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De “o petróleo é nosso” para vosso: Petrobras perdeu soberania para servir aos EUA

Hoje, companhia é gerida por Fundo Financeiro de Nova Iorque, sem compromisso com o Brasil, portanto abandonando caráter estatal
Claúdio di Mauro
Diálogos do Sul Global
Uberlândia (MG)

Tradução:

No Seminário PARA A TRANSFORMAÇÃO DO BRASIL tivemos a presença de uma das vozes mais eloquentes e que possui vida e história na Petrobras Trata-se do geólogo Guilherme Estrella.

Ele iniciou com a seguinte pergunta: o que representa a energia para a economia e a vida em geral? 

O quadro geopolítico mundial se alterou significativamente com a revolução industrial. A energia ganhou grande importância pois ela é base para o desenvolvimento industrial.

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As grandes nações do mundo, especialmente na Europa, objetivando a industrialização no século XIX desenvolveram a matriz energética. Tal desenvolvimento alcançou Inglaterra, França, Bélgica e só posteriormente os Estados Unidos da América do Norte.

O Brasil ficou para trás, somente no século XX se atentou para essa realidade. No meio daquele século, Getúlio Vargas compreendeu a importância da energia como componente necessário ao estabelecimento da Soberania Nacional com inserção na geopolítica mundial. Criou o Conselho Nacional de Petróleo e construiu a primeira refinaria brasileira.

Getúlio no Governo iniciou a exploração de petróleo após a descoberta de nosso primeiro campo petrolífero. Em 1953 foi criada a Petrobrás, fruto de imensa movimentação popular tendo slogan “O PETRÓLEO É NOSSO”.

Também em 1953, o Brasil fundou na Petrobrás seu Centro de Pesquisa, com a responsabilidade de desenvolver Pesquisa sobre Petróleo e seus campos de exploração. Nesse período, 80% da matriz energética mundial era procedente do Petróleo.

Hoje, companhia é gerida por Fundo Financeiro de Nova Iorque, sem compromisso com o Brasil, portanto abandonando caráter estatal

Petrobras
Hoje, a Petrobrás é gerida por um Fundo Financeiro de Nova Iorque, sem compromisso com o Brasil.

Exploração do Petróleo no Brasil

No Brasil a exploração do Petróleo começou nas áreas continentais. Só muito posteriormente iniciaram as pesquisas e a implantação de procedimentos para explorar áreas oceânicas. Foi em 1968 que se descobriu um primeiro campo de petróleo em área oceânica, dando nova motivação à Petrobrás e demonstrando que o Centro de Pesquisa tinha competência. Com tal reconhecimento, as pesquisas alcançaram os estudos e perfurações para águas profundas..

Isso foi absolutamente pioneiro no Mundo e levou a Petrobrás a receber um Prêmio que equivale ao Prêmio Nobel na área do petróleo. Importante: essa conquista foi realizada por uma Empresa Estatal e Monopolista, como disse Estrella.

Consenso de Washington

Em 1989 com a queda do Muro de Berlim, os Estados Unidos reuniram os países ocidentais para construir o Consenso de Washington, objetivando o controle e a hegemonia sobre a geopolítica mundial.

Esse Consenso aprovou pontos, entre os quais: redução de gastos públicos; reforma tributária; juros de mercado; câmbio de mercado; investimentos estrangeiros diretos; eliminação de restrições; privatização de estatais; desregulamentação e afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas e direitos da propriedade industrial.

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As consequências do consenso de Washington estamos vivendo e vendo na atualidade.

Governo FHC

Com o governo Fernando Henrique Cardoso, houve a diminuição em 52% do orçamento da Petrobrás. Em 1995, foi deflagrado o processo de construção do gasoduto Brasil-Bolívia em condições muito desfavoráveis para a Petrobrás.

Também em 1995, FHC quebrou o monopólio estatal do petróleo. São momentos muito negativos para a saúde financeira-pesquisa da Petrobras. Isso tudo atendendo ao Consenso de Washington.

Também foi de FHC quem criou a Agência de Petróleo, e designou um de seus parentes para presidi-la, que em seu discurso de posse afirmou: “O Petróleo não é mais Nosso ele agora é Vosso”.

Isso tudo estrangulou o destino da Petrobrás que passou a vender ações para estrangeiros, abrindo o capital da empresa e colocando-a na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Ou seja, nossa empresa estatal tendo que obedecer normas próprias da Bolsa de Valores de outro país.

Chegou-se mesmo a pretender a mudança do nome de Petrobras para Petrobrax.

A exploração da Petrobrás se concentrava na Bacia de Campos, mas todo o litoral brasileiro foi aberto para empresas estrangeiras.

Lula e a soberania energética

Em 2002, com a posse do Presidente Lula, há providências muito importantes: quebrando regras na área de exploração e produção. A Petrobrás teve que reassumir seu protagonismo na área de petróleo e gás natural.

O Centro de Pesquisas e as perfurações faziam da empresa a mais competente. Recuperou a Braspetro; Gasodutos; criou a Biocombustíveis, a área de fertilizantes; comprou a Liquigás. Correu imenso risco ao perfurar um poço que custou 220 milhões de dólares, mas resultou na descoberta do Pré-Sal.

O Brasil ficou com seu setor de energia completamente vitorioso, podendo construir o Projeto Nacional Soberano, totalmente nacional e com a competência das equipes técnicas da Petrobrás de Universidades e Centros de Pesquisas de Universidades Brasileiras.

A Petrobrás foi transformada na operadora única, pois pelas regras quem descobre o campo de petróleo é quem faz sua exploração.

Isso tudo acirrou a cobiça internacional contra o Brasil e surgiram as fraudes jurídicas para destruição da democracia, entregando tudo. Tudo foi construído para interesses privados, estrangeiros.

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Todo esse produto de décadas de construção foi desmontado para atender as decisões do Consenso de Washington. O Sistema Integrado da Petrobras é gerido de maneira integrada, administrando os preços, por exemplo do óleo e da gasolina é indispensável para o desenvolvimento industrial brasileiro.

Esse sistema foi quebrado para vender os campos petrolíferos de terras, de águas rasas e refinarias. O sistema foi esquartejado tendo como fundamento a abertura total do mercado brasileiro. Aí está o capitalismo produtivo se transformando em capitalismo financeiro.

Hoje, a Petrobrás é gerida por um Fundo Financeiro de Nova Iorque, sem compromisso com o Brasil. A Petrobrás hoje atua como uma empresa que não é do Brasil, não é estatal.

Daí, a necessidade de haver a reconstrução do Brasil e com isso, da Petrobrás.

Claudio di Mauro é geógrafo e colaborador da Diálogos do Sul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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