Pesquisar
Pesquisar

Traição à pátria: Para oposição, Pandora Papers deixa Piñera entre impeachment e renúncia

Ex-ministro de PiñeraEx-ministro de Piñera destaca que cidadãos querem transparência total: "É necessário ir além do que é legal e dar todas as explicações necessárias".
Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

A informação de que em 2010, durante seu primeiro governo, a compra e venda de 33% das ações do projeto Mineiro Dominga, pertencentes ao Presidente Sebastián Piñera, sua esposa e filhos, estava condicionada a não haver mudanças regulatórias que dificultassem a sua realização, provocou uma onda de reações no Chile, desde a intervenção da Procuradoria Geral da República até um provável impeachment constitucional para retirá-lo do cargo.

Ainda mais quando é público e notório que, em agosto de 2010, cinco meses após assumir, Piñera interveio para impedir a construção da termoelétrica à carvão Barrancones, muito próxima ao lugar onde se colocaria mineradora Dominga, o que supostamente aliviaria a pressão de movimentos ambientalistas na zona de La Higuera, na Região de Coquimbo, 600 quilômetros ao norte de Santiago, conhecida por sua fragilidade ambiental e por estar próxima a um ecossistema marinh protegido. 

‘A arte de crescer com capital alheio’: Pandora Papers revela negócios suspeitos de Piñera

Após a descoberta dos Pandora Papers, que delatam Piñera e seu sócio e amigo Carlos Alberto Délano fechando uma operação de compra-venda de ações por US$ 152 milhões no paraíso tributário de Ilhas Virgens, o Promotor Nacional do Chile, Jorge Abbott, ordenou à Unidade Anticorrupção que analise se os antecedentes merecem uma investigação penal sem querela nem denúncia prévia. Por exemplo, eventuais delitos tributários, negociação incompatível, tráfico de influências. 

A partir de todos os setores surgiram vozes exigindo explicações pelo que fez Piñera, conhecido por sua mania de misturar política e negócios, sempre à margem ou cruzando a fronteira dos conflitos de interesse, enquanto na oposição se considera um impeachment para que perca o cargo. 


As revelações do Consórcio Internacional de Jornalista Investigativos (ICIJ) publicadas no Chile pelos meios CIPER e LaBot, resenham que Délano — condenado em 2018 por delito tributário e financiamento ilegal de dirigentes e organizações políticas — comprou dos sócios suas participações em três prestações, a última condicionada a que a zona fosse declarado “zona de exclusão”, ou seja, que não pode ser alvo de intervenção por sua fragilidade ambiental e/ou social, que deverá ser protegida e estar sujeita a um tratamento especial.

O setor de La Higuera e de Punta de Choros onde teriam estado Barrancones e Dominga é, ao lado de Reserva Nacional Pingüino de Humboldt, um conjunto de oito pequenas ilhas onde habitam espécies protegidas. 

Piñera negou qualquer implicação, assegurando que a venda de Dominga não lhe foi consultada nem informada, que a justiça investigou o caso em 2017 e que estabeleceu sua inocência. 

No entanto, quando se fez essa investigação, não existia o dado conhecido agora sobre a condicionalidade do pagamento a que não houvesse mudanças regulatórias. 

 “Desde abril de 2009 e antes de assumir minha primeira presidência, eu me desliguei totalmente da administração e gestão das empresas familiares e de qualquer outra empresa em que tivesse participado. E adicionalmente e de forma voluntária, porque nesse tempo não existia nenhuma lei que o exigisse, constitui fideicomissos cegos para a administração de todos os ativos financeiros”, afirmou Piñera.

Pandora Papers: Só na América Latina, US$ 40 bilhões foram desviados para paraísos fiscais

Julgamento político e renúncia

Mas a explicações são insuficientes e inclusive não faltam vozes que se dirigem diretamente ao mandatário exigindo que renuncie imediatamente “por traição à pátria”. 

Gabriel Boric, candidato presidencial do esquerdista pacto Aprovo Dignidade e favorito nas pesquisas, disse que “a informação que acabamos de conhecer é gravíssima. Sebastián Piñera evade impostos em paraísos fiscais, oculta informação relevante e, além disso, sempre privilegia seu interesse pessoal sobre o bem comum”; enquanto Yasna Provoste, do centrista Novo Pacto Social (ex-Concertação), disse que “é inconcebível que um Presidente da República aja em benefício próprio freando a proteção ambiental em La Higuera, para assegurar um benefício pessoal”. 

Chile | “Com menos de 10% de aprovação, governo Piñera já acabou”, pontuam analistas

Inclusive o candidato oficialista Sebastián Sichel, um ex-ministro de Piñera e que perde pontos nas pesquisas, publicou nas redes sociais que “em relação aos Pandora Papers, os cidadãos estão nos pedindo transparência total. E, neste caso, é necessário ir além do que é legal e dar todas as explicações necessárias”.

A Mineradora Dominga, que prevê produzir 12 milhões de toneladas anuais de ferro e 150.000 de cobre durante 26 anos e meio, demanda um investimento de dois bilhões e 500 milhões de dólares.

Aldo Anfossi, Especial para La Jornada desde Santiago do Chile

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na Tv Diálogos do Sul

 

   

Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Aldo Anfossi

LEIA tAMBÉM

Biden tira Cuba da lista de terror e suspende algumas sanções (3)
Biden tira Cuba da lista de terror e suspende algumas sanções; analistas avaliam medidas
Tensões criadas por Trump impõem à América Latina reação ao imperialismo
Trump exacerba as contradições entre EUA e América Latina
Política fracassada Noboa mantém Equador como país mais violento da América Latina
Política fracassada de Noboa mantém Equador como país mais violento da América Latina
Venezuela Maduro reforça poder popular, desafia oligarquias e combate o imperialismo (2)
Venezuela: Maduro reforça poder popular, desafia oligarquias e combate o imperialismo