As questões ambientais no sudeste brasileiro precisam ser analisadas na complexidade mais ampla do território. A chamada “crise ambiental” é uma crise do modo de produção e consumo, do modelo de crescimento, desenvolvimentista adotado no País durante muitas décadas. Existem componentes naturais para a situação vigente, mas a aceleração dos processos tem sido resultado das práticas socioeconômicas.
O modelo de exploração dos territórios tem se estabelecido na abertura de novas áreas para produção agropecuária, expansão de áreas urbanas, implicando em desmatamentos, queimadas e ocupação de áreas muitas vezes inóspitas para habitação e impactos sobre a disponibilidade hídrica e energética. O avanço sobre os biomas tem sido parte absoluta do modelo que se estabelece no Brasil, sem recuperação das imensas áreas degradadas.
A produção de energia elétrica no Brasil tem se firmado na concepção da hidroeletricidade. Quando se aventa a existência de uma crise hídrica, por falta de águas, imediatamente isso pode ser associado a crise energética. Em verdade, na maior parte das vezes por gestão inadequada dos territórios e dos escoamentos pluvio-fluviais para atender os interesses da produção hidroelétrica.
O atual modelo de exploração da natureza, fundamentado em concepção capitalista, antropocêntrica, consumista da vida, é extremamente depredador, precisa ser repensado, com vistas à sustentabilidade socioambientalmente.’
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Grandes áreas desmatadas e submetidas a depredação de biomas são abandonadas gerando impactos negativos como a quase destruição da vegetação do Cerrado. É indispensável a proteção dos grupos humanos que integram e vivem nesses biomas como os povos originários, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, gi(ci)ganos, povos tradicionais e povos de terreiro entre outros grupos, verdadeiras riquezas do ponto de vista humano e cultural.
Essas pessoas são verdadeiras protetoras do meio ambiente, pois nele vivem e se sustentam. Só a proteção dos biomas “per si”, garante a integridade e o olhar sistêmico. Nos governos há discursos de preservação ambiental que não se sustentam na prática cotidiana, mostrando a ineficiência de uma visão mercadológica para os componentes da natureza, transformados em Recursos Naturais.
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Os governos Federal e Estaduais que se instalaram no Brasil com as eleições de 2022 precisarão se dedicar a esse tema com muita dedicação.
Questões ambientais do sudeste brasileiro
O sudeste brasileiro tem obrigações socioambientais no uso de seus biomas e seus territórios, com fins de preservação e valorização das diversas formas de vida.
Não é possível entender a complexidade dos problemas ambientais vividos sem pesquisar e contestar o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil. O capitalismo, travestido de neoliberalismo, é altamente destruidor dos componentes da natureza e das relações humanas de trabalho. O futuro terá que transitar para o ecossocialismo.
O desmatamento e as queimadas na Amazônia têm reduzido os processos de evapotranspiração que alimentam os “rios voadores” assim chamados por pesquisadores da ciência e tecnologia. A umidade atmosférica pela evapotranspiração, na Amazônia, movimenta-se até os contrafortes da Cordilheira dos Andes e de lá especialmente para o Sudeste do Brasil, ocasionando importantes episódios de chuvas.
As queimadas e o desmatamento na Amazônia têm reduzido a disponibilidade dessa umidade atmosférica, ocasionando a mudança nos comportamentos das chuvas no sudeste brasileiro. A entrada do gado para “amansar” a Floresta Amazônica e sua utilização para entrada do agronegócio extensivo tem grande repercussão na vida do Brasil como um todo. Se por um lado desprestigia a vida dos povos amazônicos em geral, também gera repercussão negativa para o sudeste brasileiros pela modificação dos comportamentos meteorológicos.
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Da mesma maneira que o sudeste brasileiro não está isento dos debates sobre os desmatamentos, as queimadas e as consequências para os povos originários da Amazônia, também deve assumir responsabilidades pela gestão hídrica na Bacia do Rio Paraná.
É da junção do rio Paranaíba com o rio Grande que se forma o rio Paraná. Ainda procedem do território do sudeste importantes artérias fluviais que alimentam o rio Paraná, como rios Araguari, São José dos Dourados, Tietê, Aguapeí e Paranapanema. É por isso que quando se detecta redução de vazão no rio Paraná-Prata, imediatamente se estabelece uma relação com os rios que drenam o sudeste brasileiro.
É evidente que no sudeste brasileiro há repercussões negativas das degradações ambientais produzidas na Amazônia, assim como daqui procedem muitos dos impactos negativos contra o Cerrado, um bioma essencialmente brasileiro acarretando enormes perdas nas Bacias Hidrográficas do Sul do Brasil e da América do Sul.
Se estabelece uma relação umbilical entre as chuvas produzidas pelos rios voadores e procedentes da Amazônia com nossa obrigação de garantir água no sul do Brasil, Argentina e Uruguai, pelas vias hidrográficas da bacia do rio da Prata. A má gestão dos usos hídricos pode trazer consequências negativas para a quantidade e a qualidade dos rios, para nossos vizinhos.
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Os Estados do Sudeste brasileiro devem se dedicar ativamente aos debates nacionais para aprimorar a qualidade de vida na Amazônia, reduzir os desmatamentos e queimadas na Floresta, bem como adotar políticas que assumam a responsabilidade na produção de água para alimentar o rio Paraná.
A crise hidrelétrica que se apresenta neste momento no Brasil tem relação direta com a maneira como se dá o uso, a ocupação do solo e a gestão dos recursos hídricos. A política que define a gestão dos recursos hídricos é estreitamente ligada aos interesses econômicos dos seus usuários -setores que captam águas para produção de seus negócios, a exemplo da irrigação na agricultura, das indústrias, das hidroelétricas, do abastecimento e saneamento nas cidades, entre outros.
A priorização dos recursos hídricos para produção de energia elétrica tem sido um grave problema. Torna-se indispensável que o Brasil atue na Política Nacional de Energia para a diversificação da matriz elétrica com menos hidroeletricidade. O sudeste é largamente capaz de disponibilizar tal diversificação com energia solar, eólica e da biomassa.
É indispensável a redução no uso de energia elétrica gerada por fonte fóssil, a exemplo do petróleo, grande emissor de gases com consequências na aceleração das mudanças climáticas. É indispensável a dedicação com adoção imediata de planejamento e ações que cuidem do desenvolvimento de tecnologias para enfrentamento e quando for o caso, convivência com as mudanças climáticas.
Os governos Federal e Estaduais que se instalaram no Brasil com as eleições de 2022 precisarão se dedicar a esse tema com muita dedicação.
Cláudio Di Mauro é geógrafo e ex prefeito de Rio Claro, Sp.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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