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Após cúpula esvaziada, EUA dizem ser "força mais potente em guiar ações" das Américas

De acordo com a porta-voz da Casa Branca, presidente Biden "continua sendo líder no hemisfério” em temas importantes como clima e desigualdade
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“Não cremos que ditadores devam ser convidados”, declarou a Casa Branca ao justificar sua decisão de não convidar Cuba, Venezuela e Nicarágua à Cúpula das Américas, mas assegurou que mantém um diálogo continuo com o Presidente Andrés Manuel López Obrador e  a contribuição do México à cúpula, e confirmou uma próxima visita do mandatário mexicano a Washington em julho.

A decisão do Presidente López Obrador de não assistir ao encontro hemisférico em Los Angeles, foi o noticia principal ao começar a nona edição da Cúpula das Américas, na qual Estados Unidos é o anfitrião pela primeira vez desde o evento inaugural em Miami em 1994, e com isso o debate agora é se a ausência do mandatário mexicano, junto com alguns de seus contrapartes latino-americanos e caribenhos prejudicará a assembleia de líderes e sobretudo o presidente Joe Biden.

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O anúncio de López Obrador foi a primeira pergunta na entrevista coletiva cotidiana na Casa Branca no qual a porta-voz, Karine Jean-Pierre, declarou que se manteve um intercâmbio constante com o mandatário mexicano e outros líderes regionais “durante mais de um mês sobre o tema dos convites à cúpula”.

Indicou que há uma gama de opiniões sobre esse assunto no hemisfério como dentro dos Estados Unidos, mas que depois de consultas, “a posição de princípios do presidente é que não cremos que ditadores devam ser convidados”. 

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A porta-voz sublinhou que se espera contar com a presença do chanceler mexicano Marcelo Ebrard “e demos as boas-vindas à contribuição significativa do México à Cúpula”. Sublinhou que a presidência mexicana avisou a Casa Branca de sua decisão de não assistir antes de fazê-la pública na manhã de segunda-feira. 

Ademais, Jean Pierre destacou que Biden dará as boas-vindas a “Obrador” e sua esposa em Washington em julho “para uma visita bilateral” onde ambos os mandatários avançarão com os resultados da cúpula.

Perguntada sobre se a ausência dos mandatários do México e outros países implica que a influência de Washington está se reduzindo na região, a porta-voz respondeu:

“Os Estados Unidos permanecem como a força mais potente em guiar ações hemisféricas para abordar os desafios centrais que enfrentam os povos dos Américas” entre as quais enumerou a desigualdade, a saúde, a mudança climática, a segurança alimentar, “e então o presidente continua sendo um líder no hemisfério”.

De acordo com a porta-voz da Casa Branca,  presidente Biden "continua sendo líder no hemisfério” em temas importantes como clima e desigualdade

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Ausência de vários líderes latinoamericanos esvazia Cúpula "comandada" por Biden

Presenças e ausências: Tanto faz

Um alto funcionário do governo de Biden, por separado, indicou que se espera a presença de 23 chefes de Estado na Cúpula, com vários outros países enviando chanceleres ou outros representantes de alto nível. Assegurou em teleconferência com jornalistas que “a participação não será um problema” nesta cúpula. 

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Em torno ao país vizinho, sublinhou que o México estará presente e está contribuindo de maneira significativa em várias iniciativas que serão anunciadas durante a semana na cúpula, e reiterou que em torno à não participação de López Obrador simplesmente se trata de “uma decisão soberana do México com a qual não estamos de acordo”.

Biden chega à Cúpula nesta quarta-feira e permanece em Los Angeles três dias, informou a Casa Branca. Nesse dia ele presidirá uma cerimônia inaugural para os representantes governamentais e serão abordados temas de recuperação econômica, comércio sustentável, investimentos em saúde, e assistência alimentar, entre outros na agenda econômica.

Kamala, Caribe e migrações

Na quinta-feira, a vice-presidenta Kamala Harris presidirá uma reunião sobre o Caribe, e o presidente estará focado em temas de energia e meio ambiente. Na sexta-feira, a culminação será a apresentação de uma “declaração sobre migração”, na qual se anunciará “um novo plano audaz” para abordar a crise migratória na região.  

