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Foto: Joe Piette / X

EUA tiram Cuba de lista sobre terrorismo: decisão é positiva, mas não anula sanções

Governo Biden mantém Cuba na "lista dos Patrocinadores Estatais de Terrorismo", cruciais para a continuação do bloqueio econômico que asfixia a ilha
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O governo dos Estados Unidos reconheceu nesta quarta-feira (15) a cooperação com Cuba em assuntos de segurança pública, incluindo esforços antiterroristas, o que alguns analistas consideram como um possível indicativo de um início de mudança na política em relação à ilha. No entanto, a designação de Cuba como “um patrocinador estatal de terrorismo”, com suas severas sanções, permanece em vigor sem mudanças.

O secretário de Estado, Antony Blinken, removeu Cuba da lista oficial de países que “não cooperam plenamente” com os esforços antiterroristas dos Estados Unidos. Um funcionário do Departamento de Estado, que pediu anonimato, confirmou ao La Jornada que Cuba ficou fora dessa lista de países que não “cooperam plenamente” – a lista é elaborada anualmente sob a Lei de Controle de Exportação de Armas.

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Sob essa lei, qualquer país nessa lista não pode receber artigos de defesa dos Estados Unidos. Como Cuba não recebeu assistência militar dos Estados Unidos, não haverá consequências materiais com essa mudança, explicou Jeff Abramson, um especialista em comércio de armas no Center for International Policy.

O que mudou

O que mudou, indicou o funcionário do Departamento de Estado, é a avaliação da cooperação estadunidense com Havana. “Os Estados Unidos e Cuba retomaram a cooperação na aplicação da lei em 2023, incluindo antiterrorismo. Portanto, o Departamento de Estado determinou que a contínua certificação de Cuba como um país que ‘não coopera plenamente’ já não era apropriada”, explicou.

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O funcionário acrescentou que Cuba continuava nessa lista em 2022 devido à negativa da ilha em trabalhar com a Colômbia “nos pedidos de extradição para membros do Exército de Libertação Nacional (ELN)”.

No entanto, o funcionário ressaltou que “esta não é a mesma lista dos Patrocinadores Estatais de Terrorismo” e que essa requer critérios específicos para avaliar se essa designação deve ser ou não anulada.

“Um passo para a verdade”

Fulton Armstrong, ex-oficial de Inteligência Nacional para a América Latina e especialista em relações interamericanas, qualificou a ação de hoje como “um passo em direção à verdade – um reconhecimento de que a posição anterior deste governo era insustentável, e isso é importante”. Acrescentou ao La Jornada: “é um sinal positivo de baixo custo”.

Mas indicou que o governo de Joe Biden “cavou um buraco profundo ao manter a colocação de Cuba na lista de patrocinadores de terrorismo feita por Trump, mas pode-se esperar que essa mentira também será descartada quando este governo sentir que a política eleitoral permitir”. Concluiu que o governo de Biden “ainda está longe de reverter os danos causados ao continuar com a designação de Trump por mais de três anos”.

Políticos e juízes estrangeiros são acusados de corrupção

A apenas algumas quadras de onde está ocorrendo o julgamento do ex-presidente republicano Donald Trump por falsificação de gastos de campanha após ser declarado culpado por fraude financeira, começa outro julgamento contra o senador democrata Robert Menéndez por agir como agente de interesses estrangeiros em troca de subornos, e no Texas se prepara o processo para julgar o deputado federal democrata Henry Cuellar por algo parecido – os três têm em comum que frequentemente criticavam a corrupção política em outros países.

De fato, os dois julgamentos são históricos: Menéndez é o primeiro senador em décadas a ser acusado de agir como agente para interesses estrangeiros, o primeiro em 36 anos a ser julgado por suborno, e o primeiro na história a ser acusado em dois casos separados por suborno. Por sua vez, Trump é o primeiro ex-presidente a enfrentar um julgamento criminal.

