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Liberdade e justiça são mais que meras palavras bonitas para imprimir em um cartaz

Não existe maior decepção que uma decisão injusta. Não há engano mais efetivo que nossos sonhos e esperanças, mas seguimos sonhando
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul Global
Cidade da Guatemala

Tradução:

O afã de perseguir uma fórmula precisa, indefectível e humana para ministrar justiça – em qualquer ordem da vida – haverá de cruzar por um beco povoado de ameaças, ambições e secretíssimos acordos. O resultado não pode ser mais que uma sanção torcida em benefício de quem tenha as melhores armas.

Não se refere unicamente às altas instâncias da administração de justiça. Este caminho pelo qual avançamos às cegas, inicia-se no seio do lar e continua sem pausa pelo percurso da escola, da vida social, do local de trabalho e de qualquer espaço onde desenvolvemos alguma atividade.

O conceito de justiça é universal e determina a aplicação de um princípio moral que rege a aplicação do direito, baseada na verdade, para dar a cada um o que lhe corresponde. É uma norma sustentada por quatro colunas fundamentais: equidade, igualdade, imparcialidade e liberdade.

Quando olhamos os sistema criados pelas instâncias políticas, sob cujos princípios são estabelecidos os códigos e se define a estrutura e os encarregados que administrarão seu cumprimento, essas colunas perderam sua solidez para ser substituídas por outras quatro: ambição, poder, discriminação, racismo.

É preciso educar a sociedade para proteger sistema judiciário e constituição guatemalteca

A partir desse quadro, observa-se o quanto influi na vida pessoal essa visão distorcida do valor da verdade no fato tão aparentemente simples de dar a cada um o que lhe corresponda. 

Durante os primeiros anos de vida -um ser humano é capaz de reter em sua memória experiências desde muito cedo – a atitude de pais e mães para com suas filhas e seus filhos é capaz de imprimir uma forma de conduta e uma perspectiva sobre a verdade e, como consequência disso, sobre as consequências de seus atos.

A partir daí começa o enfrentamento de um novo ser com o conceito de justiça, um aprendizado que permanecerá ao longo de sua vida.

Não existe maior decepção que uma decisão injusta. Não há engano mais efetivo que nossos sonhos e esperanças, mas seguimos sonhando

tribunal federal de justiça
De justiça e outras fábulas / A verdade deixou de ser um valor para se converter em utopia

Não existe espaço do desenvolvimento da existência onde um indivíduo não se enfrente a uma decisão dessa natureza e, cada vez que isso acontece, algo muda na percepção do que consideramos justo. No entanto, com frequência damos por indiscutível a pertinência de decisões que afetam não só o nosso entorno imediato, mas sim a grandes conglomerados humanos cujas vidas são postas em perigo, ao amparo das leis emanadas a partir de instâncias que supomos que respeitem os princípios já mencionados de equidade, igualdade, imparcialidade e liberdade. 

É então que é preciso desenrolar o novelo e buscar o início do fio, para compreender em que momento o direito e a justiça torceram seu caminho para se dedicar a beneficiar um setor privilegiado da espécie humana.

Sirva como exemplo o intrincado tecido das normas com base nas quais se desenvolve o comércio internacional e a proteção das marcas e patentes, cujos interesses estão por encima inclusive da autonomia dos países ou, para não ir tão longe, as leis que regulam e determinam – a partir de despachos oficiais ascéticos e alheios à dor humana – o destino de milhões de migrantes que buscam, nada mais e nada menos, sobreviver.

Vida humana é fator ausente nos planos geopolíticos de grandes potências

Não existe maior decepção que uma decisão injusta, seja no âmbito do lar, do centro educativo, do ambiente de trabalho ou em qualquer relação pessoal. No entanto, não há quem não tenha passado pela experiência em algum momento de sua vida.

Mas que essa decisão injusta proceda de uma instância encarregada de administrar a aplicação das leis – cuja sentença tem um peso definitivo – é um golpe muito mais duro. Estamos em tempos de profunda crise, onde a verdade é um bem negociável e a imparcialidade uma longínqua utopia. É um tempo no qual a igualdade deixou de ser um valor para se converter em um privilégio e a liberdade não é mais que uma bonita palavra para imprimir em um cartaz.

A verdade deixou de ser um valor para se converter em utopia.

Carolina Vasquez Araya, Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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