Mas o ambicioso programa por ora não supera as implicações da decisão de Biden de não convidar países como Cuba, Venezuela e Nicarágua, e o fato de que essa decisão não foi por “princípios” de política exterior, senão por razões de política interna, sobretudo cálculos eleitorais em torno às forças contra revolucionárias nos estados da Flórida e de Nova Jersey.

Democrata “pero no mucho”

O senador democrata cubano-estadunidense Robert Menéndez, poderoso chefe do Comitê de Relações Exteriores, afirmou que a decisão de Biden é um triunfo de sua posição de que “a cúpula é uma oportunidade para que as democracias – e não bandidos autoritários – através do hemisfério forjem uma agenda que promova nossa prosperidade e valores democráticos compartilhados”, e se atribui o crédito de que Biden haja preservado a cúpula como “uma reunião de democracias”.  

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Menéndez condenou a decisão do México afirmando: “eu me somo a aqueles cada vez mais preocupados pela decisão do Presidente López Obrador de ficar de lado de ditadores e déspotas em lugar de representar os interesses do povo mexicano em uma cúpula junto com seus sócios através do hemisfério”. 

Mas os custos políticos desta decisão de comprazer estas forças internas para o hemisfério são evidentes. Vários observadores estadunidenses, incluindo alguns que participaram em organizar e promover cúpulas anteriores, expressaram preocupação de que as manobras em torno da lista de convidados tenham prejudicado a cúpula. 

Oportunidade perdida

Ben Rhodes, que ajudou a encabeçar o esforço de normalização com Cuba como sub-assessor nacional de segurança do presidente Barack Obama, comentou que a decisão de excluir Cuba dessa Cúpula “é uma enorme oportunidade perdida”. Estamos nos isolando ao dar esse passo, porque agora temos o México, países caribenhos dizendo que não virão, o que só fará com que Cuba se veja mais forte que nós”, reportou AP. 

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Mais ainda, alguns assinalam que as ameaças ou críticas de vários líderes indicando que estavam contemplando não participar já havia nublado o panorama desejado por Biden.

Por isso, representantes do governo de Biden foram obrigados a insistir durante as últimas semanas que a participação de mandatário não afetará a êxito da Cúpula, apesar de ter havido intensas negociações para convencê-los a participar, inclusive ao do México, com a mobilização de vários representantes do governo de Biden e inclusive chamadas pessoais do presidente a suas contrapartes. 

Bolsonaro, Fernández e….Guaidó

Jair Bolsonaro, presidente do Brasil que havia indicado que não assistiria, agora participará, mas só depois de que a Casa Branca lhe ofereceu uma reunião bilateral com Biden na Cúpula.

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O presidente da Argentina, Alberto Fernández, não se decidiu até a semana passada após receber uma chamada telefônica de Biden que o convidou à Casa Branca nos próximos meses. O enviado especial de Biden para a cúpula, o ex-senador Christopher Dodd, esteve dedicado a conseguir a participação de vários mandatários, inclusive a de López Obrador durante o último mês.

Enquanto isso, diante de demandas de países caribenhos de que Juan Guaidó não fosse convidado, o governo de Biden indicou hoje que se espera haver algum intercâmbio com o venezuelano ao reiterar que Washington continua reconhecendo-o como presidente interino, mas aparentemente se descarta sua presença física em Los Angeles. Segundo alguma fonte, é possível que tenha uma videoconferência com Biden à margem da Cúpula, reportou o Miami Herald.

Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, informou que embora os governos de três países não tenham sido convidados, representantes de ONGs cubanas, venezuelanas e nicaraguenses participarão nos atos oficiais paralelos à Cúpula. 

Para mais informações oficiais sobre a Cúpula: https://www.state.gov/acerca-de-novena-cumbre-de-las-americas/..

David Brooks, correspondente de La jornada em Nova York, 6 de junho

Tradução Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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