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Nassif | Moro é a maior ameaça à democracia, significa a ditadura das corporações públicas

Eleito, não terá planos de governo. Nas primeiras entrevistas, limitou-se a utilizar bordões liberais para cativar um empresariado carente de liderança e de projetos
Luís Nassif
Jornal GGN
Brasília (DF)

Tradução:

A perda de rumo do país fica evidente na tentativa de entronizar a candidatura dos ex-juiz Sérgio Moro na Terceira Via. Trata-se da maior ameaça atual à democracia. Bolsonaro representa o eleitorado lúmpen. Moro representa a pior forma de ditadura, a das corporações públicas e com vinculações estreitas com a pior banda do Supremo Tribunal Federal. Sua candidatura terá apoio do Partido Militar, do Partido do Ministério Público, do alto funcionalismo público.

Eleito, não terá planos de governo. Nas primeiras entrevistas, limitou-se a utilizar bordões liberais para cativar um empresariado carente de liderança e de projetos. Mas seu universo é o da militância do Judiciário. De certo modo, ele representa para o juizado de primeira instância o que Bolsonaro representa para a baixa oficialidade das Forças Armadas: o sujeito que, graças à política conseguiu se sobrepor a todos os sistemas de auto-controle baseados na hierarquia.

Assim como com Bolsonaro, empresários serão acessórios. E o mercado e Congresso serão comprados com grandes negócios públicos e verbas secretas do orçamento. Em um momento em que a explosão da fome desperta um sentimento nacional de solidariedade, Moro carrega o passivo de ter destruído uma cooperativa de pequenos agricultores paranaenses, mandado alguns deles para a prisão, baseado em mero preconceito social.

Mais do que Bolsonaro, Moro representa o pior da classe média brasileira, o preconceito social acendrado, a ambição de se beneficiar das prerrogativas de poder, o conhecimento superficial da economia, a total falta de dimensão pública e de visão nacional e uma ignorância sólida, ampla de qualquer tema contemporâneo.

Chega de desgraça: não bastasse o horror da pandemia, agora vem o ex-juiz Moro candidato

Mas é o símbolo maior da mediocrização da disputa política nacional. Desde que o PT ocupou o centro-esquerda e o PSDB abandonou qualquer veleidade de formulação programática, o único discurso alternativos foi o do anti. Não se constrói um projeto de país, ou uma candidatura, manobrando apenas o anti.

Nesses anos todos, dispondo do megafone dos grandes grupos de comunicação, a oposição não avançou um centímetro na disseminação da conceitos de saúde, educacionais, na discussão de modelos de desenvolvimento e sequer dos dogmas econômicos – que estão sendo revisados internacionalmente. Como consequência, a disputa para a terceira via se resumiu ao anti: alguém que fosse anti-Bolsonaro e anti-Lula, mesmo sem ter uma ideia sequer na cabeça.

O único candidato com conteúdo – Ciro Gomes – é um desastre completo na estratégia política. Autodestruiu-se antes de começar o jogo, tentando ocupar o lugar do anti-lulismo, mas com ideias que conflitavam com os interesses do mainstream. Julgou que o anti-lulismo fosse uma peça solta, com vida própria. Jamais se deu conta de que se trata de uma estratégia de marketing do mercado, para garantir seus privilégios. O sistema valeu-se de Ciro para desgastar Lula, e já começou a descarta-lo, agora que o antilulismo encontrou sua melhor tradução, o próprio Moro.

Daqui até as eleições, muita água ira correr. Mais do que em qualquer outro período da história, mais do que no final do governo Sarney, no início da redemocratização, o jogo político está completamente embolado. Há Lula como galvanizador do chamado pensamento progressista, mas ainda vacilando no discurso.

Até agora, por  exemplo, não explicitou ponto centrais do próximo governo, a política econômica, o temor reverencial pelo mercado, o “republicanismo” ingênuo. De um lado, mostra sabedoria, não antecipando conflitos. De outro, traz dúvidas: repetirá os mesmos erros dos primeiros governos, as mesmas concessões, ou já tem ideias mais claras sobre os obstáculos ao crescimento e à democratização?

E tudo isso em meio a uma completa subversão das instituições, com Arthur Lira sequestrando o orçamento, Ricardo Barros comandando a distribuição do butim, a Polícia Federal boicotando ordens do Supremo, o Partido Militar se infiltrando em todos os poros da atividade civil.

Com ou sem rumo, as eleições de 2022 serão decisivas para o futuro do país. Provavelmente, serão as eleições mais decisivas da história.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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