Assim, com o republicano em um banco dos réus, e o democrata Menéndez – e em breve Cuellar – no outro, pode-se concluir que a corrupção é nos dois partidos.

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No tribunal federal em Nova York, o antes poderoso senador que foi presidente do Comitê de Relações Exteriores, foi acusado de “colocar seu poder à venda” pela procuradora federal Lara Pomerantz ao iniciar o julgamento. “Isso se tratava de política para lucrar. Este era um senador dos Estados Unidos a pagamento”. Acusou perante o júri que “por anos, Robert Menéndez traiu o povo que deveria estar servindo ao aceitar subornos”.

Tráfico de influência

Menéndez e sua esposa, Nadine, estão acusados de empregar “sua influência e poder” entre 2018 e 2023 em benefício de interesses estrangeiros e de empresários de seu estado de Nova Jersey em troca de subornos. Entre os bens confiscados em uma operação em sua casa pelo FBI há um ano, havia barras de ouro, cerca de 480 mil dólares em dinheiro – parte escondido nos bolsos das roupas – e um conversível Mercedes-Benz. Segundo a acusação, também haviam recebido pagamentos para a hipoteca de sua casa.

Os atos de Menéndez em troca desses presentes incluíam favores para o governo do Egito para que os Estados Unidos liberassem assistência militar, tentativas de frear casos criminais de dois empresários e promover negócios entre empresários e a família real do Catar.

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Seu advogado de defesa argumentou perante o júri ao iniciar o julgamento, que as evidências demonstrarão que o senador “estava fazendo seu trabalho e o estava fazendo bem”. Insistiu que ele estava representando devidamente as pessoas de sua comunidade, e que no caso do Egito, estava exercendo seu papel diplomático. O advogado de defesa não só justificou as ações de seu cliente, mas também implicou sua esposa nos supostos delitos. Indicou que ela tinha “problemas financeiros” que estava escondendo do marido. Ela está acusada de ser uma intermediária entre seu marido, oficiais de inteligência do Egito e empresários, e será julgada separadamente.

Justificativa: “trauma de refugiado”

Menéndez justificou o dinheiro encontrado em várias partes de sua casa, indicando que era uma prática herdada de sua família como resultado dos “traumas” como “refugiados”, incluindo a confiscação de suas propriedades em Cuba após a Revolução (sua família já havia migrado antes da revolução em 1953 e o acusado nasceu em Nova York em 1954).

O caso durará algumas semanas. Menéndez foi julgado anteriormente por subornos em 2015, mas seu julgamento terminou sem que o júri chegasse a uma conclusão unânime. Nesse caso, ele foi acusado de receber quase um milhão de dólares em presentes e doações, incluindo viagens pagas para o Caribe onde apareceram mulheres jovens (algumas aparentemente menores de idade) por um médico corrupto na Flórida.

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Durante seus anos no Senado, e como presidente do poderoso Comitê de Relações Exteriores, Menéndez se apresentou repetidamente como defensor da transparência e era um crítico vociferante da corrupção política em outros países, especialmente na América Latina. Sua posição contra o governo cubano ajudou a impor maiores sanções enquanto defendia a política de bloqueio contra a ilha e aceita o crédito por bloquear possíveis tentativas do governo de Joe Biden de retomar a normalização com Cuba alcançada sob Barack Obama.

Criticou o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador de tentar chantagear o presidente Joe Biden para incluir governos “não democráticos” como Cuba e Venezuela na Cúpula das Américas. Também criticou López Obrador por promover medidas antidemocráticas em referência às reformas do INE.

Cuellar, como Menéndez, compartilha o “honra” de ser um dos primeiros dois legisladores federais na história a serem acusados de agir para interesses estrangeiros. No caso do deputado federal por Laredo, ele foi acusado este mês de aceitar subornos de mais de meio milhão de dólares em troca de favores para um banco mexicano e para uma empresa estatal do Azerbaijão. Esse caso ainda está longe de chegar a um julgamento.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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