O reponte de contágios provocado, em certa medida, pelas reuniões de fim de ano e a confusão gerada por medidas sanitárias insuficientes e contraditórias, marca com força o início de uma nova folha no calendário.
Em alguns países do continente continua a campanha de vacinação para o segmento infantil com a intenção de retornar às aulas presenciais, e em outros mais avançados, já se começa a administrar a quarta dose em adultos. Estas medidas emergente demonstram até que ponto os governos respondem à imperiosa necessidade de recuperar o controle da economia e, com isso, um estilo de vida cujas características parecem formar parte do passado.
O que não se diz é quanto prejuízo irreparável causou esta pandemia nos países menos desenvolvidos. Evita-se escarvar na quantiosa perda de oportunidades de estudo e de trabalho para os segmentos médios e com maior ênfase para os menos favorecidos de nossas sociedades, onde as restrições de mobilidade, o fechamento de estabelecimentos educativos e comerciais, assim como a redução drástica da renda tem provocado um forte descenso das diferentes capas sociais. Além disso, o impacto negativo na qualidade de vida cruzou todo o universo, desde as famílias de alta renda até aqueles que sobrevivem na extrema pobreza.
Montagem
Os adultos reagem com temor ante a incerteza do futuro imediato
Mas se os adultos reagem com temor ante a incerteza do futuro imediato, é fácil imaginar quanto dessa angústia permeia para o resto da família, especialmente sobre jovens e crianças cujas rotinas foram anuladas de golpe, impedindo-os de realizar atividades essenciais no processo de alcançar um desenvolvimento integral e saudável.
O efeito psicológico da pandemia na população infantil e juvenil é um fator desconhecido, cujas consequências na saúde física e mental estão ainda por ser vistas.
Neste processo complexo e carregado de incógnitas, cruza-se um cúmulo de hipóteses, opiniões contraditórias de cientistas e posturas antagônicas de grupos de interesse — entre esses, líderes religiosos que negam a existência do vírus — capazes de confundir ainda mais uma população pouco informada e temerosa, mas sobretudo sujeita a decisões não consensuadas nem compartilhadas.
A autoridade dos governos tem feito disso, neste caso específico, um ensaio de prova e erro contaminado pelos interesses de setores de poder cuja menor preocupação é a saúde pública e cujo maior interesse reside em pôr em marcha a economia, a qualquer preço.
O custo social da pandemia é, até o presente, difícil de calcular. Em algumas nações do continente, o grosso da população vive afastada dos centros urbanos e sem presença do Estado. Ou seja, habitam em uma esfera cujos indicadores são desconhecidos pelas instituições e onde carecem de todos os recursos básicos de atenção sanitária.
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Ao ser vítimas de uma doença tão devastadora como a provocada pela Covid-19 e suas variantes, suas esperanças de vida se reduzem ao mínimo. Estas comunidades são, em sua maioria, integradas por povos originários que têm sido historicamente marginados, desprovidos de poder econômico, político e assediados de maneira constante em uma batalha sem quartel por suas terras e seus recursos.
Para começar a entender o alcance dos efeitos do vivido atualmente no mundo é necessário dar uma olhada ao longe, prestar atenção ao que sucede além de nosso entorno imediato e ainda muito além de nosso limitado conceito de sociedade. Nas fronteiras urbanas está o início de uma realidade distinta, cujos indicadores representam o verdadeiro perfil de nossos países.
No interior das cidades também existe outra fronteira, outra divisão ilustrativa da desigualdade, e é a marcada entre a população adulta e os amplos setores de infância e adolescência, mais afetados que ninguém por este fenômeno sanitário complexo e desconhecido que escapa à sua compreensão e altera sua vida de modo radical.
Vale a pena dar uma olhada à verdadeira pátria que decidimos ignorar.
*Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava
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