Utiliza-se o termo “síndrome de Estocolmo” para descrever uma experiência psicológica paradoxal na qual se desenvolve um vínculo afetivo entre os reféns e seus captores.
Apesar de existirem muitos estudos com respeito a suas características, os especialistas parecem coincidir no fato de qualificar a síndrome como uma resposta natural de sobrevivência diante uma situação na qual a vítima não só carece do controle sobre seu entorno, mas além disso, tenta se adaptar a ele.
No nível coletivo, poder-se-ia aplicar esta patologia a certas nações nas quais se produz uma situação de excessiva violência a partir do poder, contra uma população incapaz de reagir para defender seus direitos, a qual torna a outorgar o mando uma e outra vez àqueles que a submetem.
Reprodução: Winkimedia
Utiliza-se o termo “síndrome de Estocolmo” para descrever uma experiência psicológica de controle paradoxal
Talvez o laço afetivo seja algo que não se desenvolva no marco das relações povo-governo, mas sem dúvida se produz uma forma de aceitação passiva e resignada ao comportamento abusivo, discriminatório e destrutivo daqueles que possuem as rédeas do poder político-econômico e cujo desempenho na governança tem todas as características de um sequestro; apoderar-se dos mecanismos jurídicos para cometer toda classe de violações aos direitos da cidadania, tirando dela qualquer possibilidade de defendê-los mediante manobras espúrias e a aplicação de métodos repressivos e armadilhas legais.
As circunstâncias que tornam possível a tomada do poder político por parte de indivíduos corruptos e carentes de visão têm muito a ver com a manipulação dos recursos públicos com objetivos ilegais e ilegítimos; mas também com a infiltração de supostas doutrinas religiosas, cuja missão é impedir o empoderamento cidadão e que constituem um poderoso aliado.
Deste modo, consegue-se rebaixar de maneira sistemática as expectativas de desenvolvimento e sobrevivência de grandes setores da população, que por fim aceitam como algo natural outorgar, não só sua aprovação, mas também suas riquezas.
Como regalo adicional, alimentam o poder de seus captores com absoluta submissão.
Em sociedade com estas características – onde predomina a atitude passiva e resignada diante do abuso sistemático – é duplamente complicada a consolidação de movimento coletivos organizados tendentes a desarticular os mecanismos opressores.
Por um lado, por um temor arraigado e instalado na consciência coletiva sobre os riscos implícitos a tudo aquilo que se assemelhe à rebeldia, e como consequência, à destruição do inimigo, mas também porque o sistema submete a população a um regime elementar de sobrevivência.
Portanto, ela agradece qualquer concessão às suas necessidades, mesmo que não cheguem sequer ao mínimo estabelecidos em leis e tratados.
Na atualidade, com um cenário pavoroso de restrições e perdas humanas provocadas pela entrada de um vírus mutante – cuja origem é ainda tema de controvérsia e manipulação informativa – são muitos os países do nosso continente os submetidos a regimes políticos cujas autoridades se movem em um terreno pantanoso e contrário aos seus marcos institucionais.
Diante disso, poucos são os cidadãos comprometidos a exercer um papel ativo e de fiscalização, o que permite os excessos de organizações e indivíduos cujos objetivos estão enfocados em manter um férreo controle sobre povos e bens públicos, diante do olhar cúmplice da comunidade internacional e de seus reféns dentro das fronteiras.
Abaixar a cabeça é uma de nossas piores falências como sociedade.
Carolina Vásquez Araya, Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava
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