* Atualizado em 05/05/2022 às 13h40.
“No dia 14 de março, às três menos um quarto da tarde, deixou de pensar o maior pensador de nossos dias. Só o deixamos dois minutos sozinho, e quando voltamos, o encontramos adormecido suavemente em sua poltrona, mas para sempre.
É totalmente impossível calcular o que o proletariado militante da Europa e da América e a ciência histórica perderam com este homem. Logo se fará sentir o vazio que deixou a morte desta figura gigantesca.
Assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da natureza orgânica, Marx descobriu a lei do desenvolvimento da história humana: o fato, tão simples, mas oculto até então sob o entulho ideológico, de que o homem necessita, em primeiro lugar, comer, beber, ter um teto e vestir-se antes de poder fazer política, ciência, arte, religião, etc., que, portanto, a produção dos meios de vida imediatos, materiais, por conseguinte, a correspondente fase econômica de desenvolvimento de um povo ou de uma época é a base a partir da qual se desenvolveram as instituições políticas, as concepções jurídicas, as ideias artísticas e inclusive as ideias religiosas dos homens e com arreglo à qual devem, portanto, ser explicadas, e não ao contrário, como até então vinha se fazendo.
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Mas não é só isso. Marx descobriu também a lei específica que move o atual modo de produção capitalista e a sociedade burguesa criada por ele. O descobrimento da mais-valia iluminou de imediato estes problemas, enquanto todas as pesquisas anteriores, tanto as dos economistas burgueses como as dos críticos socialistas, tinham vagado nas trevas”.
Defense of Marxism
"Marx pode ter tido muitos mais adversários, mas não teve nunca um inimigo pessoal"
“Duas descobertas como estas deviam bastar para uma vida. Quem tenha a sorte de fazer apenas uma descoberta assim, já pode se considerar feliz. Mas não houve um só campo que Marx não submetesse a investigação — e estes campos foram muitos e ele não se limitou a tocar de passagem nem um único deles —, incluindo as matemáticas – em que não fizesse descobertas originais.
Tal era o homem de ciência. Mas este não, ni con mucho, a metade do homem. Para Marx, a ciência era uma força histórica motriz, uma força revolucionária.
Por puro que fosse o prazer que pudesse proporcionar-lhe uma nova descoberta feita em qualquer ciência teórica e cuja aplicação prática talvez não pudesse ser prevista ainda de modo algum, era muito outro o prazer que experimentava quando se tratava de uma descoberta que exercia imediatamente uma influência revolucionária na indústria e no desenvolvimento histórico em geral.
Por isso seguia detalhadamente a marcha das descobertas realizadas no campo da eletricidade, até as de Marcel Deprez nos últimos tempos.
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Pois Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Cooperar, deste ou daquele modo, com o derrocamento da sociedade capitalista e das instituições políticas criadas por ela, contribuir com a emancipação do proletariado moderno, a quem ele infundira pela primeira vez a consciência de sua própria situação e de suas necessidades, a consciência das condições de sua emancipação: tal era a verdadeira missão de sua vida. A luta era seu elemento.
E lutou com uma paixão, uma tenacidade e um êxito como poucos. Primeira Rheinische Zeitung, 1842; Vorwarts de Paris, 1844; Deutsche-Brüsseler-Zeitung, 1847; Neue Rheinische Zeitung, 1848-1849; New-York Daily Tribune, 1852-1861, ao que é preciso acrescentar um montão de folhetos de luta e o trabalho nas organizações de Paris, Bruxelas e Londres, até que, por último, nasceu como arremate de tudo, a grande Associação Internacional dos Trabalhadores, que era, na verdade, uma obra de que seu autor podia estar orgulhoso, ainda que não tivesse criado mais nada.
Por isso, Marx era o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Os governos, tanto os absolutistas quanto os republicanos, expulsavam-no. Os burgueses, tanto os conservadores quanto os ultrademocratas, competiam em lançar difamações contra ele. Marx punha tudo isso de lado como se fossem teias de aranha, não fazia caso; só respondia quando a necessidade imperiosa o exigia.
E morreu venerado, querido, chorado por milhões de operários da causa revolucionária, como ele, disseminados por toda a Europa e a América, desde as minas da Sibéria até a Califórnia. E posso atrever-me a dizer que Marx pode ter tido muitos mais adversários, mas não teve nunca um inimigo pessoal. Seu nome e sua obra viverão pelos séculos afora”.
* Friedrich Engels, Filósofo, sociólogo, jornalista, historiador, politólogo, autor de “A Origem da Família, a Propriedade Privada e o Estado”, foi considerado como um dos pais do socialismo. Junto com Marx, foi autor do Manifesto Comunista.
** Comunicação União de Trabalhadores da Imprensa de Buenos Aires.
*** Tradução de Ana Corbisier.
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