a da OTAN, que terá lugar de 28 a 30 de junho em Madri, orientada a “coordenar ações” para salvar Zelensky e enfrentar a guerra na Ucrânia.
Não há dúvida que ambos os eventos foram inscritos na ideia de servir ao Governo dos Estados Unidos para alimentar a tradição imperial e fazê-la mais ostensiva diante dos olhos do mundo. Na América, reeditando as ilusões de James Monroe, e na Europa alentando o renascimento do Nazismo como forma de recuperar – com uma estratégia belicista – a iniciativa global.
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Debilitada desde seu início pela ausência de um triângulo que tira o sono à Casa Branca, o encontro da Califórnia registrou notáveis ausências. Oito presidentes da América hispânica deixaram vazio um lugar que não pode ser ocupado por ninguém.
Como ocorreu em outros casos, o silêncio que acompanhou seu gesto, resultou mais eloquente que todos os discursos que foram pronunciados em um evento no qual o único que brilhou foram as luzes do palco. Pelo resto, Almagro pagou caro, porque lhe perfilaram, uma a uma, suas falcatruas.
Em Madri, rangerão também as arestas de uma aliança militar que tem tudo a perder, e que se empenha em prolongar uma guerra usando a Ucrânia como bucha de canhão para sua estratégia de domínio mundial.
Quando for narrada a história de IX Cúpula das Américas, deverá ser admitido que a ausência dos Chefes de Estado de Cuba, Venezuela, Nicarágua, México, Bolívia, Honduras, El Salvador e até Uruguai, que faltou por outras razões, resultou mais sonora que a ordinária vertigem falante de quem esteve aí, uns para acomodar-se placidamente à sombra do anfitrião e outros para expressar seu desacordo com uma “linha de trabalho” hegemônica, excludente e sectária, profundamente ferida pelo que inquestionavelmente constitui um rechaço às suas velhas práticas imperiais.
Este não é já o momento do passado em que a voz de Washington era norma e lei para todos
Pedro Castillo se equivocou de reunião. Devia concluir sua tímida alocução com uma precisa frase de Bolívar: “Para nós, a Pátria é a América. Nossa consigna, a Independência e a Liberdade!”.
Em Madri as coisas não marcharão como desejariam os chefetes dessa guerreira armação. Os estrategistas da derrota no Donbass terão que pôr a culpa um nos outros pelo fracasso de seus planos belicistas.
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Os grandes temas, regem um e outro certame. Em Los Angeles, desde diversos ângulos, foi expressado o desacordo de muitos com a exclusão de países da região por razões de ordem política ou ideológica. Ninguém tem o direito de discriminar, foi dito, e menos de impor ausências forçadas. A “lei do mais forte” é incompatível com a democracia que se apregoa, mas, sobretudo, com a realidade que nosso tempo impõe.
Porque este não é já o momento do passado em que a voz de Washington era norma e lei para todos. Nem tampouco a etapa na qual o servilismo e a obediência constituíam o comum denominador entre governos párias e mandatários submissos.
Nesse aspecto, de Cuba se falou com meridiana clareza em torno ao bloqueio genocida que já cumpriu mais de 60 anos e adicionalmente, se sublinhou o avanço que em temas de saúde e medicina alcançou o maior das Antilhas, que superou largamente inclusive aos próprios Estados Unidos de América do Norte, não só no plano da Medicina-Ciência, mas sim também no papel social que cumprem os médicos cubanos em diversos confins do planeta.
Mas nem a Venezuela nem a Nicarágua estiveram ausentes do interesse e da preocupação dos hóspedes da Califórnia. Ninguém que se respeite minimamente se mostrou de acordo com a discriminação de que foram objeto as pátrias de Bolívar e de Sandino.
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E quanto à primeira, ficou claro que nem sequer o Presidente dos Estados Unidos reconhece Juan Guaidó. E é que hoje, esse obscuro personagem de fancaria não está em capacidade de vender aos EUA nem um barril de petróleo.
No encontro que haverá de celebrar-se na Península Ibérica, não faltarão tampouco as discrepâncias. O fracasso das “sanções” contra a Rússia será motivo de preocupação mais do que severa; a perda de material de guerra entregue pelos Estados Unidos e outras potências à Ucrânia, gerará um clima de insegurança absoluta; mas para os vendedores de armas, o tema aparecerá como um reluzente negócio.
Não obstante, uns e outros, ouvirão as palavras de Angela Merkel e a retirada da Chanceler germana, contra as pretensões de Kiev. Elas constituem um mínimo de realismo, tanto nos líderes do ocidente quanto na hora atual. Suécia, Finlândia e Ucrânia ficarão na lista de espera porque as portas do consórcio militar não se lhe abrirão.
Hoje, nem a América nem o Mundo estão para alimentar ódios, manter bloqueios nem alentar conflitos. A hora dos povos marcha por um caminho distinto. É o momento de falar de paz, portanto, aqui cabe desativar a política genocida na América e pôr fim à estratégia belicista na Ucrânia.
Uma e outra quebraram nos fatos, e infligiram danos imensos à humanidade do nosso tempo.
E é que só levaram sangue e morte a distintos confins do planeta.
Gustavo Espinoza M. é colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução Beatriz Cannabrava.
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