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Foto: Chancelaria de Cuba

Cuba denuncia golpismo: EUA causam de fome a apagões e depois fomentam protestos

Governo cubano convocou diplomata estadunidense para repreender os ataques feitos por Washington
Redação Página 12
Página 12
Buenos Aires

Tradução:

Carolina Ferreira

O encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Havana, Benjamín Ziff, foi convocado nesta segunda-feira (18) à chancelaria pelo “comportamento de interferência” de Washington durante os protestos pelos apagões e escassez de alimentos registrados no domingo em Santiago de Cuba. Num comunicado, Cuba culpou as sanções dos EUA pela grave crise do país, que descreveu como uma “guerra econômica impiedosa” apoiada pela mídia internacional.

O vice-ministro das Relações Exteriores, Carlos Fernández de Cossío, “transmitiu formalmente” a Ziff “a firme rejeição ao comportamento intervencionista e às mensagens caluniosas do governo dos Estados Unidos e de sua embaixada em Cuba em relação aos assuntos internos da realidade cubana”. A chamada de atenção ao diplomata norte-americano ocorre depois de centenas de pessoas terem saído para protestar em Santiago de Cuba, no leste da ilha e segunda cidade mais importante do país, com 510 mil habitantes, devido a apagões de até 13 horas em um dia.

Washington garantiu que estes protestos refletem uma “situação desesperadora” e considerou “absurda” a acusação de que está por trás das manifestações, segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel. Mais tarde, o responsável do Departamento de Estado pela América Latina, Brian Nichols, disse que os Estados Unidos “apoiam o povo cubano no exercício do seu direito de reunião pacífica”.

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Nichols opinou ainda que “o governo cubano não será capaz de satisfazer as necessidades do seu povo até abraçar a democracia e o Estado de direito e respeitar os direitos dos cidadãos”. A embaixada dos EUA em Cuba disse ter relatos de “protestos pacíficos” em Santiago de Cuba e na cidade de Bayamo, na província vizinha de Granma, e em outros locais da ilha. 

“Responsabilidade direta” dos EUA

O vice-ministro Fernández de Cossío destacou a Ziff “a responsabilidade direta” de Washington “perante a difícil situação econômica que Cuba atravessa atualmente, sob o peso e o impacto do bloqueio econômico destinado a destruir a capacidade econômica do país”. Os Estados Unidos mantêm há mais de seis décadas um embargo econômico contra a ilha, reforçado nos últimos anos, primeiro sob o mandato de Donald Trump (2017-2021) e continuado pelo seu sucessor Joe Biden.

“Se o governo dos Estados Unidos tivesse uma preocupação mínima e honesta com o bem-estar da população cubana, retiraria Cuba da lista arbitrária de Estados que supostamente patrocinam o terrorismo”, alerta o comunicado do Ministério das Relações Exteriores cubano. Em 2021, Washington voltou a incluir Cuba na sua infame lista de patrocinadores do terrorismo, medida que dificulta as transações comerciais e os investimentos da ilha.

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Na manhã desta segunda-feira, disse o presidente Miguel Díaz -Canel: “Não nos cansaremos de lutar contra o bloqueio genocida nem de explicar ao povo as causas dos problemas e os esforços do governo para fazer avançar a economia”, acrescentou Díaz-Canel.

No mesmo dia, o governo da Nicarágua manifestou o seu apoio ao de Cuba. Num documento dirigido ao líder cubano Raúl Castro e ao presidente Miguel Díaz-Canel, o seu homólogo nicaragüense, Daniel Ortega, disse confiar que “com a força desse grande povo e do Deus de todos os triunfos, a história de honrosa coragem diante de audácia imoral dos Imperialistas da Terra, continuará a brilhar.” Ortega disse que continuará escrevendo “novas páginas de significado exemplar dos desafios impostos, mostrando mais uma vez o espírito indomável de Fidel, Raúl, Miguel e daquela invencível revolução cubana”.

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Desde o início de março, Cuba enfrenta uma nova série de cortes de energia devido às obras de manutenção realizadas na central termoelétrica Antonio Guiteras, a mais importante da ilha, localizada em Matanzas. Neste final de semana, os cortes de energia se agravaram por falta de combustível, necessário para abastecer as demais termelétricas.

As autoridades informaram no sábado que o país foi “completamente afetado” pelos apagões, incluindo a capital, sem atingir um corte generalizado de energia. Em 2022, Cuba sofreu apagões quase diários que causaram surtos de protesto social. A manifestação de domingo é a maior desde então. A pandemia, o endurecimento das sanções dos EUA e os erros endógenos nas políticas econômicas e monetárias agravaram os problemas estruturais do sistema cubano nos últimos três anos. 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Redação Página 12

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