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ToggleO conflito no Leste Europeu, é, na verdade, mundial, parte do confronto entre o Sul Global, explorado e saqueado, contra o norte explorador, saqueador. Não todo o hemisfério, mas o norte sob a hegemonia do imperialismo dos Estados Unidos, que se enriquece à custa do trabalho e das riquezas do sul.
Os Estados Unidos impuseram sanções muito duras à Rússia — ao conseguirem bloquear todos os recursos russos em dólares. Sob todos os aspectos, isso é uma declaração de guerra que envolve, além dos EUA, a União Europeia, o Reino Unidos, o Canadá, o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan, a Austrália e a Nova Zelândia. Já dissemos que a maior vítima é a Europa. Vergonhoso ver a submissão dos chefes de Estado europeus aos desígnios do Império decadente.
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Atuam como estertores do império ianque. Como o monstro é muito grande e forte, vai ficar estrebuchando ainda por mais algum tempo. A Europa não tinha, nem tem porque se deixar sucumbir junto. Para sobreviver, bastaria se livrar da ocupação estadunidense. Ocupação que é econômica, militar e cultural.
Seja por erros de cálculo ou perda do senso pela ganância dos senhores das guerras, o tiro desferido por Washington saiu pela culatra. A Europa mergulhou em uma crise que não afetou na mesma dimensão Moscou — o alvo principal das sanções — simplesmente porque a Rússia se preparou e tem recursos para viver por si mesma.
São Moscou e Pequim que estão a ditar as regras do jogo agora. No dia 31 de março, os chanceleres Sergey Lavrov e Wang Yi se reuniram com os governos de Irã, Paquistão, Tajiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Indonésia e Catar. Abordaram formas de ajudar o Afeganistão e o conjunto dos países da Ásia a criarem estratégias de desenvolvimento e cooperação através de investimentos em infraestrutura.
Foto: Divulgação
Seja por erros de cálculo ou perda do senso pela ganância dos senhores das guerras, o tiro desferido por Washington saiu pela culatra
O diplomata chinês foi categórico: não aceitamos hegemonias
Acabou a hegemonia do dólar sem lastro. Ninguém mais treme diante das canhoneiras do império decadente. Querem petróleo? Paguem em Yuan. Querem gás? Paguem em rubros. Como querer que a Rússia aceite pagamento em dólar se todas as suas contas em dólares nos bancos europeus bloqueadas?
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O atual premiê alemão, sem noção do que é seu próprio país, aderiu cegamente ao bloqueio determinado pelos Estados Unidos e anunciou que se nega pagar em rublos o gás fornecido pela Rússia. Não é bem assim. O que os russos exigem é que pague, em euros, dólares ou qualquer outra moeda, em um banco situado em território russo, que por sua vez faz o pagamento à petroleira em rubros. Da maneira como estava, a Rússia não teria acesso ao dinheiro, o mesmo que estar entregando o gás de graça.
Duraram pouco os rompantes do premiê As maiores empresas alemãs, como Volkswagen, Audi, BMW, Mercedes e Basf dependem de 70% a 100% do combustível russo para funcionar. No caso da Basf, a empresa ameaçou: se paramos, serão 40 mil trabalhadores desempregados.
A Europa e o mundo não podem sobreviver sem o combustível e o trigo, as commodities, em geral, fornecidas pela Rússia, que é autossuficiente e pode viver sem os dólares. Aliás, o mundo pode viver sem a moeda estadunidense, que é volátil, sem lastro e imposta à força por armas e especuladores que vivem à custa de um verdadeiro cassino global.
No lugar do dólar flutuante, volátil, dos especuladores, surgem moedas lastreadas em riquezas concretas, como são o petróleo, o ouro e as commodities, em geral. Essa é a mágica do novo sistema que já está funcionando envolvendo uma boa parte da Ásia e rapidamente aceito até por países como a Arábia Saudita — que orbita sempre em torno dos Estados Unidos, mas já vende seu petróleo em yuan.
A mídia hegemônica, refém do capital financeiro, está ignorando esses acontecimentos. Omissão de suma gravidade, posto se tratar de um movimento sem retorno. Terá que se submeter, mais adiante, queira ou não. Até lá, terá contribuído para o descrédito, perda da confiança.
O jornalista Pepe Escobar define esse evento como um Big Bang, ou seja, o nascimento de um novo mundo, livre da hegemonia do capital financeiro alicerçado no dólar, fundado na economia produtiva, lastreado em commodities e produtos.
Paulo Cannabrava Filho é editor da Diálogos do Sul.
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